domingo, 9 de agosto de 2009

A HIPÓTESE MARINA

Alfredo Sirkis

É compreensível que a possibilidade de uma candidatura da senadora e ex-ministra do meio ambiente Marina Silva cause, por um lado, entusiasmo e excitação e, por outro, preocupação.

Milhões de brasileiros sensíveis à causa ecologista, à sustentabilidade ambiental e social de nosso modelo econômico, aos destinos do planeta ameaçado pelo aquecimento global, à devastação de nossos ecossistemas e à qualidade de vida nas nossas cidades vivem na expectativa de dispor de uma voz própria, eloquente, na campanha presidencial -até agora arena exclusiva dos defensores do desenvolvimentismo clássico dos anos 60.

Por outro lado, entende-se que haja políticos inquietos, cada qual fazendo seu cálculos: afinal, uma eventual candidatura da Marina Silva me ajuda ou me atrapalha? Quanto ajuda? Quanto atrapalha? Bombardear? Não bombardear?

É curioso que as reações políticas e a maioria das análises jornalísticas gravitem em volta desses cálculos pragmáticos enquanto escamoteiam o essencial: Marina representa ideias e aspirações hoje compartilhadas por milhões de brasileiros.
Não será legítimo e até importante para a democracia brasileira que elas estejam representadas em uma eleição de dois turnos?

Numa dimensão minimalista, teríamos uma campanha altamente instrutiva e educativa, não apenas naquele discurso clássico, defensivista, do ambientalismo (deter a destruição da Amazônia e de sua biodiversidade, a contribuição das suas queimadas em emissões de CO2 etc.) mas também na didática daquilo que as vertentes hegemônicas do desenvolvimentismo clássico não conseguem perceber: o futuro econômico e social do Brasil, hoje, depende de mergulharmos de cabeça numa economia verde!

Nenhum outro país está tão bem posicionado quanto o Brasil para atrair investimentos para um ecodesenvolvimento, muito embora insistamos em monoculturas, na devastação da biodiversidade para estender mais e mais a fronteira pecuária, em subsidiar veículos poluentes e emissores de carbono, em novas termoelétricas a carvão e novas rodovias no coração da floresta.

No entanto, Marina tem um potencial além do eloquente discurso de primeiro turno para depois arrancar compromissos programáticos.

Ela pode contribuir para a superação dessa abissal fenda da política brasileira: a compulsória aliança das duas vertentes da social-democracia com as oligarquias políticas na busca da governabilidade.

PT e PSDB disputam, como lucidamente notou em certa ocasião o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "quem vai liderar o atraso".

No instável sistema político-institucional produto do nosso "voto jabuticaba", proporcional personalizado, ambos dependem do clientelismo e do fisiologismo profissional para governar. Melhor fariam em se aliar em algum momento, mas, como a disputa central se dá entre eles, isso dificilmente acontecerá, e a rivalidade entre eles é feroz.

Nós, verdes, nos relacionamos com ambos e reconhecemos o papel que respectivamente tiveram nos inegáveis avanços econômicos e sociais vividos pelo Brasil desde 1994.

Marina é bem talhada para promover uma nova governabilidade com ambas as vertentes que, enfim, supere essa polarização bizarra, isole o atraso e abra caminho para uma reforma do nosso sistema eleitoral, secando sua dependência do clientelismo, do fisiologismo e do assistencialismo, fontes maiores da corrupção, do excesso de cargos comissionados, do mau uso da máquina pública e da compra de votos, direta ou via centros assistenciais.

O direito de ter um sonho de país e lutar para tirá-lo do papel é inalienável. Os verdes não abrem mão dele, mas também reconhecem que isso transcende suas limitadas fileiras.

Nesse momento, é impossível saber, de fato, se Marina será ou não candidata. É uma decisão difícil, de fé íntima, que há que aguardar.

O caminho político, no entanto, é claro: não é anti-PT. Nossa fraternidade, muito particularmente com o PT do Acre, remonta a Chico Mendes.
Também não é antitucanos.

Certamente não é anti-Lula, embora não possamos abrir mão de criticar sua atitude frequentemente atrasada e deseducativa na questão ambiental. Pode, eventualmente, vir a ser pós-Lula...

Alfredo Sirkis é vereador pelo PV no Rio de Janeiro, presidente do Partido Verde do Rio e vice-presidente nacional de seu partido. É autor, entre outras obras, de "Os Carbonários". Fonte: Folha de S. Paulo.

3 comentários:

Assis disse...

A hora do °troco° ao Lula. A Marina
ser candidata á Presidencia da Repú
blica sim. Vou citar dois fortes mo
tivos; nao digeriu o constrangimen-
to que sofreu quando era Ministra
do Meio Ambiente, por parte do Lula
ao nomear aquele meio brasileiro/a-
mericano que passou a mandar no Mi-
nistério da Marina. Também pela cla
ra preferencia de Lula por Dilma pa
ra ser candidata pelo pt´á Presiden
cia do Brasil. Isso a forcou a re-
núnciar ao cargo de Ministra. Ela
ganhou projecao na política gracas
a igreja católica via Dom Moacir ,
Padre Leoncio Asfuri e militancia
petista. Migrou para os evangélicos
onde tem mais votos. A candidatura
dela pelo pv a presidente, vai ext-
rapolar as fronteiras brasileira ,
pois a causa que ela defende inte-
ressa ao mundo todo. Vai se agigan-
tar de tal modo que nem ela imagina
a superestrutura de sua campanha.
Ela vai °engolir° de uma só vez o José Serra e Dilma, Lula e carde
ais do pt nacional. Ela tem excele-
lentes chances de se eleger a prime
eira mulher presidente do Brasil e
por tabela do Acre. Só terá que sa-
ber escolher o seu vice, que venha
somar. Ela vai ganhar sim. Eu voto
nela sim. Quem viver verá.

Acreucho disse...

Está meio complicado entender o artigo do vereador pelo PV do Rio de Janeiro. Se a candidatura de Marina não é anti-Lula, não é anti-PT, não é anti-tucanos. É o que então? Pra eleger Marina é preciso ser anti-alguma coisa. Quem não é anti é pró. Marina pra se eleger tem que ser anti-tudo isso. Lula é uma mentira, o PT é teoricamente um Partido de Trabalhadores que governa para elites e os tucanos são a elite que diz ser contra Lula. Marina não vai ganhar uma eleição por seus belos olhos, que ela não tem. Tem que prometer alguma coisa. O povo, que é quem vai elege-la, nem sabe o que seja ecologia; os empresários não estão interessados nisso, o negócio deles é lucro; os produtores rurais querem é desmatar mais; os pecuaristas querem que os ecologistas se explodam. Marina vai ser pró o que? Com um plano de governo ecológico ela vai ter o voto só daqueles que a ecologia não afeta. É uma coisa complicada tipo: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come...

Anônimo disse...

Concordo com o comentário acima. Marina tem que ser e é contra tudo isso que aí está, com a tucanagem e petralhagem que estamos vendo no cenário político. Tomara que consiga vencer as barreiras com o voto do povo e não com alianças que o Lula e o PT fizeram com o sistema econômico mundial e brasileiro, pois cada vez os bancos ganham mais, a cada ano ganham mais, e ainda o governo dá dinheiro para o FMI. Alguém entende?
Marina neles!!!