sábado, 14 de abril de 2007

RESPOSTAS RESPONSÁVEIS

Patrycia Coelho

Olá Altino!

Tenho acompanhado pela imprensa e também assisti aos dois eventos promovidos pelo gabinete do senador Tião Viana sobre a prospecção do petróleo no Acre. Apesar de não ter ainda uma posição completamente firmada, tendo a inserir-me no campo dos que defendem a necessidade dos estudos preliminares e prospecção propriamente dita.


Concordo com o fato de que devemos ter mais e melhores informações sobre o assunto, entretanto, pelo que tenho visto, ouvido e lido, gostaria de fazer algumas considerações.

A primeira delas diz respeito à forma particular com que o equívoco do nome do segundo evento promovido pelo gabinete do senador foi tratada: li, com muita propriedade, a correção realizada pelo professor Oswaldo Sevá em relação ao engano de se considerar “Prospecção de Derivados (sic)..." e é claro que o título deve ser corrigido. Utilizar essa informação para fazer pouco, tripudiar ou desqualificar o debate e até mesmo, de uma certa forma, os organizadores do evento (como li em alguns comentários no seu blog ) não me parece postura de quem realmente quer aprofundar a discussão. Esta é realmente a questão de fundo do debate?

Uma outra consideração a fazer, depois do que ouvi durante o debate, apesar dos prejuízos com a queda de energia ocorrida na hora, é que não me parece que passou pela cabeça da maioria dos presentes ao evento acabar com a Amazônia, com a floresta, promover a exploração dos povos ribeirinhos, índios, seringueiros e comunidade. Entretanto, existe hoje uma questão concreta, colocada para ser avaliada – o petróleo e seus derivados continuam sendo a matriz energética mais importante e todas as opções disponíveis hoje, ainda em estudo e pesquisa, como o etanol e outros não são ainda capazes de substituí-lo a contento.

A meu ver, temos duas saídas: ou nos preparamos para isso, e aí envolve estudos, prospecção, correção de erros já havidos com exploração indevida, garantia das áreas indígenas, distribuição eqüitativa e responsável dos royalties, conservação do meio-ambiente e tudo o mais que se refere a uma forma responsável de tratar a questão ou não estudamos, não discutimos o problema, não nos preparamos para a defesa do meio ambiente e do que queremos em caso de exploração do petróleo, fazemos de conta que não precisamos de gasolina, óleo diesel, voltamos a usar bicicletas (produzidas manualmente), não usamos roupas industrializadas e vamos plantar nossa própria comida. E atenção: nada de telefones celulares, computadores, cigarros, bebida, viagens de avião e/ou carro e tudo o mais que possa levar petróleo em alguma etapa de sua linha de produção.

É claro que a defesa do meio ambiente deve ser a primeira questão a ser considerada. É claro que se deve garantir que as reservas extrativistas, as áreas de proteção, as terras indígenas, as comunidades sejam preservadas. É claro que vamos ter de brigar, e vamos sempre fazer isso de forma desigual com o velho capitalismo, tentando garantir um modelo de desenvolvimento que, ao mesmo tempo em que explore, garanta também a sobrevivência da floresta. E é claro que isso tudo é um cabo de guerra, onde tem mais peso quem está organizado, quem detém informações e, principalmente, quem sabe o modelo de sustentabilidade que quer defender.

O impacto social será tanto menor quanto mais claras ficam essas contradições e as formas de minimizá-las, com seriedade e responsabilidade. O debate está aberto, as pessoas, organizações, governo, empresários, ONG’s, estudantes, ambientalistas, todos estamos sendo chamados para discutir e é óbvio que as opiniões são e é importante que sejam, divergentes, complementares.

Não sou partidária da tese do tanto pior, melhor. Não me sinto bem, como não me senti ontem, em ver algumas pessoas da plenária rindo, pasme você, rindo debochadamente da intervenção de uma determinada pessoa que teve a coragem (porque é preciso fugir da timidez) para colocar suas idéias, e submetê-las de forma democrática à apreciação de quem estava ali querendo ouvir. É essa a postura desrespeitosa de quem quer ver a floresta respeitada? Essa deve ser a postura da crítica ou da oposição? Vivemos em quantos planetas diferentes? Ou estamos tratando da mesma casa?

Há muito tempo atrás, quando ainda na Universidade, enjoei de assinar abaixo-assinados pelo fim da ditadura militar. Muitas pessoas diziam: “por quê perder tempo com isso? Nunca vamos conseguir isso, essa possibilidade não existe!”. O tempo, a história e a luta dos trabalhadores mostrou que é possível desafiar o que está errado, quando se tem um sonho e se acredita nele: e o meu continua sendo um sonho de preservação da floresta e do meio-ambiente, sem esquecer que o desenvolvimento também está aqui na nossa frente e exige respostas. Principalmente, exige respostas responsáveis.

Muito mais tem pra ser feito. Muito mais gostaria de ouvir. Entretanto, acho que essas discussões são importantes e necessárias e por esse motivo, gostaria de parabenizar a iniciativa do senador Tião Viana, que mais uma vez mostrou a seriedade do seu trabalho, parabenizar as questões levantadas pela SOS Amazônia, entre outros, e ainda a grande maioria que foi ao Teatrão, na esperança de colher mais subsídios para se posicionar desta ou daquela forma.

Também gostaria de parabenizar você, cujo blog tem trazido tantas e tão diversas e boas opiniões sobre o assunto. É pena que precisei sair antes do Antonio Alves falar, pois gostaria muito de tê-lo ouvido.

Patrycia Coelho, economista acreana, enviou ontem a opinião dela para a caixa de comentário do post "Debate fracassado". O erro de não ter destacado a tempo foi meu. Aliás, o blog sempre esteve e continuará aberto para quem queira se manifestar favorável ou contrário à prospecção de petróleo e gás no Acre. O empresário George Pinheiro prometeu escrever em breve.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Patrycia. A síntese do que falei foi o seguinte: a queima dos combustíveis fósseis aquece a terra e temos que escolher entre participar disso ou buscar alternativas. Essa é uma questão de princípio que se torna questão de sobrevivência a cada ano. Recuso o argumento de que "já não tem mais jeito, portanto vamos aproveitar, vender nosso petroleozinho e ganhar dinheiro (claro, distribuindo com os pobres)". Também abomino a visão de que podemos queimar petróleo e aquecer a terra tomando cuidado para não derrubar a nossa florestazinha, pois, afinal, vivendo de royalties nem precisaremos queimar a floresta para plantar arroz ou capim. Mas, pra mim, o mais triste é a tentativa de folclorizar a posição dos ambientalistas com afirmações do tipo: "não quer petróleo, então deixa de usar roupa, vai andar a pé, não usa telefone" etc. Estamos todos no mesmo barco, as mudanças serão coletivas e os sacrifícios também. E ninguém é contra a tecnologia, ao contrário, o que queremos é trocar a ultrapassada tecnologia da segunda onda industrial e seus combustíveis poluentes por outra mais avançada e limpa. Você sabia que em meados do século 20 as companhias de petróleo compraram e destruiram frotas inteiras de ônibus, bondes e carros elétricos na Europa e Estados Unidos? Que, portanto, não "escolhemos" o petróleo, ele nos foi imposto? Que já existe, sim, tecnologia suficiente para abandonar o petróleo com rapidez?
Só lamento que o "debate" esteja sendo tão superficial e desinformado. Que não seja um debate de verdade, pois a força dos interesses determina a pressa. Que o confronto entre a natureza e a grana já tem vencedor previamente definido. Que a Petrobrás fez, há 50 anos, que que recomendei agora: descobriu a jazida, tapou o buraco e não disse nada a ninguém. Agora é o momento de abrir. Quem quer impedir não pode; quem pode, não quer.

Anônimo disse...

O que me aborrece nessa situação toda é que vejo tanta gente inteligente, formada com mEstrado, dOutorado e etc... trantando de um assunto tão simples que não depetende de tanto estudo! simplesmente do bom senso, coragem e fé em Deus nosso Criador, que está acima de todos nós.
Tenho certeza que os que defendem a Prospeção estão mais procupados com os resultados econômicos pessoais!
Duvido que alguem de bom senso seja a favor de mais destruição. Basta!