domingo, 23 de setembro de 2007

ESTADÃO REINVENTA A REALIDADE

Repórter Agnaldo Brito assina hoje, no caderno Economia & Negócios, do Estadão, reportagem que induz o leitor a imaginar que ainda estamos no ciclo da borracha e que toda a população do Acre está envolvida na produção de látex.

Logo no título, o jornal afirma: "Seringais reinventam o ciclo da borracha". E abre a reportagem com uma suposta boa-nova: "Os seringueiros do Acre descobriram uma nova forma de ampliar os ganhos com a produção de látex, matéria-prima da borracha. Trata-se do 'couro vegetal', tecido de algodão banhado com látex até se tornar emborrachado".

Ora, pois. Não existe novidade e nem os seringueiros descobriam nada. Há 150 anos, eles aprenderam com os índios a fabricar artesanalmente o encauchado, emborrachado ou couro vegetal. Além disso, o que aconteceu foi que o produto passou a ser comercializado precariamente em mercados alternativos há mais ou menos uns 15 anos.

Embora o IBGE todos os anos nos indique que sofremos com as consequências do êxodo rural-urbano, Raimundo Mendes de Barros, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Acre e primo de Chico Mendes, afirma na reportagem que "tem seringueiro voltando à floresta para produzir borracha".

A bazófia de Barros não se sustenta caso alguém o desafie a identificar quem está indo da cidade para a floresta. O que os "seringueiros" fazem hoje, sobretudo na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, é derrubar e tocar fogo na floresta para expandir a pastagem de gado existente na área.

Quem sobrevive realmente da produção de lâminas de couro vegetal são mais ou menos 50 famílias de Boca do Acre, município que a reportagem esquece de informar como pertencente ao Amazonas. O jornal diz que a fábrica de preservativos do Acre vai impulsionar o setor da borracha e menciona até a existência de subsídio como incentivo para repovoar os seringais. Continuo sem acreditar em Matinta Pereira. E você?

O site AC 24 Horas reproduz a reportagem do Estadão. Clique aqui.

9 comentários:

Anônimo disse...

Essa tecnica do couro vegetal foi roubada dos índios, os quais nunca receberam nenhum crédito por isso. Todos omitem ou desconhecem esse fato. E a cooperativa de couro vegetal q tem em Boca do Acre só não deslanchou pois seus produtos foram barrados na europa, isso porque a Bia, ex-esposa de Marcelo Inglesias, patenteou o produto e prejudicou várias comunidades por toda a Amazônia.

Enfim, tem muita coisa q não é contata direito...

Anônimo disse...

Bom dia, Altino! ontem à noite, li essa matéria do Estadão e queria saber a "verdade" dos fatos. Agora, q surpresa! tá aqui, no Blog, o que eu queria saber. Rapidinho! Vc é mesmo fera, meu querido Altino.

Anônimo disse...

Caro Altino,
Veja o comentário do Nelson Liano no Página 20 de domingo. Não haveria nada de estranho não fosse o fato de, ele, estar trabalhando em favor da prospecção de etróleo e gás e ter trabalhado ardorozamente em favor da concessão (privatização) das florestas públicas. Eu também não acredito em matinta pereira mas, que o mapinguari existe ah existe.
Bom trabalho.

Lindomar Padilha

"Alerta: rios e lagos do Juruá em risco

Recebi uma série de cartas esta semana de moradores do rio Alogoinha apavorados com os bárbaros crimes ambientais que estão sendo cometidos na região. A pesca predatória com tingüi e timbó está envenenando as águas de vários rios e lagos do Vale do Juruá. Já a caça com cachorro espanta os animais e tira da boca das famílias dos trabalhadores rurais o complemento alimentar. Tem gente que caça e depois leva centenas de quilos de carne de caça para vender nos mercados de Cruzeiro do Sul. Nos rios e lagos onde se joga o tingüi e o timbó é preciso esperar dez anos para que os peixes voltem a ser pescados. Por outro lado, o escritório regional do IBAMA admite que não tem recursos humanos suficientes para fiscalizar as práticas predatórias. Isso é uma contradição, na medida que o Juruá é uma das maiores biodiversidades do Planeta. Está na hora do Ministério do Meio-Ambiente tomar providências urgentes em relação a esses fatos. O Pesacre, uma das poucas ONGs sérias que atua no estado, na época que tinha no Juruá o agrônomo Cazuza fez um trabalho maravilhoso em relação a essas questões na comunidade de São Salvador no rio Môa. Talvez fosse a hora de reabilitar essa experiência bem-sucedida do Pesacre."

Anônimo disse...

O Altino continua pensando que apenas A Gazeta exige cadastro e assinatura para acessar a versão eletrônica do jornal. O link que ele acrescenta a matéria esbarra no "cadeado" que o Estadão usa para fechar a porta aos não-assinantes.

Anônimo disse...

Altino
Quanto a fábrica de camisa de vênus eu, particularmente, admiro o projeto. Creio que, se levado em frente, será um belo exemplo de desenvolvimento sustentável.
Acho, também, que suas palavras quanto a famosa reserva extrativista está exagerada.

ALTINO MACHADO disse...

Então me prove que na Reserva Extrativista Chico Mendes ninguém derruba nem tocar fogo na floresta para expandir a pastagem de gado existente na área. Existe seringueiro com até 300 cabeças de gado. Um deles outro dia lamentava ao pesquisador Carlos Valério Gomes que os seringueiros passaram muitos anos lutando contra os fazendeiros e que depois de tudo que se passou querem ser fazendeiros também.

Anônimo disse...

Altino
Particularmente não acredito que nossos ancestrais eram aves de rapina, como acreditam alguns. Sou mais da teoria do macaco. Lembro que, desde que nossos ancestrais equilibraram-se sobre 2 pés para olhar sobre as savanas, o horizonte, o homem começou a traçar seu caminho. Caso não sejam dadas oportunidades extrativistas mais rentáveis que o gado, prevalecerá a lógica da busca pela melhoria de vida.
Na sua lógica teremos que culpar os casais por terem tantos filhos e não o Estado por não ter um programa adequado de controle de qualidade...

ALTINO MACHADO disse...

Veja o que você escreveu:

"Na sua lógica teremos que culpar os casais por terem tantos filhos e não o Estado por não ter um programa adequado de controle de qualidade..."

Que idéia absurda, meu caro. Nem vou entrar nessa discussão. Esse controle de qualidade levou ao nazismo.

Anônimo disse...

Altino

Me perdoe, é que estava pensando na qualidade do seu blog e acabei, em minha ignorância, escrevendo a palavra indevida. Estou certo que vc entendeu que eu queria colocar "controle da natalidade".

Tenho, a vida inteira, procurado me corrigir dessa falta de atenção crônica, infelizmente, sem sucesso.

Não quero discutir com vc, jornalista, até porque certamente seria derrotado. Permito-me, apenas e tão somente, a expressar minha opinião, mesmo que, às vezes, contrária à sua.