quinta-feira, 28 de abril de 2011

CONTROLE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS

Sérgio Abranches, Ecopolítica

O frigorífico JBS-Friboi, processado com mais outros 13 pelo Ministério Público Federal do Acre por comprar carne de fazendas embargadas por desmatamento ou trabalho escravo, assinou ontem um Termo de Ajuste de Conduta, TAC. É parte do acordo judicial que interrompe o processo. É bom para a empresa, porque a livra do processo. Na negociação ela acaba conseguindo condições muito favoráveis para atingir padrões de responsabilidade e qualidade que, por seu porte, por ser financiada por recursos públicos e ter o BNDES como sócio, tinha obrigação de já praticar.

A empresa diz que pretende ser a mais sustentável na Amazônia. Mas o presidente de seu Conselho de Administração, Joesley Batista, disse à colunista Míriam Leitão, que a empresa não consegue ter controle sobre seus fornecedores. Só tem condições de deixar de comprar daqueles já embargados pelo governo. Não comprar de empresas embargadas por práticas ambientais e sociais ilegais é o mínimo que se espera de uma grande empresa. Mas assim está no TAC. Nele, a empresa se compromete, a partir de 2012, a não comprar de fazendas que não tenham o Cadastro Ambiental Rural ou a Licença Ambiental Rural. Ao final de 2012 terá que exigir os dois. Não estou dizendo que o TAC seja um mal acordo para a sociedade. Ele garante um mínimo de responsabilidade por parte da empresa e isso é bom. Mas empresas desse porte podem e devem fazer muito mais.

Recentemente, estive ouvindo empresários e especialistas sobre cadeias de suprimento sustentáveis. O que ficou claro dessas conversas é que hoje qualquer grande empresa tem condições técnicas de controlar sua rede de suprimentos e garantir que seja sustentável. Vale para empresas industriais, grande varejo, como supermercados e lojas de departamento e vale também para frigoríficos. Vale para qualquer empresa.

Não existe empresa ‘sustentável’, ‘verde’, ou ‘socialmente responsável’, em cadeias de suprimento contaminadas por práticas ambiental e socialmente danosas.

Hoje, a maior parte das empresas no Brasil – e em várias partes do mundo – faz marketing sobre sua sustentabilidade, porém só dá conta de suas atividades do portão para dentro. Mas como uma empresa pode se dizer sustentável, se não tem controle sobre o que compra e de quem compra seus suprimentos e sobre o percurso de seus produtos do consumo ao descarte dos resíduos? Como pode assegurar, sem esse controle, a qualidade de seus produtos aos consumidores?

No ano passado, estive em uma empresa de TI, que está adaptando seus produtos, para retirar componentes tóxicos, não recicláveis ou não reutilizáveis por exigência de suas duas maiores compradoras. A empresa é global. As duas empresas que usam seus produtos, nacionais.

A idéia da empresa isoladamente sustentável já foi abandonada tanto nas análises de sustentabilidade empresarial, quanto de responsabilidade corporativa. Principalmente as grandes empresas não podem se eximir de responsabilidade sobre o ciclo completo de produção de suas mercadorias.

Toda cadeia de suprimento (supply-chain), toda cadeia de valor, tem uma ou mais empresas líderes que polarizam as atividades das demais. São as maiores fornecedoras ou compradoras na cadeia. Essas empresas têm responsabilidade por toda a cadeia. Elas podem ajudar as demais a desenvolver programas de sustentabilidade e têm poder – de mercado – para excluir as recalcitrantes da rede. É parte da obrigação corporativa de grandes empresas. Isso vale para cadeias de suprimento locais (nacionais) e globais.

Sérgio Abranches é mestre em Sociologia pela UnB, PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell e Professor Visitante do Instituto Coppead de Administração, UFRJ.

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