segunda-feira, 28 de abril de 2008

MAIS CAPIM

Altonio Alves

Toda essa confusão horária nos tirou a atenção do assunto mais importante dos últimos tempos, que foi tratado pelo Meirelles em expressivo artigo publicado no blog do Altino [leia]e no site da Biblioteca da Floresta (que, aliás, está ótimo, editado pelo Élson Martins e pelo Marcos Afonso). A devastação na “amazonía” peruana é, para o Brasil e particularmente o Acre, uma sujeira na água que vamos beber. Mas o Brasil não liga e o Acre está muito ocupado adiantando o relógio.

Quando digo que a política é uma merda, tem gente que se ofende. Mas vejam só: nenhum detentor de cargo político importante pode exigir do Peru a punição dos assassinos de Julio Agapito, isso seria meter-se nos assuntos internos de outro país, um erro político gravíssimo. É, mas levar “empresários” brasileiros pra passear no Peru, ou trazer os de lá para cá, é uma ação meritória que promove o “intercâmbio” e a “integração”.

Nos anos 70, lá na França, onde ainda havia gente com mania de pensar, Giles Deleuze e Felix Guatari criaram uma expressão interessantíssima: “modo capitalístico de produção da subjetividade”. Acho que descreve bem o que acontece com algumas pessoas que conheço. O capitalismo padroniza a mente. Agora estamos obrigados a provar que se pode ganhar dinheiro com a floresta, caso contrário seremos teremos que concordar com os argumentos capitalistas para derrubá-la. Biodiversidade? Ou dá dinheiro ou vamos apelar para a monocultura. Índios? São pouco produtivos... E por aí vamos. Melhor dizendo: por aí vão –porque eu me recuso- os criadores do velho consenso econômico que constrói o mundo e a estrutura mental ajustada a ele.

E agora, pra piorar as coisas, alguns milicos neuróticos, saudosos da ditadura, fazem banzeiro nas águas da imprensa com seu nacionalismo de fancaria e dizem que para garantir a soberania nacional temos que tomar a terra dos índios e entregá-la aos fazendeiros. Mais uma vez nossas lideranças políticas concordam –senão com a forma, certamente com o “conteúdo”- e já se apressam em aprovar rigores contra as perigosíssimas ONGs que atuam na Amazônia.

Francamente, pensei que algumas dessas besteiras já tivessem sido superadas em velhos debates nos anos 80 do século passado. Mas a subjetividade capitalística se recompõe, é uma praga. Pelos hábitos, pelos sonhos de consumo, pelos confortos urbanos, pelas alianças políticas, pelo medo de perder o emprego, por todos os buracos do corpo essa erva daninha cresce e penetra.

O jeito é comprar outro terçado.

O jornalista Antonio Alves escreve no blog O Espírito da Coisa.

10 comentários:

Válber Lima disse...

Toinho, acho que teremos um ativo de altíssimo valor econômico, se fabricarmos terçados em série para combater essas pragas da padronização das mentes e do modo capitalista de produção da subjetividade.

Anônimo disse...

É Toinho, o contra-ambientalismo mostra as suas garras.

Abraço,

Anônimo disse...

A subjetividade capitalística se recompõe, é uma praga e o pior de tudo é que nasce aonde a gente menos espera.

Anônimo disse...

Cada vez que leio algum comentário tecido pelo Toinho vejo o quanto precisamos avançar....porém também percebo que estamos sendo minados pelos "florestaneiros com cargos".

Saudades do Acre disse...

O imediatismo do lucro e da ampliação do mercado consumidor, deturpa a visão da realidade.
O fabricante de sapatos, só como exemplo, olha para um ser humano e vê uma centopéia.

Unknown disse...

Sabe, Toinho, uma das coisas que consegue me incomodar é quando alguns companheiros, embarcam no desespero da busca de alternativas de "uso econômico das florestas". A meu juízo, aí tem um equívoco, na medida que ao assim agir, o que faz, em verdade, é embarcar na argumentação dos devastadores. Desde de um ponto de vista ambientalista a preservação ambiental tem outros fundamentos que deveriam preceder a base econômica. (claro, que não estou excluindo o uso econômico das florestas)

Certamente, a esta altura, algum avexadinho já deverá está retrucando: e como vamos ampliar a produção? Como vamos criar novos empregos?

Pois é. Falam isto de forma tão imperiosa que até parece um imperativo a continuação da destruição do planeta para que o capital continue a ser acumulado.

O mundo precisa andar rápido num remanejamento do uso dos recursos naturais – os recursos naturais inclui a terra. Este alerta é antigo, está lá, nos momentos nos quais os clássicos do pensamento econômico e social gastaram as primeiras tintas. No início da segunda metade do século vinte, foi levantada a previsão do iminente esgotamento dos recursos, diante da forma que usávamos os recursos – desperdícios - e considerando os ritmos de crescimento impostos à produção.

Pois bem. Ao lado desse remanejamento dos espaços da produção existem outros fatores, agora, postos como um bode na sala da humanidade: o que fizemos e continuamos a fazer implicará a continuidade da vida humana sobre o planeta. Este é o ponto. Modificamos o planeta de tal formal que é a humanidade que está em risco. Os socialistas que tinham em mente a emancipação, necessitam incorporar o objetivo de salvar a humanidade.

Se assim pensamos, não devíamos embarcar na problemática proposta pelos operadores do capital. Não se trata de explorar a floresta e comparar os lucros com os obtidos com as explorações tipicamente capitalistas. Não é isto.

Quem põe em risco o prosseguimento da vida humana sobre o planeta é a forma capitalista de exploração dos recursos.

Sem dúvidas, por estar cientificamente demonstrado, o padrão empresarial na agricultura é um desastre ambiental – além dos efeitos sociais perversos que produz. A grande empresa capitalista monocultural, apoiada na destruição de todo o ciclo e trocas que garantem a reprodução do solo, deixa um rastro de solos imprestáveis, impõe alterações nos regimes de ventos, destrói os mananciais de água potável, contamina as reservas hídricas, está por trás da formação de um padrão de urbanização caótico, and so on. Consegue, com esse padrão produtivo, lucros elevados na medida que não é convocada a cobrir os custos que provoca. Seria possível ouvir as afirmação do senhor Veronez se fosse diferente?

Sinceramente, não acredito em mudanças significativas nesse processo destrutivo com conversas e atitudes de cooptação e intercâmbio de favores entre a burguesia pecuaristas e setores do governo. Precisamos, isto sim, governos que possam alterar a histórica arbitragem dos prejuízos e custos da ação humana sobre o planeta. Ou seja, é preciso modificar a linha dos perdedores perpetuados pela prática política classista. Vamos inverter o sentido do prejuízo.

É tempo de perguntar: quanto precisamos de alimentos para alimentar a população? quanto temos de terra que pode ser usada de forma racional por produtores familiares? o que temos de realizar para recuperar de solos destruídos? como vamos organizar a nossa produção de forma a manter os ciclos de reprodução dos solos?

Os últimos dias sinalizam que a pior das crises, provocadas por essa corrida pelo lucro, através e apoiada numa criminosa prática especulativa, já está em andamento: a falta generalizada de alimentos para a humanidade. No Acre, é tempo de pensar como faremos a medida que os preços dos alimentos que importamos continuem a crescer.

Se alguém gritar que isso é produção de miseráveis, que não permite ninguém ficar rico, esse, deixe de fora. Vamos declarar que a partir daí cuidamos da sobrevivência da humanidade.

Unknown disse...

Enquanto o povinho esta se preocupando com a Bolivia e Peru, aqui no seringal cachoeira e reserva Chico Mendes, estão desmatando escondidos por tras do manejo jorgestavel.

Unknown disse...

...esqueci de um detalhe: o terçado deve ser um 128. Antes, se podia comprá-lo na loja do pai do Brachula ou no Tufic Assmar. Agora, não sei onde se pode achá-los.

Unknown disse...

...putz, meu texto sobre o terçado para o Toinho é horroroso! Haja 'se pode'...

lindomarpadilha.blogspot disse...

Caros Altino e Toinho,

Eu gostaria de lembrar que quando "o" Senador fez aquela série de defesas intransigentes da exploração de petróleo e gás natural no Acre contou com o apoio total do grupo Cameli. Aliás, o Orleir de autodenominou de "verdão". Os verdões detem muitas empreses sendo algumas delas ligadas à exploração madereira, petróleo e pecuária.

Enquanto isso: terras indígenas a serem demarcadas e sem providência, terras indígenas invadidas, reservas extrativistas sem condição de fornecer o bem viver aos seus moradores e, por isso mesmo, há uma devastação gigantesca nessas reservas.

Os neoflorestanos apoiam mas depois apresentam a conta, sem nota foscal, direto para o caixa 2.

Bom trabalho

Lindomar Padilha