Fabíola Munhoz
Em relação à idéia recentemente divulgada pelo governo do Acre de lançar roteiros turísticos com destino a aldeias indígenas amazônicas, o coordenador Regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Amazônia Ocidental, Lindomar Dias Padilha, disse que, até agora, desconhece a oposição pública de qualquer entidade indígena ao projeto e acredita que isso se deve ao fato de os índios não terem sido consultados sobre a implantação do plano.
"Nenhuma comunidade se posicionou, creio eu, por total ignorância. Houve o mesmo [falta de diálogo] recentemente, com relação à exploração de petróleo e gás natural", lembrou.
Segundo Lindomar, o Cimi não pretende tomar uma atitude pública com relação ao assunto, mas buscará conversar com as diversas comunidades envolvidas para lhes fornecer informações sobre os riscos que o turismo em aldeias pode trazer e o que realmente está por trás de um plano como esse. "Só escolhe autonomamente quem possui informação adequada", concluiu.
O coordenador também acredita que o estado do Acre tem intenção de aumentar sua arrecadação de tributos com essa iniciativa, mas o maior interesse em jogo é dos ricos, que precisam aliviar o peso da culpa pelo mal que causam ao meio ambiente, demonstrando valorizar a cultura de quem mais vem sofrendo com essas intervenções. "Mas, não se pergunta se isso será bom para os povos indígenas", acrescentou.
Segundo informações do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Acre, que ajuda a estruturar os roteiros turísticos às aldeias da região, os próprios índios pediram a ajuda do governo para explorar a atividade turística na área onde vivem. De acordo com a entidade, alguns dos indígenas teriam, inclusive, comprado um barco maior para transportar os visitantes e também construído banheiros de padrão rústico nas aldeias.
Lindomar rebate essas declarações, dizendo que é difícil acreditar na idéia de os habitantes das aldeias terem pedido para participar de um projeto de turismo, já que muitos deles vivem em estado de abandono. Segundo o coordenador do Cimi, quando o governo diz que algo é bom e o faz de forma repetitiva acaba por convencer. "A questão de fundo é: como os povos indígenas vão viver dignamente em suas terras sem que precisem de presentinhos?", questiona.
Ainda de acordo com ele, não há dúvida de que a possibilidade de alguns indígenas terem aceitado o ecoturismo, ou etno-turismo, decorre da influência de uma parte da sociedade que pretende transformar esses povos em seres exóticos, transpostos do passado para o presente, na forma de museus vivos, passíveis de receber visitas.
Ele também se pergunta quando o país assumirá a dívida histórica que tem com os índios. "Só nesta regional da Fundação Nacional do índio (Funai), falta a demarcação de 17 terras indígenas. Em circunstâncias como essa, o turismo parece engodo", acrescenta.
■ Fabíola Munhoz é do site Amazônia. Leia mais aqui.
8 comentários:
O CIMI,entidade detentora de uma valiosa história de lutas no Acre e no país, infelizmente no Estado assumiu a postura da concha.Tudo o que está fora da concha é ruim, é um modo de "distanciamento" do real, das demandas e do "xerém" que toda comunidade legitimamente levanta.Então, em não se envolvendo em nada, resta o diagnóstico sem fim, um tipo tardio de esquizofrenia que não produz saídas ou alternativas reais e viáveis.No fim, como muitas outras organizações, o CIMI virou um Gueto cheio de sectarismos, adotando a velha postura inócua de que "se hay gobierno, soy contra".
Flávio Lucas
Quando vao entregar terras aos índios a sociedade é consultada? Nada mais justo do que o Estado ter uma circulaçao extra de renda. Os índios ainda vao ganhar um trocado vendendo artesanato.
Caro Altino,
A provocação inicial foi uma matéria publicada na revista Ecotour, com fonte do Sebrae e assinada pela jornalista Vininha F. Carvalho, como resultado da participação do Governo do Acre no 36º congresso da Abav. A matéria deixa muita coisa vaga e não há nada de concreto. Eu, ao expor nossa posição para a repórter Fabíola é que entendi por bem falar em etno-turismo ou turismo alternativo. Essa discussão é muito antiga e extrapola os limites do Estado do Acre.
Não é que sejamos contra os governos. A questão está no usufruto exclusivo dos índios aos bens de seus territórios. É muito mais complexa a situação do que possa parecer. Trata-se de direitos constitucionais dos povos indígenas, garantidos no Art.231. Todo projeto que exija construções e favoreça ou insentive a presença de não índios em terras indígenas precisa de estudos prévios de impactos e tem que ser discutido com os povos e comunidades indígenas envolvidas. Assim, não somos contra governos, somos a favor dos povos indígenas e do repeito aos direitos por eles conquistados.
Bom trabalho.
Lindomar Padilha
Por que não perguntam para a Paula Meirelles ou para o José Carlos Meirelles? Custa? Os comentários são excelentes, e eu nem sei tergiversar, mas acho que dá rock.
Obrigado pela leitura Fabíola,
Altino: o DEZ.
p.s. bebi um pouco há mais (ou seria a mais, e msia, ihhhh) fui.
Caro Altino,
Gostaria muito de conhecer a opinião de antropólogos conhecedores e comprometidos com a causa indígena, à exemplo de Marcelo Iglesias, Terri Aquino,Meirelles, dentre outros.
A opinião dos demais, a meu ver, são meras especulações que nãolevam a nada.
Me desculpem, mas fico aborrecida ao ver que quando se fala de algo tão complexo como cultura, em especial a indígena todos se acham preparados a opinar.
Caros.
Como já sabemos, o Turismo é um meio de integração social que pode trazer benefícios sociais e econômico para a localidade. Acho interessante a idéia de incluir as terras indigenas como roteiros turísticos, mas desde que haja uma concordância entre as partes interessadas, afinal num país onde não se conhece seus antepassados (eu por exemplo sou descendente de indios e não sei nem se ainda existe algum antepassado vivo) um meio de entriquecimento cultural, de conhecermos o verdadeira simplicidade que vive povo brasileiro, de humanizar-nos com as questões sociais e ambientais, pois a simplicidade causa esse efeito em nossos corações. Claro que a expolração do turismo deve ser controlada para não atingir a proporção do turismo de massa e que vem destruindo lugares maravilhosos do nosso Brasil e saturando estes destinos. O povo indigena tem que manter-se fíel aos seus hábitos e costumes e nós turistas, apenas compartilharemos o seu cotidiano, sem interferência, sem que o índio precise vistir uma indumentaria que não seja a sua habitual, cante e dançe apenas para agradar o turísta. O índio não pode ser apresentado como um "bicho raro" e intocavel . Indio não é um pobre coitado como muitos querem que acreditamos, ele claro, não tem a mesma malícia que uma pessoa da cidade grade, mas chega de tratar o índio como um ser que precisa de um homem branco para dizer o que ele deve fazer ou não. Dê voz aos indigenas e deixem que eles decidam o que é melhor para suas vidas.
Essa questão do turismo deve ser discultido com a comunidade indigena e deve prevalecer a sua decisão.
Em Bertioga (SP) há um comunidade indigena que abriu sua aldeia para visitação e nem por isso eles perderam sua identidade.Os turistas os acompanham nos seus afazeres domesticos, caçam, pescam, tomam banho no rio, mas nada fora das atividades diarias que eles estão acostumados a fazerem. Além de manter sua identidade, eles vendem seus artesanatos e desta forma não precisam vender bugigangas na beira das estradas para sobreviverem como acontece muito na região sudeste e centro Oeste.
Olá Altino!
Meu nome é Renata e graças a Deus descobri seu blog...estou com sérias dificuldades...estou fazendo um trabalho sobre o Acre, estudo história e precio falar sobre a cultura da população, mas confesso que o que achei até agora é muito superficial, preciso saber de costumes e hábitos de cultura popular.
Se puder me dá umas dicas eu agradeço imensamente!
Abraços!
Renata
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