sexta-feira, 22 de agosto de 2008

JORNAL CLONA CORPO DO FINADO


Mário querido:

Foi muita sacanagem o que o editor do Página 20 (leia) fez com você na edição de hoje. Ele parece ter conseguido clonar o seu corpo.

Após anunciar a sua morte, avisa que seu corpo será cremado em São Paulo e as cinzas espalhadas em Brasiléia.

Na terceira frase, diz que "seu corpo deve ser trasladado para Rio Branco, onde será enterrado".

O melhor mesmo é você descansar em paz.

5 comentários:

Jalul disse...

Caramba, Altino, esta foi mais uma surpresa ruim. Primeiro o Zé, o Geraldo, a Maroca Tapajós e agora o Mário. É muito, viu?
Zé, com todos os entreveros, era meu filho postiço, meu companheiro, amigo de horas incertas e, principalmente, motivo de muitas preocupações. Não avalia quantas. Sei de todas.

Geraldo, a voz de ouro, parava o Saudosa Maloca para anunciar minha presença e dedicar-me as músicas (velhos boleros, para variar). Quando ouço Dominguinhos cantando Começaria tudo outra vez, se preciso fosse, meu amor, vejo o Geraldão na minha frente, olhos fechados, em frenesi. Geraldo Leite era o meu The Best do bolero.

Maroca, irmã de meu Dindinho, da Marília e da Mauricila, era outro encanto de flor. Depois que virou Juiza, evidentemente que nos distanciamos. Autoridade, no meu jeito de ver as coisas, não dá para ser coleguinha. A menina de Londres, a Silvana Farias, contou-me por e-mail que Maroca foi sua professora inesquecível. Segurava na mão dela para chegar no Instituto São José. Faziam o trajeto cantando.

Maroca foi juíza dos meninos e pedagoga, no sentido restrito da palavra: condutora de crianças, a que pega pela mão e conduz a criança rumo ao saber. Avise-a, embora tristeza venha a lhe causar. Estou sem o endereço dela.

E de Mário? Dizer o quê?
Meu colega de Universidade, meu vizinho de Ipê, meu orientador nas grandes discussões sobre política universitária... Tinha gênio difícil, de senhor da razão. Tinha ambições e defeitos. Muitos. Cometeu erros, muitos. Nenhum deles, porém, aterrou seus princípios de honestidade, principalmente em relação aos seus amigos de ideais.

Uma das maiores polêmicas de academia no Acre foi protagonizada por Mário Lima e João Correia. O busiles da questão era sobre se professor é parte da classe produtiva ou se da parasitária. Isso rendeu uma inimizade. Nós, amigos dos dois e alheios à picuinha teórico-Marxista, ficávamos sem saber a quem dar razão. Professor é parasita social? Pelo sim, pelo não, fiquei montada no muro. Não que não soubesse que entre um
professor e um parasita existe uma gritante diferença. Não que não soubesse que há professores parasitas, não que não soubesse que parasitas não ensinam senão a arte do engordar-se com o sangue das classes produtivas.

Nunca descobri se Mário e João Correia apagaram as diferenças. Os dois tinham muita vaidade. Pense no Caprichoso e no Garantido e saberá o que estou dizendo sobre os contrários. Dois polêmicos bicudos não se beijam.

É isso, Altino. Foram-se quatro amigos de quase uma cajadada só. Zé, meu menino; Geraldo, meu trovador; Maroca a menina que protegia e tentava (re)educar as criaturas pequenas; e agora o Mário, o homem das economias.

Termino como na música do Gonzaguinha, tendo a fé no que virá e a alegria de poder olhar para trás e ver que voltaria com todos eles de novo a viver no imenso salão da vida.

O baile termina assim... Sempre assim.

Anônimo disse...

Caro Altino,
Cada jornal fala uma coisa! Até pq, nós da família, estávamos perdidos, sem muitas notíciuas. A verdade é que o corpo do Tio Mário será cremado, e as cinzas virão para o Acre. A vontade dele, em recente conversa com meu pai, era realmente que fossem jogadas no Rio Acre, em Brasiléia. Ainda não sabemos o que faremos.Meu pai esteve com Tio no Rio, onde foram encontro outro tio que mora lá, e hoje meu pai comentou, que o Tio falou em você, revelou ser seu fã e do blog. :)
Agradecemos pelas homenagens...
Abraços

Ana Karenina Lima

ALTINO MACHADO disse...

Comentário da Fátima Almeida:

Lembro-me quando Mário foi Secretário de Planejamento de uma grande movimentação, sobretudo de pesquisas que eram feitas. Adentramos as salas e o proprio gabinete como quem diz "estou passando por aqui para ver". Do mesmo modo lembro-me de quando, "sem ter nada para fazer" subíamos as escadarias do Palácio para ir bater papo com o Elias Mansur, o Lilias. Éramos próximos e íntimos. Éramos todos amigos. Hoje sinto-me uma estranha numa terra estranha.Essas pessoas indo, laços afetivos desaparecendo a cem por hora, nossas referencias espaciais e pessoais sendo eliminadas. Agora mesmo o salão da Nádia,onde pinto os cabelos, na Experimental, vai ser quebrado.O bairro que vi nascer, onde fui à reuniões em centro comunitário, onde vi pela primeira vez Raimunda Bezerra e seu namorado louro do PT da Igreja, onde costumava dar uma chegada na casa do Airton Rocha e sua primeira mulher, vai ser transformado pela fome insaciável do capital das mega empreiteiras que mandam neste país de governos de plantão, paus mandados do grande capital que não está nem aí para os espaços de memória. Aliás, espaços de memória são apenas aqueles que o Poder seleciona, quanto aqueles que resultam do labor e da resistência do povo são eliminados sempre, em nome claro da legalidade. Vamos ficando cada vez mais sozinhos sem Tapajós, sem Mário Lima, numa cidade estranha onde não nos reconhecemos mais e pior, vivemos sem segurança. Há dois dias a senhora dirigente do Centro Espírita Bezerra de Menezes foi atacada, proximo a uma agencia do Banco do Brasil, no centro, em área movimentadíssima, recebendo várias coronhadas na cabeça. Os bandidos levaram sua bolsa e ela está apresentando sintomas graves. Não havia um guarda nas proximdades. Policia no Acre apenas torra gasolina nas largas avenidas. fátima Almeida

Cartunista Braga disse...

Sobre finados, jornalismao e barrigadas.
O velho jornal O Rio Branco, em seu site http://www.oriobranco.com.br/off.asp, ainda mostra a coluna social de Marlize Braga, ATUALIZADA!
isso é coisa do outro mundo, né não, Altino?

Acreucho disse...

Que barbaridade...
E ontem, um idiota fez um comentário num artigo meu dizendo que eu não poderia escrever porque não sou jornalista profissional...
E os que são e fazem essas bobagens?