Do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, correspondente do blog e coordenador da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, na fronteira Brasil-Peru:
É madrugada aqui na mata. A lua se pondo e os capelões começam a roncar. Aqui tem muito capelão. Ainda bem.
Eles roncam da força que fazem, cada um com seu cipó amarrado no sol, puxando com toda força prá ele romper o horizonte e trazer o dia.
Os cujubins riscam asa: trtrtrtrtrtrtrt, a nambu azul foooooote. E eu aqui, do meu jeito, animando os capelões a arrastar o sol.
Meus amigos, meu lugar é aqui!
Posso até ter ilusões cosmopolitas, mas meu coração bate forte é aqui, nesse alto rio...
Flecha e tiro? Isso lá é nada!
Quem participa do arraste do sol com os capelões, se não se encantar antes, só pode morrer de flechada de brabo.
Afinal são eles os guardiões da vida e da morte por aqui. No dia que eles amansarem, os capelões deixarão de roncar puxando o sol...
O dia chegará, mas não amanhecerá nunca mais.
Um comentário:
Meirelles, tudo bem com você? Tenho pensado muito em você. Estou preocupada. Talvez seja uma armadilha, esse encantamento. Sinto que estamos te perdendo. Você não está se isolando também?
Beijos.
Cuidado.
Ah, vou deixar uma poesia pra vc do JJ Paes Loureiro:
( Sinto que há um olho que me olha.
Um olho olha
sinto
sim
um olho olha
e olho
e olha
o olho ardente atento
um olho de vitral infravermelho
móvel imóvel semovente
nem só olho que olha
íris retina rotina
mas olho além de olho
olho/olho
atento
o tanto
o quanto
um olho natimorto vivo
compulsando
compilando
olho disso e daquilo
olho de nada
fixo flexível maleável
um olho em si
e sinto que me olha...)
Monólogos de boiúnas em barrancos
mundiando
as livres navegações do canoeiro...
.........
Não é lindo? É pra vc. Volte logo, sim? É muito perigoso por ai. E depois, você já tem bastante flechas em sua coleção, não é verdade?
Bjs.
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