Por Maria Leitão
As palavras dizem muito pouco das lutas, dos sonhos daqueles que buscam ser solidários com os mais fracos, com os desvalidos, com os acometidos de doenças e com os desesperançados desta vida.
Entre os seus familiares ou com os amigos, Zé Alexandre era especial, simples, cordial, cúmplice, indescritível na sua complexidade e riqueza interior e ao mesmo tempo um solitário rodeado de amigos, muitos nem sempre leais.
Quem teve a felicidade de conviver com Zé Alexandre não esquecerá do sonhador, da sua simplicidade, do seu olhar direto e profundo que falava mais que mil discursos ou muitas palavras.
Seu exemplo de vida falava por si, falava de paz, de generosidade, de tolerância, de esperança e, sobretudo, de igualdade numa terra cada vez mais densa em assimetrias sociais.
Gostava de ironizar o poder e o entorno socioeconômico, a concentração de renda: solução para alguns e causa de desgraça para muitos.
Conheceu as ruas desta Rio Branco em franca transformação, seus tipos humanos com todas as suas idiossincrasias.
Todos ou quase todos davam de encontro com ele, de mochila às costas, sorriso fácil, andando calmo pelos recantos pouco iluminados e insalubres de bairros periféricos ou pelas ruas alaridas do centro da cidade, atento a tudo, um trabalhador e, ao mesmo tempo, um crítico, um Don Quixote que acreditava num Acre diferente, com justiça social, paz e dignidade para todos.
Um herói anônimo como tantos que andam pela vida acreditando nos movimentos sociais enquanto muitos conterrâneos seus sucumbiram à hipocrisia da política, ao status quo das burocracias ou à letargia dos derrotados.
Cético das ações dos governantes, sempre acreditou na missão de construir a igualdade e a solidariedade, acima de todos os credos, raças ou opções sociais.
Tanto na vida sindical, quanto no exercício profissional de servidor público, Zé sempre foi uma voz contundente, às vezes sarcástica, mas sempre destemida.
Tinha presença, mesmo que ausente fisicamente; indefeso e devastador nas análises políticas e ideológicas.
Zé Alexandre viveu ajudando a quem precisasse. Foi um homem com coração de menino, corpo franzino, mas com convicções fortes de que era possível alterar a dura realidade de vida dos menos favorecidos, dos milhões de sem voz e sem vez deste país, cuja invisibilidade social tornava sua luta atual e incansável.
Vítima indefesa da violência gratuita, multiplicada em cada esquina e em cada bairro, cujas causas são expostas diariamente no cotidiano desta cidade, cada vez mais desigual e excludente, Zé Alexandre acreditava ser possível a utopia de uma Amazônia paradisíaca, sem homofobia, sem violência, sem discriminação e sem desigualdade.
Que junto a Deus, Zé vele por nós, já que não conseguimos garantir a ele dignidade e cidadania, que sirva de motivação aos que um dia acreditaram como ele e ainda acreditam na construção do paraíso como uma possibilidade real.
A Zé Alexandre, a saudade dos seus familiares.
◙ Joseh Alexandre Leite Leitão era funcionário da Funasa, membro do Conselho Estadual de Saúde e militante da CUT e do PT. Faz um ano que foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). Em fevereiro, a juíza Denise Bonfim, titular da 2ª Vara Criminal da Comarca de Rio Branco, condenou os réus Gabriel Oliveira Gomes dos Santos (a 47 anos e seis meses de prisão) e Daniel Rodrigues Dantas (a 45 anos). O primeiro recebeu pena superior por ter sido também condenado por vilipêndio do cadáver. Leia aqui a íntegra da sentença condenatória.
Um comentário:
O tempo não para, já dizia o poeta. Mas os momentos e as pessoas especiais, como o amigo e irmão camarada Zé Alexandre, são eternizados em nossas mentes e corações para sempre!
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