quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A AGRICULTURA É A SALVAÇÃO

Trechos da entrevista de Evaristo Eduardo de Miranda na National Geographic Brasil. Ele é ecólogo e chefe-geral da unidade de monitoramento por satélite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além de consultor da Food and Agriculture Organization (FAO) e da Unesco.

O senhor defende a idéia de que a agricultura não é problema, mas a solução sustentável para o Brasil e o mundo. Por quê?

Existe uma opinião generalizada de que a agricultura causa problemas ambientais. Mas, se a atividade ainda emite gases de efeito estufa, sobretudo em regiões primitivas e pouco tecnificadas, nas terras do agronegócio ela é solução para o aquecimento global. Sobretudo no caso do Brasil. A agricultura trabalha com a produção primária, ou seja, com a transformação da energia solar em energia química. No caso da cana, por exemplo, acontece a transformação da energia do Sol na do açúcar e do álcool. Dessa forma, a agricultura é capaz de trazer soluções enormes para a sustentabilidade. O exemplo disso, hoje, é a matriz energética brasileira. A nossa agricultura produz mais de 140 milhões de toneladas de grãos para nós e para o mundo e consome cerca de 4,5% de nossa matriz energética, mas garante quase 30% dessa matriz. Enquanto a média da energia renovável dos outros países é inferior a 14%, no Brasil temos pouco mais de 46% da matriz renovável, o que é muito.

O cultivo da cana é então um modo de combater as mudanças climáticas?

A cana é uma planta extraordinária. O açúcar e o álcool são feitos basicamente de carbono, hidrogênio e oxigênio com a energia solar. A cana retira esses produtos do ar, e é um cultivo que não esgota a terra, como muita gente pensa. É uma cultura que fica no campo por seis anos. Isso é sinônimo de proteção ao solo, por causa de sua grande massa verde e suas raízes profundas. O consumo do álcool hidratado em 2007 aumentou 46%, no Brasil. O anidro, que é misturado à gasolina, subiu 20%, enquanto o consumo de gasolina caiu cerca de 3%. Hoje estamos consumindo por volta de 18 bilhões de litros de gasolina e quase 17 bilhões de litros de álcool. Isso significa toneladas de carbono que deixamos de emitir à atmosfera, em milhões em veículos que não contribuem nem para o aquecimento global, nem para a poluição. Não fosse a alternativa do álcool, a qualidade do ar dos grandes centros urbanos brasileiros estaria insuportável, muito pior do que hoje.

E não é só. Em parte das usinas de cana do país, o bagaço é usado para gerar energia elétrica – uma fonte que já representa 4% dessa energia no Brasil. Em São Paulo significa 9%, mas há períodos em que os números chegam a quase 20%, como entre junho e agosto, época da colheita da cana-de-açúcar. Ela tem valor bem no momento em que mais precisamos, pois o volume de águas dos rios está mais baixo. Nessa época se acionam as termoelétricas que usam o gás vindo da Bolívia, o que contribui para a emissão de CO2. As usinas têm caldeiras, do tamanho de prédios de 15 andares, que produzem energia com eficiência.

Não há risco de se fazer da Amazônia um imenso canavial, como muitos temem?

Não acredito nisso. Acho que a cana-de-açúcar tem potencial na região, sem nenhum risco para a floresta. Outra lenda é a de que o solo da Amazônia está sendo degradado pelo plantio de soja, algodão e outros víveres. Para ter uma idéia, só neste ano 39% da produção de soja do Brasil veio da Amazônia, além de 47% da de algodão e 20% da de grãos. A maior produtividade de soja do mundo está na Amazônia. É preciso entender que não estamos mais fazendo agricultura como no período Neolítico. Hoje há muita tecnologia disponível nessa área.

Leia mais na revista National Geographic.

3 comentários:

Unknown disse...

"É preciso entender que não estamos mais fazendo agricultura como no período Neolítico. Hoje há muita tecnologia disponível nessa área".
Esse finalzinho deixou dúvidas, como por exemplo: existe tecnologia para garantir o clima e a preservação?

Unknown disse...

Caro Altino,
Percebe-se que o Sr. Evaristo não conhece muita coisa sobre a Amazônia, Floresta e o processo de ocupação da fronteira agrícola no Brasil. Ora, ele "acha" que o plantio de cana, bem como o de soja, não oferece risco para a floresta. Mas, seria interessante perguntar: para onde iria a produção pecuária se fossem substituídas as pastagens atuais por aqueles plantios?
Além disso, em muitas áreas, especialmente de pequenos produtores, a tecnologia ainda está muito próxima daquela praticada no neolítico. Modernas tecnologias ainda estão muito distantes da grande maioria de produtores.

. disse...

Sao pessoas como esse Sr. Evaristo que merecem credibilidade e devem ser ouvidos quando se fala em agricultura e amazonia