quinta-feira, 17 de maio de 2007

UMA QUESTÃO DE HISTÓRIA

Osmir Lima

Jawaharlal Nehru disse que “não se muda o curso da história virando-se os retratos para a parede”. Com este pensamento de Nehru na mente, leio com muita perplexidade que o presidente da Assembléia Legislativa do Acre, Edvaldo Magalhães, pretende mudar o nome da Sala de Sessões daquela casa legislativa de Milton de Matos Rocha para Francisco Cartaxo.

Creio que esta posição só pode ter sido tomada num momento de grande e justa emoção. Mas a história não se muda com lágrimas. Não é fácil num Estado que pouco se preocupa na tarefa de recuperar “cacos” da sua história, onde as cartas muitas vezes são embaralhadas com a intenção de confundir os menos avisados, ou tentam reinventar a própria história, ter a história contada na sua inteireza.

Milton de Matos Rocha teve o seu nome perpetuado na sala de reunião dos deputados acreanos não apenas porque tenha falecido antes de tomar posse na primeira Assembléia Legislativa do Acre. Não. Ele mereceu a homenagem por ter tido, entre outros grandes momentos de luta a favor do Acre, a sua vida ligada à grande causa do Movimento Autonomista que elevou o Acre à categoria de Estado, ao lado de Guiomard Santos e seus companheiros de luta. Ele vinha para dar continuidade à história.

É justo que o atual governo do Acre queira prestar uma homenagem ao seu ilustre companheiro e um bom homem público. E há muito campo para isto. Mas homenagem se presta sem mudar o rumo da história. Sem mutilá-la. Pois, se for para substituir os nossos heróis do passado com apenas os que estão ou estavam no poder recente, estaríamos assistindo, infelizmente, a um poder escudado num orgulho desproporcional, estimulado numa raiva delirante dos que não pensam como eles, desvirtuando a realidade das coisas. Com isso, estaria sendo descrito para o futuro, como verdadeiro e real, o quadro algumas vezes falso e fantástico criado pela imaginação do presente.

Já vivi quase meio século das nossas lutas políticas. Creio não ter conseguido a grandeza que imaginava, mas em todos os momentos procurei escapar da mediocridade. Já vi fatos semelhantes. O deputado Jáder Machado, também falecido em pleno mandato, vinha da luta contra a ditadura militar. E com que bravura ele lutou! Perseguido, transferido, ele e seus familiares, não recuaram. Lutaram até o fim. Foi um bravo.

Nós tínhamos maioria no parlamento do Estado, mas foi o amadurecimento, que só o exercício do poder dá, que não nos permitiu brigar com a história. Cabe aos parlamentares estaduais a tomada de decisão. Reflitam com a história, não com o coração.

Como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Acre e autonomista, senti-me no dever de publicar esta pequena nota, na esperança de suscitar diálogos ou debates, elementos indispensáveis à aferição crítica que deve condicionar as decisões de uma Assembléia do povo.

Osmir Lima foi constituinte federal de 1988. Minha sugestão: uma homenagem que cairia bem, em memória de Francisco Cartaxo, seria a de rebatizar com o nome dele a rua Cel. Alexandrino com a qual os acreanos imortalizaram o mandante do assassinato de Plácido de Castro, que se beneficiou da impunidade já reinante no Acre no começo do século passado. Não soaria piegas como o que está sendo proposto.

6 comentários:

Anônimo disse...

Amigo Altino, esses caras precisam parar com essa demagogia extremada. O Cartaxo nunca foi um cara simpático, nem tampouco 'votável. Pesquise lá na Seater, garimpe algum amifgo dele por lá. E no PT então nem se fala. O Cartaxo nunca fez meia hora de campanha sequer, ganhou pela força da grana que ergue e destrói coisa belas. Agora esses caras querem apagar a cagada que fizeram abreviando a vida de Cartaxo com essa história de deputado. Como se não bastasse ainda o colocaram como lider na Assembleía. O cara não tinha amenor condição desse papel. A pressão apressou sa morte. Erraram em o eleger deputado e erraram colocando-o para se desgastar física e mentalmente. Estão sentido o peso na conscencia agora. Acho que nome dele em nada vai apagar a dor e acagada que fizera. O cartaxo não morreu, ele foi morto pelos amigos.

Cartunista Braga disse...

Altino, você sabia que existe a rua Jornalista Tião Maia no Bairro Bahia? E tem também o Bairro Mauri Sérgio. Nesse afã de homenagear apaniguados, os detentores do poder sempre acabam desagradando alguém. Boa idéia é essa de "desomenagear" o desafeto de Plácido de Castro, mas é bom ficar atento caso, no calor do momento alguém sugira o nome de Darly Alves para rebatizar o logradouro.

Sandro Ricardo disse...

"Camarada" Braga, "camarada" Altino e outros "camaradas" leitores desse blog. No bairro 15 existe uma curva que se chama "rabo da besta". Pois bem, esse é um logradouro não muito aconselhavel, fica feio: - FULANO TÚ MORA ONDE? há! eu moro lá no 15. PERTO DE ONDE? depois do rabo da besta, numa casa encarnada cor de fogo - Coisas do nosso Acre. Se é para mudar o que não presta só por homenagem, tai uma idéia.

Unknown disse...
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Unknown disse...

Julgo abjetas essas atitudes e "sugestões" de sujeitos sem o mínimo senso sobre o que é homenagem. Não sou, porém, nenhum especialista nesse tipo de coisas. Ora, vejamos só o que esse Governo "nostáugico" faz com nossas avenidas, praças, ruas, entitulando-as, quase todas de CHICO MENDES. Felizmente o nosso Aeroporto escapou por pouco. No entanto, brevemente haverá até mesmo uma Agência dos Correios com o nome de CHICO MENDES, esta no segundo distrito onde hoje funciona o Centro de Entregas de Encomendas dos Correios.
Como se vê, essas influências políticas delineadas no enaltecimento de idéias fúteis perpetram até mesmo os órgãos públicos que deveriam atuar, por meio de seus agentes, da forma mais impessoal possível.
Parece que esses tipos de atitudes são somente a perpetuação de um discurso que faz emergir certas personalidades que tornam cada vez mais deploráveis as estruturas ideológicas da política acreana - que na verdade "nunca foi lá aquelas coisas".

Anônimo disse...
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