quarta-feira, 25 de abril de 2007

REDUÇÃO DA AMAZÔNIA

"Deve ser tentativa de ampliar áreas de soja"

Iniciativas como a que propõe a redução da Amazônia Legal aparecem de vez em quando no Congresso, mas poucas prosperam. O País está consciente, hoje, da importância do meio ambiente e o melhor é não levar isso muito a sério, adverte o diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi. Ele lembra, nesta entrevista ao Estado, que há algum tempo o atual governador de Rondônia, Ivo Cassol, também apoiou um projeto para retirar seu Estado da Amazônia Legal. A idéia não deu em nada.

O que o sr. pensa do projeto do senador Jonas Pinheiro?

Nas intenções, deve ser isso mesmo que dizem, uma tentativa de ampliar as áreas para cultura de soja. Mas meu receio é que estejam dando importância demais à iniciativa. Há outras parecidas engavetadas no Congresso. Há lá um tipo de projeto que surge sempre, não é rejeitado, nunca morre e também nunca vinga. Parece que é o caso. Lembro que no início do governo Lula, em 2003, criaram um Plano da Amazônia Auto-Sustentada (PAS), que não saiu do papel.

Por que esses projetos existem?

O Congresso tem uma forma especial de tratar políticas regionais. Ele recebe o texto diplomaticamente, para não ficar de mal com a bancada. Mas as pessoas sabem que a intenção é mostrar às suas bases, aos prefeitos de sua região, que estão lutando por eles. Lembro-me de um projeto que propunha tirar Rondônia da Amazônia Legal e contou com o apoio do atual governador, Ivo Cassol.

Mas há uma pressão dos produtores rurais para ocupar essas áreas.

Imagino que esses produtores pretendam uma espécie de anistia. Querem aumentar os limites de uma área já ocupada para evitar riscos.

Quais riscos?

O de um dia alguém querer aplicar a lei - no caso, os limites mais rigorosos da Amazônia Legal - e eles terem de devolver. A pressão, às vezes, é indireta. Não significa que vão plantar algo nessas novas áreas. Eles podem transferir para lá a atividade pecuária e liberar os imensos pastos para a soja ou outras culturas.

Do ponto de vista ambiental, qual o significado do projeto?

Do ponto de vista ambiental, ele está errado. O fato é que o bioma do cerrado está espalhado por toda aquela região, às vezes com nomes diferentes. Em Roraima, chamam-no de lavrados. São campos abertos. No Amapá e no Sul do Amazonas, no Maranhão, a mesma coisa. Da mesma forma, em Mato Grosso há matas fechadas, com alto grau de umidade e índice pluviométrico típico de florestas tropicais.

Muita gente se queixa da superposição de critérios ambientais, políticos e geográficos. Como resolver?

De fato, os incentivos ao desenvolvimento regional, surgidos nos anos 50, inspiraram esse caminho e as realidades mudam. O que o País precisa hoje é perguntar que tipo de desenvolvimento queremos para aquela região.

Quem é:
Roberto Smeraldi

É jornalista e diretor da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira

Presidiu entre 89 e 92 o Comitê Internacional das ONGs para a Eco-92

Integra no momento o Fórum Brasileiro sobre
Mudanças Climáticas

Entrevista publicada na edição hoje do jornal O Estado de S. Paulo

Um comentário:

Editor disse...

A Amazônia está sendo vendida

O Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, está colocando boa parte da Floresta Amazônica à venda no exterior. O presidente do SFB, Tasso Azevedo, braço direito da ministra Marina Silva, está percorrendo o mundo oferecendo uma fatia da floresta, localizada no entorno da rodovia federal BR-163, a Santarém-Cuiabá. Enquanto empresas nacionais já existentes na área fecham as portas por falta de madeira de origem legal, Azevedo quer levar para a região empresas com capital estrangeiro oferecendo a madeira que hoje falta nas indústrias da região.

A criação do SFB foi prevista na Lei de Gestão de Florestas Públicas (nº 11.284, de 2 de março de 2006) aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula. Quando o ainda projeto de lei, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, estava em discussão na Câmara dos Deputados e no Senado, não foram poucos os congressistas que alertaram que se tratava, na prática, da internacionalização da Amazônia. Agora, vê-se que a preocupação de que a Amazônia caísse na mão de estrangeiros não era mera teoria conspiratória. Preocupa mais ainda que um órgão do governo federal corra o mundo oferecendo aos países ricos um pedaço da floresta.

Jornal do Meio Ambiente