quinta-feira, 9 de agosto de 2007

UM PROBLEMA AMBIENTAL

Márcio Menezes

O fogo destrói, aniquila a vida e por onde passa deixa um rastro de destruição.
As queimadas são utilizadas como forma de limpeza de áreas novas para plantio e para renovação de pastagem. Apesar de existir outros métodos de “limpeza” dessas áreas, as queimadas constituem a maneira mais utilizada, principalmente pela facilidade e baixo custo. Porém, é perigosa e predatória. Não se avalia a degradação ambiental.

A fumaça liberada, fruto da combustão, juntamente com os gases liberados por meio da queima de combustíveis fósseis, são emitidos à atmosfera contribuindo para o aumento do efeito estufa, que trará conseqüências ao meio ambiente e ao homem difíceis de serem reparadas.

O fogo é amplamente utilizado na zona rural de nosso Estado. Os pequenos agricultores recorrem a essa prática milenar de trabalhar com a terra no preparo de pequenos roçados para implantação da agricultura migratória. Após três a quatro anos, essa agricultura de corte e queima começa a apresentar alguns problemas. Na própria ação e manejo do agricultor, quando desbrava novas fronteiras agrícolas, nota-se que essa expansão ocorre em virtude da “terra ter ficado cansada, fraca” (frase comum entre os agricultores).

Devemos compreender esse fato entendendo como funciona a floresta e o ciclo que a mantém em constante dinamismo. Os galhos, folhas e frutos que caem das copas das árvores são decompostos pela gama enorme de microorganismos que vivem no solo. Após a decomposição dessa matéria orgânica, os nutrientes que a compunham tornam-se disponíveis para alimentar outras plantas, por isso afirmamos: esse natural ciclo biológico é o responsável pela permanência, manutenção e consolidação da vida na floresta. Sem a atividade da biota do solo ativa e de sua cobertura vegetal, causado pelo uso do fogo, a terra fica exposta ao sol e às gotas da chuva, começando assim o processo degradativo da paisagem. Isso acontece por que o impacto das gotas da chuva, ao chocar-se com o solo desnudo, desestrutura suas partículas, transformando-a num pó fino, sendo facilmente arrastados, causando erosão. A cinza, rica em nutrientes, tem o mesmo destino, sendo ainda mais fácil de ser lixiviada.

Com a fertilidade do solo comprometida, os problemas com surgimento de “espécies daninhas” se agravam, contribuindo com aumento da mão-de-obra e o aparecimento de pragas e insetos se intensificam, característicos de plantas mau nutridas e de desequilíbrio ambiental. Assim, os agricultores abandonam essas glebas e buscam novas fronteiras, começando novamente o ciclo.

É prática comum entre criadores de bovinos utilizarem o fogo como “limpeza” das pastagens. O surgimento de espécies que “sujam” os pastos (de considerável rusticidade), está diretamente correlacionado ao inadequado planejamento, uso e manejo dos pastos. Proceder com práticas como divisão e rotação de pastos, lotação ideal de animais compatível com a oferta de gramíneas, tempo de permanência na área, e, a eliminação de plantas indesejáveis antes da florada, são, por exemplo, algumas formas utilizadas para coibir a infestação dessas espécies, conhecidas como “plantas daninhas”. Além do mais, o correto manejo é indispensável para evitar a super lotação e conseqüente compactação, que acelera a deterioração do pasto. Contudo, muitas dessas árvores poderiam ser uma grande aliada tanto na melhora das condições biológicas do solo como também no enriquecimento da dieta alimentar do rebanho e do próprio homem.

Existe espécies que, embora as condições nutricionais do solo estejam esgotadas, nascem, permanecem e acabam colonizando o lugar, são elas o inço para os criadores. Essas, ecologicamente falando, são as espécies pioneiras, importantíssimas na recuperação de áreas degradadas, de alto grau de rusticidade, crescimento rápido, eficiente no bombeamento de nutrientes do subsolo, fixadoras de nitrogênio atmosférico (no caso das leguminosas), fornecedora de suprimento alimentar e sombra para o rebanho. (baginha, embaúba, faveira, burdão de velho, algodoeiro, amora, etc). São um presente da natureza para o homem. Embora não se vislumbre isso.

Não esquecendo que a diversificação dos pastos que estas espécies oferecem, atraem animais como pássaros que são os inimigos naturais da principal praga das pastagens (cigarrinha). Muitos não vêem este benefício, disponibilizado pelas espécies “pioneiras” gratuitamente, e ainda pioram o cenário. Recorrem aos agrotôxicos, segunda opção após o fogo, como forma de “limpeza”. As conseqüências são a erosão seguido de desertificação, a contaminação dos lençóis freáticos e do homem, e a abertura de novas fronteiras agrícolas, deixando para trás um rastro de pobreza ambiental.

O fogo é um problema ambiental. A fumaça liberada fica presa na atmosfera, impedindo que o reflexo dos raios solares, após tocar a superfície da terra, se dissipe para o espaço. Esse fenômeno chama-se “Efeito Estufa” que vem aumentando, anos após anos, a temperatura da terra. Algumas projeções apontam que em trinta anos várias cidades litorâneas sucumbirão, pois as altas temperaturas degelam a água presa nos pólos, aumentando o nível dos mares. O ambiente se tornará hostil e os seres vivos não suportarão isso.

Ou avançamos no discurso ou nadaremos mares inteiros e morreremos na praia. Quero dizer que: a) enquanto não houver um re-direcionamento da pesquisa cientifica para os moldes de uso e manejo da propriedade de forma mais racional, que preserve a integridade física, química e biológica do solo, com alternativas sustentáveis que excluam o uso do fogo, b) enquanto não houver o real fortalecimento da agricultura familiar como base para a manutenção do homem do campo, desenvolvendo e adaptando tecnologias para as peculiaridades da realidade de cada agricultor, e, c) enquanto não promovermos a diversificação dos sistemas produtivos, esbarrando de frente com o velho paradigma de que as plantas competem entre sí e que são um obstáculo ao desenvolvimento, sugerindo, inclusive, a fusão das produções animal da vegetal, estaremos caminhando em passos curtos e tortos. A sociedade como um todo terá que despertar para a consciência ambiental e cobrar do poder público verdadeiras ações que venham a desestimular o uso continuado dessa “arma” chamada fogo.

Márcio Menezes é engenheiro agrônomo e membro da ACS Amazônia - Rede de Certificação Comunitária

3 comentários:

Anônimo disse...

O fogo
A descoberta do "fazer fogo" foi a mais fascinante das descoberta do ser humano,que precisa ser trabalhada em nível cultural e social,em toda faixa etária, principalmente entre os mais velhos, que ainda têm no fogo a sua maior possibilidade de produção e até mesmo de limpeza de seus quintais. Os quintais que ainda sobrevivem em Rio Branco, são mantidos na sua grande maioria pelos mais velhos que tem no fogo sua maior referência de limpeza. Penso que uma campanha de combate ao fogo deve ser direcionada na zona urbana, para as pessoas que ainda possuem seus quintais, por ironia da vida são também essas pessoas que mantém nossos pomares e jardins.O poder público deve entrar com os dois pés, não adianta multar,matar os velhos do coração com suas formas grosseira de impedir as queimadas. Educação ambiental tem que ser acompanhada de bom senso e constância, não ficar esperando os mes de agosto e setembro para mostrarem serviço. O ano tem doze meses. Coscientizar leva tempo.As secretarias de meio ambiente devem ter melhor orçamento pois o que se houve é muita choradeira de falta de recursos, isso é verdadeiro, portanto os governos devem dá exemplo, aumentando os recursos para o meio ambiente e cultura que formam uma boa parceria no combate as desgraçs do fogo e outros males sociais.

Anônimo disse...

Geleira do Ártico solta pedaço e fere turistas com onda gigante
De Alister Doyle
Em Oslo

Uma geleira do Ártico soltou um pedaço e provocou uma grande onda responsável por ferir 18 pessoas em um barco de passeio, quase todas turistas britânicos, afirmaram na quinta-feira autoridades da Noruega.




Um dos 18 passageiros é resgatado após barco ser atingido por onda gigante
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Quatro pessoas ficaram gravemente feridas no acidente com a geleira Hornbreen, no arquipélago norueguês de Svalbard, e foram levadas pelo ar até um hospital de Tromsoe, ao sul. Os outros receberam tratamento em um hospital local, a maior parte deles com ferimentos leves.

"A geleira cindiu-se e uma onda enorme atingiu a embarcação", afirmou à Reuters Elisabeth Bjoerge Loevold, governadora em exercício de Svalbard. "O barco chacoalhou para frente e para trás, derrubando os passageiros no convés."

"Não acreditamos que qualquer pedaço de gelo tenha chegado ao convés da embarcação, mas não estamos a par de todos os detalhes", disse a governadora. Alguns meios de comunicação noruegueses relataram anteriormente que o barco havia sido atingido por pedaços de gelo vindos da geleira.

A pequena embarcação, chamada Alexey Maryshev, carregava cerca de 50 turistas britânicos e uma tripulação de 20 russos.

Segundo Loevold, 17 dos feridos no acidente, ocorrido na noite de quarta-feira, teriam cidadania britânica. O último ferido seria um dos membros da tripulação russa e havia sofrido ferimentos graves.

As embarcações, em geral, não devem chegar perto das geleiras existentes ao redor de Svalbard, localizado cerca de 1.000 quilômetros do Pólo Norte, quando há desprendimento de pedaços de gelo.

Mas não existem regras claras sobre a distância segura nesses casos.

"O capitão e o líder da expedição serão interrogados pela polícia sobre o incidente", afirmou Loevold.

As geleiras costumam desprender pedaços, mas muitas delas estão encolhendo mais rapidamente do que o usual em virtude do aquecimento da Terra, fenômeno atribuído pela maioria dos cientistas às emissões de gases do efeito estufa provocadas pelo homem na queima de combustíveis fósseis

Anônimo disse...

"porque a roça pertence ao passado",
Essa frase acima é de propaganda da PLENUM. Penso...pensando morreu um burro, né? O que pertence ao presente? - As castanheiras enchurrascadas denunciam as queimadas que insistem em serem presentes no aqui agora.Buscar formas de construir novos sistemas sociais, tendo o humano como ponto de partida é realmente um grande desafio.Desvendar a Amazônia como eixo central de novos paradigmas de desenvolvimento é um grande desafio do mundo contemporâneo.