quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Imac investiga usina Álcool Verde por queima de canavial em Capixaba

Queimadas no Acre são as principais fontes de fumaça em Rio Branco nos últimos três dias, diz pesquisador Foster Brown


O Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) abriu investigação contra a Álcool Verde, usina que opera no município de Capixaba, a 70 quilômetros de Rio Branco, suspeita de ter contribuído pesadamente na produção da densa nuvem de fumaça que domina a paisagem da capital do Acre nos últimos três dias.

As imagens de satélite registram centenas de focos de calor na área da Álcool Verde e no seu entorno, em propriedades que foram arrendadas pela usina para plantio de cana. O presidente do Imac, Paulo Viana, confirmou a investigação e o envio de uma equipe de agentes de fiscalização para a região.

O Imac quer saber se a Álcool Verde foi realmente responsável pelo fogo no canavial. O órgão obteve, de moradores do entorno da usina, informações de que a empresa realizou queima para limpeza da cana.

— Esta prática é proibida, pois o licenciamento ambiental do empreendimento estabelece que a colheita da cana tem que ser obrigatoriamente mecanizada - afirmou o presidente do Imac.

Paulo Viana disse que a usina possui mais de mil hectares de cana plantada e que os técnicos do Imac vão quantificar o tamanho da área queimada.

— Temos que apurar a responsabilidade de quem fez a queima. A fumaça da cana queimada em Capixaba tem contribuído pesadamente para a concentração de fumaça em Rio Branco - acrescentou Viana.

A reportagem não conseguiu localizar o gerente da usina Álcool Verde, que pertence ao Grupo Farias e conta com investimento financeiro do governo do Acre.

Fontes de fumaça


O pesquisador norte-americano Foster Brown, do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazonia (LBA) e da Universidade Federal do Acre, considera importante que seja quantificado o total da área queimada pela usina.

— Há registros nas imagens dos satélites da ocorrência de dezenas de focos de calor naquela região. A partir disso, será necessário estimar quanto foi relacionado com a queima de cana e quanto por outros motivos. Precisamos saber como foi afetado e por quê foi afetado.

Na avaliação do pesquisador, Mato Grosso, Rondônia e Bolívia contribuem com fumaça deslocada para o Acre. Porém, assinala Brown, nos últimos três dias as queimadas locais foram as principais fontes de fumaça.

— Os satélites mostram claramente uma área, a 40 quilômetros de Rio Branco, entre os municípios de Senador Guiomard e Capixaba, com dezenas de focos de calor. Além disso, as imagens mostram o vento deslocando nuvens de fumaça daquela área em direção a Rio Branco.

Brown acrescentou que uma evidência de que a maioria da fumaça que se concentra em Rio Branco é produzida por queimadas dentro do Estado são suas altas concentrações durante as manhãs.

— Mas esse tipo de avaliação ou inferência muda como as nuvens e precisa ser feita diariamente. Nesta sexta-feira, por exemplo, o cenário poderá ser outro completamente diferente, a depender de onde está queimando e da direção e velocidade do vento.

Brown disse que a fumaça em Rio Branco nos últimos três dias tem três fontes. A primeira delas são as queimadas dentro e na periferia da cidade, que gera fuligem, sendo que a fumaça varia em densidade em algumas centenas de metros.

- Isso ocorre frequentemente de noite e a inversão térmica piora a situação. A fumaça de queimadas noturnas tipicamente acumula na camada mais baixa da atmosfera - explicou.

A segunda fonte de fumaça são as queimadas fora de Rio Branco, mas dentro do território do Acre, segundo o pesquisador, com densidade mais uniforme, com pouca ou nenhuma fuligem.

— A terceira fonte de fumaça são as queimadas fora do território do Estado. É possível, mas sofre do processo de diluição durante o transporte por centenas de quilômetros.

Um comentário:

Morador de Capixaba disse...

Além do uso de fogo para colheita da cana, observado pelos moradores do Município, vemos ainda que os caminhões de transporte andam com a carga acima do permitido, já que eles não utilizam lonas para conter a queda do material na BR, o que pode contribuir para acidentes fatais. A mesma denúncia foi feita ano passado ao Ministerío Público do Meio Ambiente, inclusive com envio de fotos para comprovação, no entanto, parece não ter surtido efeito ou não foi tomado nenhuma procedimento, vez que a Empresa continua fazendo uso do fogo, para colheita da cana.