sábado, 12 de junho de 2010

A CONQUISTA DOS SONHOS

José Augusto Fontes

Há uma primavera diferente nas coisas e nas pessoas, um verde ainda não bem verde amarelou e passeia pelos olhos de tudo, por onde quer que tudo vá. Um sentimento cheio de gente tomou conta da vida, criou o agradável fato de estarem todos falando a mesma língua e fez essa gente colorida se abraçar. Quase nada faz isso acontecer, mas agora é tempo de torcer, é preciso juntar as ilusões. A fantasia entra em campo, nosso time tem ritmo único, nosso enredo é vencer. Nada possibilita essa profusão de abraços, essa linearidade de idioma, num compartilhar de ideal, como faz o futebol, a cada quatro anos.

O futebol cria a festa, freia a vida, muda os horários, dita os comportamentos, supera todos os outros motivos para sorrir e festejar, é idéia para projetar vitórias, do campo para a vida, da vida para o sonho, um sonho de sete guerras, sete canastras, vários ases que dão asas aos gritos, aos soluços, o futebol está na vida, na fé e no sonho, o gol libera o momento, a vitória garante o novo dia, o título assegura a eternidade. Outro qualquer fazer é para depois do grande feriado que se instala nos corações, que como tudo e todos, também quase param, não batem, no momento que em driblam a vida e gritam gol, que felicidade!

Um gol a mais que o adversário, um ponto a mais que o concorrente, a sorte dominada no peito, a habilidade riscada na grama, a sensação recebida pela janela da tela, quem é ela, é a Copa do Mundo, a rainha que traz o título que a majestade da bola confere aos herdeiros do rei, súditos, valetes e damas, confere a tudo que habita estas terras do futebol, da ginga, e a todos que ostentam a hegemonia mundial desse esporte cujo nome se confunde com Brasil, campeão de alegorias e de títulos, coisa que até ontem bastava, mas agora precisa ser mais, e de novo, outra vez, precisa alimentar o espetáculo, precisa levantar taças.

Nada é como o Brasil. Torcidas cantando aos quarenta do segundo tempo, achando bom perder de pouco, comemorando derrota aceitável, isso é coisa para os outros. Só os outros acham que estar numa copa os possibilita ganhá-la. Copas são para o Brasil, os outros ilustram, compõem tabelas. Até que são bons, mas ganhar é outra coisa, as faixas têm dono, o futebol pertence a essa nação que só entende o que é vencer. Há uma galera de sonhos, há coisas da vida que o futebol resolve. Agora, interessa crer, viver e acontecer, nesse jogo de sete tempos, com onze cartas, para bater com ouro e ganhar o seis das copas.

Todas as ruas entram em campo, as favelas e praças, prédios e casinhas, os campos e cidades, matas e vilarejos, gente guardada ou apresentada, até quem não se vê está vendo. Um novo gol foi visto. Enquanto a bola viajava, carregava uma imensa devoção, que a empurrava, e depois cegava tudo, dizia tudo, num grande grito, cheio de vozes, mas único, um gol a mais que o adversário, um ponto a mais que o concorrente, há alguma sorte para a nossa incomparável habilidade? Nem sempre, mas se ela estiver impedida, vamos escalar a raça, vamos aumentar o quarteto dos ventos para onze, vamos ganhar e comemorar!

A primavera que passeia pelos olhos de tudo quer transformar o futebol em carnaval, criar o feriado e abraçar o resultado, nossa artilharia de sorrisos quer embalar as redes de outra estação. Há quatro anos o carinho vem trocando passes curtos com a explosão, mas não bota pra dentro, de lá pra cá não houve copa. Outras competições preencheram os adereços, o confete foi acumulando, e agora, todos os blocos querem passar, a multidão de delírios quer desfilar por toda a alma, quer dar-se ao mundo. Uma galera de sonhos precisa gritar com a realidade, na mesma língua, no mesmo abraço, num grito cheio de vozes. E único.

O movimento cheio de gente tomou conta da vida, que rola pelas tabelas. Um grande sentimento entrou em campo, há prazer em beijar o gol, em abraçar o título, também quero possuir a deusa vestida de vitória. Tudo enche a área perigosa da emoção, a vida é mais passageira, contada em minutos. A meta guardada por ilusões foi penetrada durante o grito do gol, que botou a fé para dentro. Tudo cegou, só se avista a necessidade uniformizada de ganhar, que passa dos limites da vontade, penitência (penalidade) máxima, naquele verde ainda não bem verde que amarelou e tomou conta de tudo, por onde quer que tudo vá.

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre

Um comentário:

José Sávio disse...

Acho que esse "Curupira" anda jantando muito com "ativistas" do WWF, Greempeace, ISA e congêneres. Por que, professor, tenta desqualificar o Dep. Aldo ao invés de pontuar os "equívocos" e apresentar as sugestões?