quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CHICO DA FLORESTA

José Augusto Fontes

O mote do seringueiro é a esperança de semear a vida

É um bom sentido do viver na soberana moldura verde


O látex da questão ideal não é ser contra isso ou aquilo


Mas a favor de respirar profundo, de um cultivar perene


Nada fácil nem dócil, o prazer da conquista está na luta


Tudo simples, como o amor à sombra de uma samaúma


Como percorrer um varadouro, todo dia a labuta solene


Na ferida cortada, a semente do Chico reproduz a verve


Mateiro, castanheiro, velho e rapaz, poesia de todo estilo


Passou a ver a floresta, a entender o gene, sentir a bruma


Abraçou a causa, a mensagem; proseia e saboreia a fruta


O rio da vida prossegue, e o mote do seringueiro o imita


Faz que passa, e permanece aqui, ali, remanso e espuma


O balseiro não segura a onda, um rio rega, nada se perde


Gente do mato, bichos da lua, um sol plantado na aldeia


A floresta semeia, o sonho corre pelas veias, e ressuscita


Os olhos do mundo se abrem para um grito, para a idéia


A seiva corre matas e águas, espreme os ventos, acredita


Desperta a flor dos sentimentos, é encanto, é força e filho


Multiplicação. Vai passando da vida, vai vencer o porvir


A História, o tempo, a escolha simples é gesto de empate


Jeito de viver, de seguir, a bubuia, um deixar fluir, aquiri


Renasceu, colhe-se acalanto, o canto ecoou sem desmate


Nada dissolve a marcha, o tiro lancinante gerou estribilho


A mata recebeu cada lágrima, floresceu e propagou a vida


O sonho navega nos estirões, viaja pelos olhos, vive aqui


Se estica nas altas castanheiras, lança certeza e desnorteia


Toda emoção escorre devagar, feito látex nas seringueiras


Toda borracha tenra pode endurecer, sangrar, gerar, parir


Doce rapadura, mel de dureza, gente sofrida, olho risonho


Gente boa de beiras de rio, de aliança, de alegrias faceiras


Orgulhosa da simplicidade, do compromisso tão fascinante


O mote do seringueiro é a esperança, na beira de um sonho.


O acreano José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito.

6 comentários:

Anônimo disse...

Grande Zé Augusto, que coisa bela!
Parabens meu caro pelo texto!
Um abraçoaçú!

Sergio Souto

Laura Felício disse...

'A floresta semeia, o sonho corre pelas veias, e ressuscita
(...)
O sonho navega nos estirões, viaja pelos olhos, vive aqui
Se estica nas altas castanheiras, lança certeza e desnorteia
Toda emoção escorre devagar, feito látex nas seringueiras'


Lindo.

Anônimo disse...

achei muito interessante o blog alternar notícias com poesia.o texto de jose augusto esta simplesmente maravilhoso!

Anônimo disse...

Como uma aventureira na arte das letras, pois tenho verdadeiro fascínio pela Literauta e pela História, tive o privilégio de conhecer o livro deste brilhante poeta e escritor acreano, Páginas da Amazônia,e outros textos,que exprimem muito bem o talento de José Augusto Fontes, á ele meus sinceros votos de sucesso e muitas felicidades.

Anônimo disse...

Parabéns.. José Augusto Fontes!!!

"Nada fácil nem dócil, o prazer da conquista está na luta "

"O mote do seringueiro é a esperança, na beira de um sonho"

A poesia é belíssima.. traz no seu conteúdo a calma e a força.. dos verdadeiros guardiões da floresta.. os seringueiros.

Parabéns Altino por publicar a poesia no blog.. divulga e valoriza os trabalhos dos verdadeiros poetas, escritores.. artistas etc.

Mas continua ai amigo a postar as fotos que caprichosamente consegue captar na sua morada.. muitas fotos também são belas poesias.

Unknown disse...

poeta, cronista e juiz de de direito (literis), não necessariamente nessa ordem, não é, rato branco?