domingo, 24 de agosto de 2014

Marina 'Biorana' Silva

Na noite deste sábado (23), no Recife, Marina Silva se comparou à uma biorana, árvore da Amazônia, ao alertar que a campanha dela será alvo de muitos ataques:

- O pessoal diz 'a Marina é magrinha', 'é fraquinha'. Sou magrinha… Mas venho da Amazônia. Tem uma árvore lá chamada biorana. Tem a Biorana branca e a preta. A biorana preta não fica tão grossa. Mas experimenta bater com um machado. Sai faísca mas ela não verga.

Marina já havia falado da biorana em outubro de 2010, quando a entrevistei (leia) para o portal Terra e perguntei se valeu a pena sair do Seringal Bagaço apenas com um saco de pano nas costas e poucas mudas de roupas dentro, controlando-se para não chorar, para começar a sua trajetória como empregada doméstica. Ela respondeu sem conter a emoção:

- Eu sinto gratidão a Deus e a todas as pessoas que me ajudaram, a todas as pessoas que encontrei e que me encontraram, que formei e que me formaram. Eu sabia que não podia brincar em serviço nas oportunidades que me foram dadas. Eu sabia que as oportunidades não poderiam ser desperdiçadas com coisas que não valem a pena. Hoje, quando olho para aquela menininha do Seringal Bagaço, lembro da vertente onde eu e minha avó, por volta das 16h, íamos encher nossas bilhas e tomar banho em água gelada e cristalina, embaixo da sombra de um pé de pama, de um pé de toari que tinha mais adiante, de uma castanheira, de uma aquariquara, de uma biorana e de uma maçaranduba. Lembro delas como se fosse hoje. Minha avó me banhava, penteava meus cabelos... Aí uma pama caía bem no meio da minha cabeça sujando tudo. Ela lavava de novo meus cabelos e eu reclamava do frio. Aí a gente voltava pra casa. Às 18h eu já estava pronta para dormir com uma camisolinha que ela mesmo fazia para mim, de tecido morim. Ela me botava de joelhos, com as mãozinhas postas, e me ensinava a fazer uma oração que eu nunca esqueço, que era mais ou menos assim: pedir a Deus pela minha família, pelo meu pai, pelas minhas irmãs. Depois eu rezava o Pai Nosso. A oração terminava assim: "Papai do céu, abençoai a minha família e me dai inteligência para o bem. Em nome de Jesus, amém". (Pausa e choro). Isso ficou e é fonte de força, de uma profunda convicção de que essa coisa maravilhosa que Deus nos deu, chamada de inteligência, não pode ser desperdiçada em maquinar o mal, ainda que ele esteja presente e faça parte de nossa natureza. O bem é um investimento, uma prioridade, uma afirmação, uma escolha, o que pressupõe trabalhar para construir aquilo que você escolheu. Eu fui fazendo escolhas aparentemente impossíveis. Você me pegou de surpresa ao fazer me lembrar disso e agora eu respondo: valeu a pena ter deixado aquela família, sem conseguir olhar para trás, adiando o choro dentro do ônibus até que ficasse escuro para que eu pudesse chorar e ninguém me visse chorando. Tudo valeu a pena porque hoje eu posso sorrir e dizer que aquelas lágrimas semearem muita esperança para mim, para minha família e para os ideais que eu acredito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei a sua publicação, muito bem conduzida. Tambem me identifico com os ideais de Marina. Vou compartilhar, ok? Abraços