domingo, 7 de julho de 2013

Pensar qualidade em educação parece discurso que se perde no vazio

POR GRASSINETE OLIVEIRA

A palavra professor vem do latim e significa, no sentido mais simples da palavra, professar algo a alguém, “declarar publicamente uma convicção ou um compromisso de conduta”, ou seja, professor é a pessoa que se declara apta para fazer algo, no caso ensinar. Talvez por isso, nessa modernidade liquida, a palavra tenha sido substituída por mediador, isto é, aquele que medeia o conhecimento; que está no meio entre o conhecimento e o aluno, o que, para o psicólogo Lev Vygotsky, tem o sentido de ajudar a criança a concretizar conhecimentos científicos que ela não atingiu sozinha e precisa do par mais experiente para interceder e consolidar esses saberes.

Atualmente, em quase todos os cursos de graduação, de formação continuada, reuniões pedagógicas tornou-se comum ouvir que temos que relacionar os conteúdos compartimentalizados de modo interdisciplinar e aproveitar os saberes múltiplos dos alunos e transformá-lo em algo significativo, concreto e que seja capaz de levar o educando a reinterpretar conceitos considerados consolidados.

A literatura vigente sugere que os conhecimentos prévios dos alunos devem ser sempre considerados, pois estes não vêm para a escola sem uma realidade vivenciada, não são mentes vazias e faz-se urgente promover uma educação de qualidade. Concordo plenamente com tais abordagens, mas ultimamente, percebo que venho refletindo sobre o que significa a tão falada, por parte dos Manifestantes Brasil afora, do Governo, dos Pais, Alunos, Professores, População em geral, educação de qualidade.

O professor Luís Carlos de Menezes sugere que, ao promover a aprendizagem, somos capazes de assegurar a admiração dos jovens interlocutores e o respeito às nossas fragilidades. Nesse sentido, uma educação de qualidade deve estimular no educando, a curiosidade, a vontade de querer descobrir o que há por trás das letras, a decodificar o que está escrito, a relacionar os saberes, a pensar no seu papel perante a sociedade e, talvez, o mais importante deve aprender sobre cidadania, compromisso, respeito, ética. Palavras vãs, que não têm significado concreto, já que vivemos em uma sociedade onde o ter vale mais do que o ser; onde as identidades são fragmentadas e passam como ondas; onde o acesso à informação está intimamente ligado ao nosso corpo (pelos celulares, tabletes, entre outros), mas não assimilamos e/ou nos apropriamos desse conhecimento de forma realmente eficaz.

Esses estímulos, aparentemente, parecem não estar diretamente ligados às faltas que tanto se apregoa nas reuniões e que não se chega a consensos satisfatórios. As faltas estão tornando-se mais importantes do que o ser. Afinal, quem não gostaria de ter nas escolas uma estrutura física de primeiro mundo com salas de aula climatizadas, ferramentas tecnológicas com sala de informática que funcione, laboratório de ciências, auditório, quadra poliesportiva e sala de multimídias, só para citar alguns. Quem gostaria de viver com medo de chegar à sala de aula, pois os docentes não sabem como agir diante de um surto de violência dos alunos; de ter de ministrar aulas com salas superlotadas; com muitas famílias desestruturadas e que não participam da vida escolar do filho e com as faltas, a falta de uma merenda escolar mais apropriada, a falta de incentivo ao professor, a falta de gerenciamento apropriado da gestão escolar, a falta de políticas públicas mais eficazes do governo, enfim, as faltas.

Bem, o Gigante acordou e explode em todo o Brasil os mais diferentes manifestos e greves pedindo justamente as faltas: segurança, saúde, transportes, moradia, seriedade dos nossos governantes, fim de pedágios, transparência nas contas públicas, saneamento básico, reforma política, emprego e, claro, educação. Tudo com qualidade.

Qualidade. Costumo dizer aos meus alunos que muitos de nós falhamos em promover uma educação redentora, no sentido de libertação do pensamento, pois se o fizéssemos, provavelmente, muitos dos problemas sociais seriam minimizados, não extintos, o sistema não permite tal proeza. Estaríamos ensinando o real significado de palavras como compromisso, responsabilidade e qualidade. Qualidade no pensar, no agir, no propor, indagar, contra-argumentar, no compreender o porquê das mazelas sociais que afligem grande parte da humanidade.

Enfim, o sociólogo Zygmunt Bauman delineia que nessa sociedade pós-moderna, onde a sociedade é construída na ética do consumo, não há como levar em consideração a identidade pessoal do sujeito; não há tempo para a coletividade, pois a marca contemporânea é a individualidade que não se apega às coisas e pouco firma acordos. O professor Luiz Carlos de Freitas também mostra que é um período de incertezas, no que diz respeito ao campo científico e político, pois as teses pós-modernistas esvaem-se nas preocupações globais, fragmentam o global e compreendem o mundo como uma questão “local”.  Nesse mundo desterritorializado, onde as fronteiras tornaram-se “invisíveis”, pensar em qualidade em educação ou em qualquer que seja, parece um discurso que se perde no vazio, que não se completa e que, dificilmente, se concretiza.

Professora de língua portuguesa na rede estadual de educação  e coordenadora de área de linguagem e códigos numa escola particular.

5 comentários:

sorayaalves disse...

Percebo em suas palavras professora,a mesma angústia vivenciada por muitos de nós educadores que buscam a tal "qualidade", no ensino, nas estruturas, nos nossos profissionais, nas gestões e etc. Muitas faltas, muito o que fazer, pois bem e o que fazer? Encontrar práticas educacionais que dialoguem com o cotidiano dos nossos alunos é o grande desafio do século, como fazê-los querer?como fazê-los encontrar significados se muitos deles não possuem o menor estímulo em seus lares?Tarefa difícil, qualidade, uma palavra difícil de ser praticada em um país em que as desigualdades, a corrupção, a morte de pessoas em hospitais por falta de equipamentos tornaram-se fenômenos naturais. É minha gente, um país não é feito apenas de lindos estádios e grandes espetáculos, queremos sair do mundo das aparências queremos qualidade de fato. Soraya Alves, professora da rede de Ensino Estadual e Partucular de Rio Branco.

Unknown disse...

Não acredito que haja alguma saída para a implementação de uma real qualidade na Educação se não for realizado uma revolução estrutural. Digo, pra começar,a federalização, tirar desses milhares de prefeitos corruptos e incompetentes a responsabilidade de educar. Outra coisa, é a hipocrisia da grade curricular, como pode "impor" ao aluno analfabeto funcional uma infinidade de matérias que não lhes dizem nada...Sociologia, Filosofia, Psicologia e uma penca de outras, tirando um tempo preciosíssimo para cálculos,Português, História...Dever-se-a orientar o ensino para as reais necessidades de sua inserção na sociedade tão carente de profissionais para o desenvolvimento sustentável. Será que essas milhares de famílias famélicas beneficiárias dos "bolsas famílias" não saem dessa situação? Temos todos as variáveis econômicas para nos desenvolver: recursos naturais, capital e mão-de-obra, o que falta? Educação!

cairo_ disse...

Caro Unknown.

Tirar do currículo "coisa desnecessárias", ao meu ver quebra a proposta educacional de formar pessoas pensantes, que tenham a capacidade de reflexão, pois sem essas matérias o ensino fica fadado ao tecnicismo e a criação de mão-de-obra. A escola deve formar para a vida em totalidade, e não somente para o trabalho, sem a mínima capacidade de crítica do mundo que as rodeia.

Leidi Rosas disse...

COMPROMISSO, RESPONSABILIDADE E QUALIDADE - O LUGAR eleito para essas três palavrinhas brilharem, sempre será LIMPO. Isso vale para cidades, países, coisas em geral e pessoas também.É necessário ânimo e otimismo!
Líderes que não correspondam com a moralidade deverãi ser substituídos para que o progresso chegue. O verdadeiro progresso da humanidade vem com o crescimento moral.(Leidimar Rosas, professora)

Leidi Rosas disse...

COMPROMISSO, RESPONSABILIDADE E QUALIDADE - O LUGAR eleito para essas três palavrinhas brilharem, sempre será LIMPO. Isso vale para cidades, países, coisas em geral e pessoas também.É necessário ânimo e otimismo!
Líderes que não correspondam com a moralidade deverãi ser substituídos para que o progresso chegue. O verdadeiro progresso da humanidade vem com o crescimento moral.(Leidimar Rosas, professora)