
Ainda assim o crescimento da produção de borracha na Amazônia nesse período foi infinitamente menor do que o esperado. O que levou o governo americano, já a partir de 1944, a transferir muitas de suas atribuições para órgãos brasileiros. E tão logo a Guerra Mundial chegou ao fim, no ano seguinte, os EUA se apressaram em cancelar todos os acordos referentes à produção de borracha amazônica. O acesso às regiões produtoras do Sudeste Asiático se achava novamente aberto e o mercado internacional logo se normalizaria.
Terminava a Batalha da Borracha, mas não a guerra travada pelos seus soldados. Imersos na solidão de suas colocações no interior da floresta, muitos deles nem sequer foram avisados de que a guerra tinha terminado, e só viriam a descobrir isso anos depois. Alguns voltaram para suas regiões de origem exatamente como haviam partido, sem um tostão no bolso, ou pior, alquebrados e sem saúde. Outros aproveitaram a oportunidade de criar raízes na floresta e ali construir suas vidas. Poucos, muito poucos, conseguiram tirar algum proveito econômico daquela batalha incompreensível, aparentemente sem armas, sem tiros e que produziu tantas vítimas.
Pelo menos uma coisa todos os soldados da borracha, sem exceção, receberam. O descaso do governo brasileiro, que os abandonou à própria sorte, apesar de todos os acordos e das promessas repetidas antes e durante a Batalha da Borracha. Só a partir da Constituição de 1988, mais de 40 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os soldados da borracha ainda vivos passaram a receber uma pensão como reconhecimento pelo serviço prestado ao país. Uma pensão irrisória, dez vezes menor que a pensão recebida por aqueles que foram lutar na Itália. Por isso, ainda hoje, em diversas cidades brasileiras, no dia 1º de maio os soldados da borracha se reúnem para continuar a luta pelo reconhecimento de seus direitos. A comparação é dramática: dos 20 mil brasileiros que lutaram na Itália, morreram somente 454 combatentes. Entre os quase 60 mil soldados da borracha, porém, cerca da metade morreu durante a guerra.
(*) Marcus Vinícius Neves é historiador e presidente da Fundação de Cultura do Município de Rio Branco. O artigo foi publicado originalmente na revista História Viva, de junho de 2004, tendo recebido uma péssima edição na web. As fotos que ilustram o texto no blog pertencem ao acervo do Museu de Artes da Universidade Federal do Ceará e ao acervo digitalizado do Memorial dos Autonomistas do Acre.
Um comentário:
Essa é a nossa história. A história do nosso país. E o professor Marcus é uma dessas pessoas que valorizam o nosso passado e o passado do Acre. Hoje ele é uma das principais fontes de informação quando o assunto é o Acre para o Jornal da Amazônia e para Rádio Nacional da Amazônia. Abraços professor.
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