sexta-feira, 9 de setembro de 2011

GUARDA CONTIGO MEU CORAÇÃO

José Augusto Fontes

Ainda que seja pouco, ainda que ele não bata em ti, ainda que o destino dele seja a terra, guarda contigo meu coração. Mesmo que mude de corpo, guarda contigo, que comigo é pouco, também o tempo de espera, e ele quer revolução desarmada, quer do peito a flechada, te quer bem e me erra, carecendo de precisão.

Meu coração é teu, pulsou por ti. Quando pensou em parar, lembrou de ti, e ainda bate, aqui longe, ali perto, também em pensamento, no teu descompasso, supondo que é meu, o teu coração, é alucinação que suportou alegria e desilusão, que entrega mansidão. E como fosse pouco, nessa ocasião, quer a tua atenção, que foi nele o tormento que ficou.

Guarda em ti as palavras que queriam ser do coração. Nessa disritmia elas não sabiam do mundo, só conheciam o que estava em mim, e assim se soltaram, livres, como se meus olhos refletissem a tua verdade, meus olhos ingênuos e pequenos, que não cresceram para a imensidão, que não deram cria, num tempo em que ninguém definia o que nos aconteceria.

E meu coração frágil, sonhador, agora que olha para trás, só te pede um cantinho, um bocadinho para ficar na perdição, guardado, que em ti é mais seguro, ainda que em sonho imaturo, pois sendo assim será apenas devoção. Pode ser gratidão, se o momento for versátil, se a vida for volátil. Será paixão?

Muitas coisas deixam, deixaram em mim grande saudade. Assim, meu coração estando em ti, apenas pulsando, quieto, algo de bonito e sensível vai emoldurar essa saudade, algo de infinito. Melhor do que estar comigo, aqui longe, aqui sem graça, aqui, sem irrigação. A manutenção também não seria boa, arritmia e desorientação, agonia e apressada pulsação. Vendo de perto, a normalidade perderia sua verdade.

E é isso. Meu sentimento à toa, que indo pra longe beirou o começo, se você me perdoa, nesse ciclo de quase amor, vou deixar contigo, ainda que seja pouco, rouco, meio mouco, disfarçado de submisso.

Até outro tempo. Até entender o que de mim destoa, o que despetala a flor, contigo vai ficando, batendo, vivendo, minha ilusão, ainda que seja pouca, como simples melodia, como lamento, toda indefinição e querer. Insisto e te peço, como numa canção, guarda contigo meu coração.

José Augusto Fontes é cronista, poeta e juiz de direito acreano

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