Luciano Martins Costa
O Brasil celebra em 2008 os vinte anos da Constituição de 1988, fundamental para a reconstrução do Estado de Direito, da qual a imprensa tirou grandes benefícios. Também são lembrados os vinte anos do assassinato do ambientalista Chico Mendes, líder dos seringalistas do Acre. A imprensa cobriu bem o desenvolvimento da Constituinte, mas ignorou a luta de Chico Mendes praticamente até o dia da sua morte, mesmo depois que ele já havia se tornado uma figura reconhecida internacionalmente, com o prêmio Global 500 da ONU. A exceção era o jornal alternativo Varadouro, mantido de 1977 a 1981 pelos jornalistas Elson Martins e Sílvio Martinello, com risco constante de perder suas próprias vidas.
Durante todos os anos da luta dos seringueiros, até 2008, a imprensa regional da Amazônia apoiou incondicionalmente os fazendeiros que, com financiamento oficial e suporte do Estado, empurravam as fronteiras da agropecuária para dentro da floresta, tornando impossível a vida dos seringueiros. Dezenas de coletadores de castanhas e de látex foram mortos por pistoleiros, sob o silêncio omisso e cúmplice da imprensa nacional, até o dia 22 de dezembro de 1988, quando Chico Mendes tombou, baleado por um criador de gado. A imprensa brasileira só enxergou o drama dos seringueiros depois que o New York Times publicou em primeira página uma reportagem sobre o drama que se desenrolava nas florestas da Amazônia Ocidental.
Na semana que passou, a revista Veja voltou a se interessar por Chico Mendes. Mas não necessariamente para relembrar sua luta e atualizar seus leitores sobre a luta pela preservação da maior reserva de biodiversidade do planeta. O que chamou a atenção de Veja foi o cheiro de sangue: a viúva de Chico Mendes, Ilzamar, concedeu entrevista ao blog do jornalista acreano Altino Machado, na quarta-feira (2/4), na qual desfiou um rosário de queixas contra o governo petista do Acre, a quem acusa de não respeitar o legado do líder ambientalista. Jornalistas de Veja passaram os últimos dias tentando falar com ela, para dar amplitude nacional ao seu descontentamento.
Ilzamar Mendes tem suas razões para se queixar do uso político da memória de seu marido, embora nunca tenha se destacado como militante de frente antes do assassinato. Mas ela ajudou a ampliar o alcance da mensagem dos seringueiros, com apoio dos filhos de Chico Mendes, e seus alertas sobre as perdas das reservas de seringueiras pelo avanço das pastagens precisam ser ouvidas. No entanto, a imprensa deveria estar atenta ao que se passou no Acre nos últimos quinze anos, com as lideranças nascidas no movimento ambientalista que produziram uma inegável renovação na política local, que afastou do poder os coronéis que oprimiam os seringueiros com o gatilho dos jagunços.
◙ O jornalista e escritor Luciano Martins Costa é da equipe do Observatório da Imprensa. Clique aqui para leitura completa do artigo.
7 comentários:
Trinta anos... da Constituição?
Falei com Luciano agorinha. Ele já tinha percebido o erro e disse que está providenciando a correção no OI. Tomei a liberdade de alterar no trrecho reproduzido aqui. Tudo bem Ismael? Seu blog e sua leitura atenta fazem bem. Abração
“Chico Vive” Esse legado vai deixa de existir talvez mais perto do que imaginamos, se o poder publico e nos continuar fazendo quase nada para saúva a Amazônia.
Ser o Chico continua vivo após o tiro dos Alves, deve está perto de morre agora através de cada pedaço de destruição feito dentro da. Em cada arvore derrubada, madeira vendida, animais em extinção no capim plantado, no estralo do fogo incendiado Amazônia.
Cadê os Chicos? Pode ser cada um de nós.
Leila Ferreira
Infelizmente, não tenho um blog pessoal. Mas sou leitor assíduo de seu blog. Abraços.
Confundi você com outro Ismael, blogueiro. Abraço
O Acre tem uma história de receber gente que por aí chegou para tirar tudo como gafanhotos.As pessoas aí nascidas é que vão mudar isso.
muito se fala de preservaçao da amazonia e desse tal Chico, porem pouco se fala de um projeto para aqueles que dela vivem e que nela vivem. Nos outros estado creio que nao seja diferente, que tivemos o unico e ultimo projeto de desenvolvimento do estado no governo Wanderley Dantas, fico observando as açoes do governo federal, e vejo que nada mais sao do que copias dos projetos iniciados e pensados na Revoluçao Militar de 64, tais como o proprio PAC que foi idealizado pelo presidente Ernest Geisel, transamazonica, projeto Rondon, ferrovia norte-sul entre outros
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