Antonio Alves
Foi só escrever que o calor estava demais e pronto, bateu a friagem, democratizando a frescura e o clima de Brasília que agora impera em terras de Galvez. Bom pra mim, que precisava esfriar a cabeça. Ainda estou bastante contrariado com a decisão do Senado, de abolir o fuso horário acreano e anexar nosso estado ao horário pretendido pelos bancos, pela Globo, pelos políticos e seus seguidores que não orientam suas vidas pelo sol ou pela lua, mas pelas leis do mercado.
O prejuízo é inavaliável. Nenhum desses vitoriosos capitães do progresso consegue ter idéia do tamanho da cagada que fizeram porque não pensam em processos culturais e civilizatórios, mas em negócios. São aqueles que, como dizia Caetano Veloso nos idos de 70, “enxergam a década, mas não conseguem ver o minuto e o milênio”.
Pensei em armar-me de paciência e explicar, para estes senhores espertos e seus seguidores bobos, pela milésima oitava vez, os fundamentos de uma economia diferente do capitalismo ao qual eles se adaptam tão bem, uma cultura diferente da alienação urbanóide na qual estão mergulhados, uma utopia que pudesse salvá-los do vazio existencial ao qual o pragmatismo os condena.
Mas não adianta. Agora, são favas contadas. O presidente da República deles sancionará a lei “dentro de alguns dias”, como dizem em seus informes oficiais. Tenho, portanto, todas as horas do futuro para escrever minhas lamentações –pois não serão mais que isso.
Faço, por agora, apenas um aviso amigo. Ao desprezar a modesta opinião e a frágil resistência dos poucos que se manifestam contra essa desastrosa mudança, os vitoriosos defensores do novo confuso horário estão desligando a pouca sintonia que ainda mantinham com parcelas ao mesmo tempo elevadas e profundas da alma amazônica (que são minoritárias justamente por serem elevadas e profundas, pois a muito pouca gente é permitida maior distância no mergulho e no vôo).
Entendam como quiserem, ironizem à vontade. Sei o que estou dizendo.
E agora vou aproveitar um pouco a friagem, antes que acabe.
◙ Antonio Alves escreve no blog O Espírito da Coisa.
Um comentário:
Me lembro de um dia a MTV Brasil ter lançado uma campanha no mínimo estranha em seus intervalos. Tirava a programação do ar e jogava uma tela preta com aquele sonzinho de canal fora do ar, acompanhado dos seguintes dizeres: "Desligue a TV e vá ler um livro". Eu creio que, irreversível como parece ser, esta decisão devia servir de gancho para mudarmos nossos hábitos bobos de noveleiros. A TV não é a medida de todas as coisas. Aproveitemos nosso tempo livre com coisa mais útil que ficar vendo pole dancing na Globo!
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