sexta-feira, 26 de abril de 2013

Fogo castiga área verde mais importante do ambiente urbano de Rio Branco

POR ROBERTA GRAF



Diariamente, vêm pessoas à minha casa, como moradora, fundadora e conselheira da Área de Proteção Ambiental (APA) Raimundo Irineu Serra, e como gestora ambiental. Vêm para reclamar contra a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia), que a APA não está cumprindo minimamente seu papel. E eu preciso, fazer o que estão me pedindo, embora, como conselheira, já tenha mandado alguns ofícios sem nem obter ao menos resposta.

Mal o verão amazônico começou, já ocorreram três incêndios de grande porte na mata área . Muito bom para uma unidade de conservação ambiental, não? E nós estamos dentro da cidade e bem pertinho da sede da Semeia. Por que tanto abandono?

Solicito, em caráter de urgência, algum exame de perícia de fogo no local (sei que existem alguns peritos nisto aqui em Rio Branco) para tentar ver de onde o fogo começou e pensar em medidas para impedir novos incêndios. Vou tentar ver isto aqui no Ibama, mas é necessário que a Semeia solicite formalmente, e logo, pois a perícia tem que ir imediatamente após a queimada. Deve haver peritos no Instituto de Meio Ambiente do Acre e Corpo de Bombeiros - no Ibama creio que só existe um, que está viajando no momento.

Não sei porque os Bombeiros demoram tanto  para vir aqui dentro da cidade, apagar um fogo na beira da estrada. Ontem,  nossos brigadistas voluntários Irineu Cunha e Cleyton Cunha, os únicos que dispomos na APA, foram sozinhos com os equipamentos doados pelo Ibama apagar o fogo por volta das 23 horas. Isso não é possível continuar.

Ademais, volto a dizer que a nossa APA continua totalmente abandonada pelo órgão gestor, a Semeia. Tudo bem, sabemos: "tudo é difícil, falta dinheiro, isso e aquilo", mas tem limite. A APA já vai completar oito anos em junho. Até a primeira versão do Plano de Gestão ainda não foi oficializada. Aliás, apresentei uma densa análise a respeito cujo prazo era apertado (15 dias úteis logo junto ao Natal), há muito tempo (15 de janeiro) e nada de haver nem uma reunião de Conselho, nem ordinária, nem extraordinária, que até mereceria. Esta versão, inclusive (coisa que não fiz a análise) continha, ainda, numerosos erros de português, além dos erros e omissões técnicas (não muitos, mas alguns importantíssimos).

Da Semeia, Corpo de Bombeiros e demais órgãos envolvidos, precisamos de ação urgente e efetiva contra as queimadas e incêndios, e, claro, da comunidade: Associação de Moradores. Infelizmente, no Brasil, não dispomos de cultura de voluntariado, nem mesmo de ação comunitária organizada e na APA não fugimos à regra, ainda que sejamos, sim, um público unido por uma causa espiritualista - às vezes não parece. Somos engolidos pelo sistema capitalista escravizante como todo mundo.

Não aguentamos mais o lixo despejado na beira da nossa estrada diariamente, há muitos anos, em especial de couro e ossadas de boi, de algum açougue ou frigorífico. Não é possível que os órgãos ambientais não consigam pegar o infrator diário há mais de cinco anos. Como diz Antonio Alves, tem dia que nos sentimos até ameaçados por uma revolução de mais de uma centena de urubus no meio da estrada.

Não queremos aqueles loteamentos "Minha Casa Minha Vida" da Dilma no nosso entorno, precisamos nos mobilizar e ter força política para tentar impedí-lo. Este, além de trazer impactos ambientais seríssimos à área verde mais importante do ambiente urbano de Rio Branco, causará, sem dúvida, impactos sociais negativos como criminalidade (da qual, hoje ainda, graças a Deus, estamos praticamente livres) e sobrecarga nos já carentes serviços públicos.

É preciso com urgência embargar ou adequar os loteamentos recentes dentro da APA, todos clandestinos. Precisamos de tudo o mais: presença básica, efetiva e crescente da Semeia, melhoria do Conselho, adequação e implementação do Plano de Gestão. Precisamos que a APA saia do papel.

Roberta Graf  é engenheira florestal

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