quinta-feira, 24 de maio de 2007

OS NOVOS HERÓIS AMBIENTAIS

Marc Dourojeanni

“Chico” Mendes e Dorothy Stang foram brutalmente assassinados porque os interesses que defendiam se opunham frontalmente aos de fazendeiros locais com poucos escrúpulos. O que estava em disputa era, incontestavelmente, o direito ao uso e usufruto de uma porção de terra. Então, cabe perguntar se o uso a ser dado a essa terra e aos seus recursos, por ambos os grupos de interesse, teria sido tão diferente, transformando uns em protetores da natureza e os outros nos seus inimigos. Qualquer resposta honesta a essa pergunta é que pouca coisa mudaria no destino final da floresta, ou seja, a exploração da madeira seguida por sua conversão a usos agropecuários. Então, porque Chico Mendes virou um herói ambiental de tanta significância no seu país e no mundo e a irmã Dorothy Stang é proclamada, até na CNN e na BBC, como defensora da floresta amazônica?

Chico Mendes não era, nem pretendeu ser, um “ambientalista” até que seus assessores intelectuais (norte americanos e brasileiros) descobriram ser essa a melhor tática a empregar na sua luta contra os fazendeiros, que reclamavam a mesma terra e recursos, para assim receber o apoio das autoridades do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que financiava a construção de uma estrada no Acre. A justificação era curta e grossa: Naqueles dias, onde trabalhavam os seringueiros existia mata, consequentemente “ficava demonstrado que eles a exploravam, conservando-a”. A diretoria do Banco, acusada de contribuir para o desmatamento da Amazônia, favorecer os seus depredadores e preocupada com a sua imagem, decidiu ameaçar o governo com a paralisação do empréstimo se não se atendesse os reclamos. Constatado o sucesso da ação, Chico Mendes, que era um orador notável, passou a explorar o tema ambiental em todas suas intervenções públicas, aportando muito à mitologia da intimidade harmoniosa entre o ambiente e o desenvolvimento social.

O resultado prático da luta de Chico Mendes foi a adoção no Brasil de uma nova categoria de “unidade de conservação”: as reservas extrativistas. Em honra à verdade, as reservas extrativistas não se iniciaram como unidades de conservação. Era uma alternativa tecnocrática que resolvia o conflito, legalizando o uso da terra pelos seringueiros, transformados em “extrativistas”. A idéia, então já aplicada em outros países da América do Sul, era que sob circunstâncias especiais populações indígenas e tradicionais poderiam, com planos de manejo de aplicação supervisada por entidades especializadas do governo, explorar com exclusividade os recursos naturais renováveis diferentes da madeira (por exemplo, borracha e castanha do Pará) e/ou caçar e pescar em áreas públicas definidas e demarcadas, próximas a suas comunidades. Essas áreas eram conhecidas como reservas comunais e nelas não se permitiam populações residentes. Era reconhecido que o outro objetivo dessas reservas era ampliar o espaço vital à disposição de comunidades pobres, garantindo exclusividade de uso dos recursos naturais para elas e, por isso, essas áreas não eram consideradas “unidades de conservação” e, sim, apenas um insumo a mais de uma estratégia de conservação da natureza.

Leia a íntegra do artigo de Marc Dourojeanni no site O Eco.

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