segunda-feira, 21 de abril de 2008

ACREANO DO SÉCULO


Minha eterna gratidão a Manoel Eriberto Saraiva Machado, meu saudoso pai, que num certo dia do ano de 1962 encontrou o então deputado federal José Altino Machado, ex-governador do Território Federal do Acre, e fez a seguinte promessa:

- Minha mulher está grávida. Se nascer uma menina no próximo ano, vai se chamar Ivanir. Mas, se for homem, será batizado como José Altino da Cruz Machado em sua homenagem.

E cá estou, após ter sido recebido hoje, como se filho fosse, pelo casal Ivanir e José Altino Machado (foto), no apartamento deles no Itaim Bibi, em pleno feriado nacional, em São Paulo.

Devo confessar que já não sou mais o mesmo desde então, mas agora sou capaz de matar de inveja algumas daquelas 100 figuras (dezenas delas sem o menor mérito), que receberam do então governador Jorge Viana, em 2003, espadas miniaturizadas (veja aqui a lista divertida) com o título de "Acreano do Século", durante o Centário da Revolução Acreana.

Agora posso me considerar um "Acreano do Século" de verdade. Altino Machado, que não mereceu o título naquele ano, concedeu-me uma honraria: a baioneta (arma branca pontuda que se adapta ao extremo do cano de fuzil ou espingarda, usada por soldados de infantaria em combates corpo a corpo) original que ganhou, em 1961, de um veterano da Revolução Acreana, durante a solenidade de posse no cargo de governador do Território Federal do Acre, nomeado que fora pelo então presidente Jânio Quadros.

- Matei apenas um boliviano com esta arma - contou baixinho ao governador o veterano da tropa de seringueiros e seringalistas que lutou sob o comando do coronel José Plácido de Castro pela conquista do Acre.


Na foto acima, Altino Machado aparece com o anônimo veterano (fardamento original, de óculos), que segura o sabre na mão esquerda. Alguém consegue identificá-lo pelo nome? Na foto abaixo, a velha baioneta que agora carrego comigo.


Nós, acreanos, parecemos amar a história da conquista do Acre, mas na verdade somos mesmo é bastante relapsos. Há dois anos, por exemplo, o Exército destruiu 1.450 armas obtidas durante a Campanha de Desarmamento.

Trinta delas eram de valor histórico, pois foram usadas em combates que envolveram seringueiros brasileiros contra militares bolivianos durante a Revolução Acreana. As armas foram destruídas e ninguém fez nada para protegê-las como patrimônio histórico, especialmente as autoridades que distribuíram espadinhas, que sabiam da existência delas em poder do Exército e da Polícia Federal. Leia sobre o caso neste blog, em "Memória acreana no lixo" e "Agora é lixo".


Altino Machado possui uma coleção de xícaras que já contou com 180 unidades, adquiridas nas viagens que fez pelo mundo durantes os bem vividos 84 anos. Ele presenteou-me com uma das duas xícaras que trouxe do Acre há mais 45 anos. Nela está escrito: "Sorveteria Acreana, de Mustafa Zacour El Hindi, Rua 17 de Novembro, 62, Rio Branco - Acre".


O ex-governador, que é da Academia Paulista de Letras, também presenteou-me com seus livros de contos e uma pequena pasta com capa de couro, da Presidência da República, onde estão reunidos os memorandos do Território do Acre, assinados pelo presidente Jânio Quadros, durante uma reunião de governadores em Cuiabá, em abril de 1961.

Além de tudo isso, está comigo um álbum com mais de 100 fotos inéditas dos quatros meses em que Altino Machado governou o Acre, até o dia que Jânio Quadros renunciou à presidência e uma carta do saudoso ex-governador Joaquim Macedo, tio do ex-governador Jorge Viana e do senador Tião Viana.


Cheguei a possibilitar que Altino Machado e Joaquim Macedo retomassem contato em torno da velha amizade. Na carta, com data de 14 de maio de 2003, Macedo contava ao velho amigo:

"Caríssimo Altino,

Remeto anexo o jornal Página 20, onde o Altino daqui escreve um artigo dizendo superficialmente quem é o Altino governador.

Reflete bem sua chegada no Acre e a simpatia com que você envolveu os acreanos, que lhe estimam até hoje.

Lembro-me com muitas saudades do nosso primeiro encontro em Brasiléia, na escola Brasil Bolívia. Ali nasceu uma amizade que muito me orgulha.

Espero não demore muito viajar a São Paulo, quando quero abraçá-lo.

Recomende-me a seus familiares.

Aceite afetuoso abraço do

Joaquim Macedo"

Segue o registro parcial, em vídeo, do reencontro inesquecível com o meu Xará paulista.

- O Acre é apaixonante pelo desafio que ele é - diz ele.

Parte I


Parte II


Parte III


17 comentários:

Anônimo disse...

Ufa, que belas velhas lembranças que você nos trás.
Neste álbum de 100 fotos, com certeza vai nos mostrar um pouco mais do nosso querido Acre.
Que inveja da xícara e dos livros, depois fale o nome dos livros.


Leila Ferreira

Anônimo disse...

São estes assuntos que engrandecem cada vez mais seu blog.

Anônimo disse...

Caro Altino:

Qualquer homenagem que tente nivelar personagens expressivos, históricos ou atuais, com alguns histriões inexpressivos, não passa de uma farsa, pois ao homenagear os últimos, ofende os primeiros.
Portanto, o ex-governador Altino Machado, figura que tem seu relêvo garantido no prcesso histórico do acre, nada perdeu ao ser preterido na concessão de tal "honraria".
Justa homenagem presta-lhe você, ao reintegrá-lo, como vem fazendo, à memória dos acreanos.
Quanto ao sabre que ele passou às suas mãos, se o fez, certamente não foi apenas em função de sincera amizade, pois amigos não lhe devem ser escassos, muito ao contrário.
Creio que foi resultado, acredite você ou não, de um processo místico. O sabre, recebido das mãos de um combatente acreano, aguardou pacientemente o dia de retornar para casa, definitivamente, pelas mãos de outro combatente acreano. É minha sincera opinião. Grande abraço.

Walmir Lopes

Anônimo disse...

Ilustre Jornalista: Sou leitor assíduo de seu blog e vc ñ imagina a satisfação que eu tive quando deparei com esta reportagem à respeito do Grande Governador Altino Machado. Na época eu era funcionário do D.O.V. e membro da Diretoria da Casa do Estudande Acreano.
Quando da passagem do Candidato à Presidente Jânio Quadros em campanha por Rio Branco,nós membros da casa do Estudante, tivemos um encontro com o mesmo e sobre nossas reinvidicações êle nos informou que se eleito fosse, nomearia para Gov. do Acre um jovem de sua total confiança e que nós o procurássemos, pois ele estaria orientado para atender nossas reividicações.Foram 4 meses de total entrosamento.Como é do conhecimento de todos, veio a renuncia por parte do Jãnio e mesmo contra a vontade daqueles que o conheciam, o Sr. Altino tambem renunciou.
Lembro-me da primeira eleição, para todos os cargos do então mais novo estado da Federação (AC) e naquele dia, o sr. Altino abordava à todos que passavam em frenta a sua provisória residência(CASA da FAMÍLIA SÓ DE BARROS) e perguntava?: Voce já tem o santinho do Altino? e com esta capanha o mesmo foi eleito. Provando assim,que sua aceitação como Governador foi totalmente aprovada.

Anônimo disse...

Estamos aguardando, se possível a públicação da fotos doadas pelo Sr.Ex.Gov. Altino Machado. Certo?

Anônimo disse...

Altino, tenho a impressão de que o cambatente da foto é o Sr. Oscar Nogueira, que residia ali na Rio Grande do Sul e faleceu em 2001, já com quase 100 anos. Conheci-o já bem idoso, mas as suas feições em muito lembram a desse combatente. É uma pista. Que você, Altino, continue combatente! Socorro Neri

ALTINO MACHADO disse...

Caro Walmir,

o meu Xará explicou-me agora que a arma é uma baioneta e não um sabre. Baioneta é "arma branca pontuda que se adapta ao extremo do cano de fuzil ou espingarda, us. por soldados de infantaria em combates corpo a corpo". Já corrigi o post. Estarei esperando por você no Acre. Partirei para lá daqui a pouco. Forte abraço.

Anônimo disse...

É um sabre-baioneta.
Quando "trabalha" sòzinha é sabre. Quando "trabalha" encaixada em fuzil ou mosquetão é baioneta.

Jalul disse...

Companheiro Altino, com certeza não se trata do Senhor Oscar Nogueira. Este era oficial da extinta guarda territorial. Na infância, quando quería alguma fruta do quintal dele ou surrupiar alguns sequilhos de polvilho feitos pela esposa dele, eu aumentava a patente do Oscar, chegando a chamar o velho sargento até de general. Não é o Seu Oscar.

Se você tiver vontade de reconhecer pessoas de fotos anigas, na falta da minha fonte, procure Dona Alegria Insper ou Dona Edite Fecury.

Um abraço grande, não sem antes dizer que estou perfeitamente acostumada com o fuso horário daqui.

Anônimo disse...

Altino, a Leila tem razão. O combatente da foto não pode mesmo ser o major Oscar Nogueira. Este foi comandante da extinta Guarda Territorial. Acabei não te dando pista alguma. Abraços. Socorro Neri

Anônimo disse...

Altino, estamos aguardando a publicação das fotos doadas pelo sr. Altino.Vai demorar?

ALTINO MACHADO disse...

Quem é que aguarda a publicação das fotos? Se vou demorar a publicá-las? 1) Não prometi publicá-las; 2) Travo quando me pressionam para fazer algo que não seja de minha iniciativa. Acalme-se, é melhor. Caso tenha, esfria a piriquita.

Jalul disse...

Porra, chefe, eu não pedi nada. Sei que você tá lombrado com a minha humilde pessoa. Tô cansada, chefe. Muito cansada!
Mas estou espantada, chefe! De repente, não mais do que de repente, o Sargento Oscar transformou-se em Major. Se eu soubesse disso, teria pedido muitas manguitas e muitos sequilhos.
Aqui, na Bahia, são exatamente 13 horas e 24 minutos.
Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.
Beijos no seu coração.
Quando chegar no Acre, me chama, me chama, me chama...

Anônimo disse...

Que delicía Altino!!! Que belo momento você deve ter vivido.

ALTINO MACHADO disse...

Sim, minha querida Alcilene. Foi como reencontrar uma parte de mim.

Janu Schwab disse...

- O Acre é apaixonante pelo desafio que ele é.

O ex-Governador consegue traduzir numa única frase o que cabe no forte vínculo existente entre algumas pessoas e nosso estado. Como filho de acreano, a frase me deixou feliz.

Abraço fraterno. Altino.

Anônimo disse...

Boas lembranças, ainda temos varias xicaras da antiga sorveteria.