terça-feira, 8 de julho de 2008

A JUSTIÇA DE STÁLIN SEGUNDO MOISÉS

Sanderson Moura

Moisés é um homem indignado [leia] com os crimes de Nero. Eu também sou, com todo tipo de violência, incluindo aquela que nega o direito que o outro tem de se defender, como fazia Hitler.

Stálin também era assim, embora criticasse Nero. Matava as crianças, os velhos, os adultos, as mulheres. Acusava insanamente todos os seus adversários, nos Processos de Moscou, inventando fatos, construindo estórias, elaborando crimes para se manter no poder. O acusado não tinha defesa, recebia a bala na cabeça ou era expulso de sua pátria ou condenado a viver para sempre nos cárceres de Lubianka.

O justiçamento proposto por Moisés, no compasso de Stálin, não terá espaço no Templo Sagrado da Justiça, enquanto existir homens que façam valer os castiços princípios do processo criminal. Ele confunde comício com Tribunal do Júri. Muitos estão defendendo um julgamento fascista para Hildebrando, sem defesa, sem direitos, desprovidos que estão do bom siso.

Tenho recebido em meu escritório, e com toda a compreensão do mundo, comunistas, petistas, esquerdistas que são acusados de vários crimes, procurando desesperadamente uma voz que os auxiliem na defesa penal. Muitos foram adversários ferrenhos da minha pessoa, mas esquecendo essas ninharias, ergo minha palavra, aprumo a pena e os ajudo em momentos de dor.

Pessoas que me recriminaram e não entenderam meu papel de advogado, em vários casos polêmicos que atuei, ao final me pediram desculpas pela forma ignorante com que tinham me tratado. Sempre eu respondia: "Não há necessidade de perdão porque você não conseguiu me ofender".

A reação febril de Moisés mostra que a tarefa de defender Hildebrando não será fácil, e olha que ele se diz muito racional. As paixões estarão acirradas. O advogado terá, sozinho, ou melhor, muito bem acompanhado - não precisa dizer por quem - que travar a luta, tendo como armas os segredos e os mistérios que sempre acompanharam a defesa em causas dessa natureza.

Do blog do advogado criminalista Sanderson Moura.

3 comentários:

a aguia disse...

Todo cidadão tem direito a defesa está na constituição, não importa o que ele fez,o sanderson está provando que é um profissional independente e que não tem rabo preso.Quém nunca cometeu erros que atire a primeira pedra.

walmir.AC.lopes disse...

Esses ensaios públicos de acusação e defesa, entre dois políticos, envolvendo o nome de um terceiro, ex-político, é um mero processo político (na verdade mais antigo que Nero) à cata de votos e ribalta, que não “inflói” nem “contribói” nas decisões definitivas e soberanas da Justiça. Blog é uma coisa, tribunal é outra.

José Sávio disse...

Caro Sanderson,
Convenhamos, o Moisés em nenhum momento de seu artigo propõe condenação sumária, sem direito de defesa do seu cliente. Dizer que o Hildebrando não era bonzinho, que não é bonzinho, não é novidade, nós acreanos sabemos, como sabemos também que para seus familiares e para os amigos que "usufruiam" de sua proteção, obviamente seu perfil é outro.
Agora, porquê usar parte do decálogo direitista de vincular o Moisés ao "stalinismo", só porque ele é comunista?
Marx, Engels, gramsci e até o Oscar Niemayer, que nunca mataram ninguém, entre tantos outros também o são, e como tu sabes, o comunismo é maior do que Stálin.
Acho legitimo vc tentar "amenizar" os impactos profundos dos crimes do seu cliente, pois isso é estratégico para sua defesa, contudo, há que se respeitar que os outros não pensam igual, não esquecem que seu cliente é sim criminoso, que é sim perigoso e que atrás das grades a sociedade como um todo está mais protegida.
Vá lá, defenda-o, mas não criminalize o Moisés, ou qualquer outro que pense diferente, imputando vinculações a-históricas e anacrônicas na construção de sua defesa.