segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ENSINO DA MEDICINA NO ACRE E NO BRASIL

Thor Dantas

O Ministério da Educação, através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), divulgou no Diário Oficial da União de quinta-feira (17), os resultados dos conceitos que compõem o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), para o ano de 2010.

Compõem o rol dos indicadores do SINAES o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos (IGC). O Enade representa a avaliação do desempenho dos estudantes, através da medida de conhecimentos dos que estão entrando e saindo dos cursos de graduação. O CPC representa a avaliação global do curso e o conceito leva em consideração, além dos resultados do Enade, a infraestrutura da escola, o corpo de professores e o projeto pedagógico. O IGC representa a média ponderada do desempenho dos diversos cursos avaliados em uma determinada instituição. Os conceitos destes indicadores variam de 1 a 5. Os conceitos 1 e 2 são considerados insuficientes, o conceito 3 é considerado satisfatórtio e os conceitos 4 e 5 são considerados bons.

Em 2010 foram avaliados 4.143 cursos em todo País das seguintes áreas: Agronomia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Zootecnia, além de cursos tecnológicos de Agroindústria, Agronegócios, Gestão Hospitalar, Gestão Ambiental e Radiologia.

O curso de Medicina da Universidade Federal do Acre (UFAC) recebeu conceito 4-3, isto é: 4 no Enade (desempenho do aluno) e 3 no CPC (condições gerais do curso). Tiveram exatamente o mesmo desempenho que a UFAC (4-3) os cursos de Medicina da PUC de Campinas (PUCAMP), Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), e as Universidades Federais do Amazonas (UFAM), Bahia (UFBA), Fluminense (UFF), Rio Grande do Norte (UFRN), Piauí (UFPI), Roraima (UFRR), Mato Grosso do Sul (UFMS), Pelotas (UFPel), Pernanbuco (UFPE), Paraíba (UFPB), para citar alguns exemplos.

Tiveram desempenho inferior a UFAC, com 3-3, os cursos de Medicina das: Universidade Católica de Brasília; PUC de Goiás; PUC de Sorocaba; Universidade de Marília; Universidade Estadual do Amazonas; e Universidades Federais do Pará (UFPA) e do Maranhão (UFMA), também para citar apenas alguns exemplos. A Universidade Estadual do Pará recebeu 3-2. Faculdades particulares tradicionais do Rio de Janeiro, com altas mensalidades e longo tempo de existência, como Petrópolis, Teresópolis e Gama Filho receberam 2-3. Nossa vizinha Faculdade São Lucas em Rondônia recebeu 2-2.

Estes são apenas alguns exemplos dentre as inúmeras avaliações de cursos listadas no documento final. Como o Enade avalia diretamente o aluno este pode ser entendido, dentre os indicadores do SINAES, como o indicador de resultado propriamente dito. O que se deseja, em última instância é a qualidade do aluno formado. O CPC por seu lado, apesar de ser um indicador misto, com uma “pitada” de resultado (o conceito do Enade), pode ser considerado um indicador com forte componente de estrutura e processo ao considerar variáveis como infraestrutura, titulação docente e projeto pedagógico. Ao longo deste debate recente dentro da sociedade acreana acerca da qualidade do curso de Medicina da UFAC e de seu egresso, tenho chamado atenção para que se observe o indicador adequado ao que se quer avaliar.

Desempenhos onde o conceito Enade supera o CPC (como ocorre em muitas das Universidades públicas listadas acima) indicam cursos onde os alunos, apesar de dificuldades de estrutura, superam as adversidades, junto com seus docentes, e alcançam bons resultados como profissionais ao final. Ter dificuldade de estrutura e de processo não necessariamente significa que a qualidade do “produto final” será comprometida. Pode significar apenas uma formação mais difícil, mais trabalhosa do que deveria ou poderia ser. Por outro lado, desempenhos onde o conceito do CPC supera o do Enade (como em algumas escolas particulares listadas acima), indicam em princípio cursos onde os alunos não correspondem à estrutura posta a seu dispor. Ter mais facilidade de estrutura e de processo não necessariamente significa que a qualidade do produto final está garantida. O que se alcançará ao final depende muito também da qualidade, do interesse e da dedicação do aprendiz.

A avaliação do Enade demonstra inequivocamente a qualidade do profissional formado na UFAC. A avaliação crítica do CPC demonstra ainda que a UFAC possui uma estrutura que, longe de ser ideal, também não se distancia muito das dificuldades infelizmente encontradas entre diversas instituições de ensino públicas brasileiras. Também a exemplo de outras instituições de ensino públicas brasileiras, a qualidade do material humano, dos discentes e dos docentes, tem sido o motor a superar as adversidades e garantir, ao final, melhores profissionais que a média habitualmente encontrada neste imenso e heterogêneo País.

Que fique claro de uma vez por todas e para sempre, pois que fatos falam sempre mais alto que argumentos: não há espaço algum para declarações alarmistas, irresponsáveis e, como se vê, absolutamente infundadas, sobre a qualidade do profissional médico formado na UFAC. Isto é oportunismo, diversionismo, inconsequência e não se baseia em nenhuma evidência demonstrável.

Disto não significa dizer que estamos satisfeitos. Absolutamente. Queremos mais. Queremos um CPC 4 para chegarmos no nível de uma UNIFESP ou uma UnB (4-4). Para isto não falta muito. E se dermos condições de estrutura nível 4 a nossos alunos, com a qualidade que a maioria deles apresenta, chegaremos em futuro não muito distante em um 5-4 como a UFRJ, onde eu tive o prazer de fazer minha formação. Isto é possível. É nosso papel continuar evoluindo. Sempre. Para isto não será destruindo o que já se tem. Pelo contrário. Destruindo a cada dia nossa própria casa, passaremos a vida juntando os cacos e não nos sobrará a energia necessária para os saltos de qualidade que nos esperam.

Com as ajudas certas, conseguimos recursos junto aos Ministérios da Saúde e Educação no valor de um milhão de reais, já aprovados e disponíveis a partir do próximo ano, para investimento maciço em estrutura de laboratórios e equipamentos. O início do próximo ano letivo será marcado por nosso processo de reforma curricular, tão ansiado pelos alunos e a ser feito com eles. O convênio entre o Governo do Estado e o curso de Medicina da UFAC, também esperado por todos e recentemente assinado, prevê, dentre outras parcerias importantíssimas, a disponibilização de carga horária de profissionais Médicos da Secretaria de Estado de Saúde, com formação técnica adequada e interesse no ensino, para atuarem como professores-colaboradores no curso, solucionando carências específicas com a área clínica.

Ainda uma gestão junto a administração superior da UFAC e ao Ministério da Educação é necessária, e para isso precisaremos também de ajudas, para novas contratações de docentes a fim de suprir carências existentes nas áreas básicas. Os programas de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado continuam, em parceria com diversas Universidades públicas Brasileiras, a titular progressivamente nossos professores, aspecto tão importante que é para uma boa avaliação docente pelo SINAES. Com estas ações, avançamos consistentemente sobre os problemas relativos a estrutura, projeto pedagógico e corpo docente, caminhando em breve para o conceito 4 no CPC. Faremos isto tudo juntos, docentes, discentes e sociedade acreana interessada no cuidado com seu importante e reconhecido curso Médico.

Não é possível terminar estas considerações de outra forma que não parabenizando os alunos e ex-alunos do curso de Medicina da UFAC. Sei que falo neste momento por todo o corpo docente do curso. Vocês encaram o restante das escolas médicas do Brasil de cabeça erguida, altivos, de igual para igual. É direito que ninguém mais lhes pode tirar. Fazem ou farão parte das soluções dos problemas de saúde de qualquer local onde estejam inseridos. Salvarão vidas, curarão doenças, amenizarão sofrimentos de muitos, com competência técnica reconhecida e, ainda melhor, com um olhar humano que só aos grandes médicos é permitido ter e que os processos avaliativos habituais não se acostumaram ainda a mensurar. Tenho imenso orgulho de fazer ou ter feito parte da formação de cada um de vocês.

Thor Dantas é médico e professor de medicina na Universidade Federal do Acre

Um comentário:

Anônimo disse...

Que orgulho!! Muito boa noticia! Os alunos sao bons mesmo, estudam muito e se esforcam. Eu pude averiguar isso quando trabalhei na UFAC. E a proximidade professor-aluno e bem maior do que a que eu tive na faculdade. Torna o ambiente mais propicio ao aprendizado. Eu tenho muita saudade dos alunos da UFAC. Parabens mesmo, Thor!!!

Abs,

Joema.