segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A FOZ DO JURUÁ NO JORNAL NACIONAL

Edvaldo Magalhães


A confusão provocada pelas notícias imprecisas sobre a "Expedição Juruá Sempre" me faz refletir sobre como o Brasil desconhece o Brasil. A Amazônia, nem se fala.

Quando um dos mais prestigiados telejornais do país mostrou imagens de parlamentares acreanos mergulhando no rio, pensei como os brasileiros poderiam entender tudo diferente se o apresentador informasse que ali o Juruá deságua no Solimões, formando o caminho de águas que permitiu nosso povo ocupar a região mais oeste e, até hoje, mais isolada do país.

A abordagem que o Jornal Nacional foi levado a dar sobre a "Expedição Juruá Sempre", acabou fazendo o que pode haver de mais lamentável no jornalismo: desinformar.

Um olhar sobre a realidade da Amazônia já espanta qualquer dúvida sobre os propósitos da expedição que varou noites navegando de Cruzeiro do Sul a Manaus em um barco que precisou até da ajuda de um “empurrador” (barco-motor que empurra outro com problema). Viajar pelos rios da Amazônia não é fácil. Por aqui não se passeia, ainda se desbrava.

Desde o início da navegação entre Manaus e Cruzeiro do Sul, há mais de cem anos, esta é a primeira iniciativa institucional que se lança no Juruá e no Solimões para avivar o debate de políticas públicas para essa hidrovia, principal responsável pela construção e sobrevivência das cidades e comunidades ribeirinhas no grande vale do Juruá.

A expedição teve propósito claro: buscar conhecimento prático, observar condições ambientais e levantar informações para defesa da revitalização e do fortalecimento deste eixo hidroviário como instrumento imprescindível para o desenvolvimento sustentável da região.

Não fomos ao Juruá em busca de uma nova espécie animal ou vegetal ainda não identificada pela ciência. Fomos aprender com a realidade dura dos que precisam percorrer os caminhos das águas para abastecer as nossas comunidades, para deslocar-se em busca de um socorro. Matando carapanãs, espantando piuns e mucuins.

Chamar atenção para os potenciais mal explorados e não explorados dos nossos rios, enquanto ainda há tempo de salvá-los, é causa justa. Esse foi o propósito da "Expedição Juruá Sempre" e continuará sendo motivação da Assembléia Legislativa do Acre.

Não se pode e nem se deve querer falar das coisas só por ouvir dizer. Fomos ver de perto para contar de certo. A expedição foi transparente. Anunciada antes, divulgada durante e depois. Todos puderam acompanhar via web. A distorção feita pode ser coisa comum da política.

Como agentes públicos, estamos permanentemente expostos e submetidos aos mais diversos questionamentos. Isso é bom. Faz parte da democracia que estamos construindo. Nosso dever é responder a todos. Com transparência e tranqüilidade.

Passado a fase do não propósito, trataremos do conteúdo correto.

A vida vai provar que cuidar dos rios e investir numa política hidrográfica fará bem ao Acre e aos que aqui moram. Mesmo os que estão esquecendo que somos filhos dos igarapés, netos dos rios e descendentes das chuvas.

O deputado Edvaldo Magalhães (PC do B) é presidente da Assembléia Legislativa do Acre.

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