segunda-feira, 9 de abril de 2007

NA EMPADA DE QUEM COMEÇOU ERRADO?

Oswaldo Sevá

Essa “prospecção de derivados de petróleo” (sic), escolhida como título do seminário organizado pelo senador Tião Viana (PT) e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), para quinta-feira 12, a partir das 19 horas, no Teatro Plácido de Castro, em Rio Branco, é algo que simplesmente não existe e que não é possível.

Derivados são o óleo diesel, o gás de botijão, a gasolina, o querosene, o óleo de caldeira, o piche, que são fabricados nas refinarias
. A menos que, sob o chão de alguma Terra Indígena ou do Parque Nacional da Serra do Divisor se encontre, pela primeira vez no mundo, uma jazida de óleo diesel ou uma jazida de gasolina já dentro das especificações da ANP.

O chorume da era dos fósseis vai acumulando passivos e vítimas lá onde resolvem - ou simplesmente anunciam - que vão sair furando o chão atrás dele. Boa parte da história mundial, inclusive as duas grandes guerras e várias ditaduras criadas pelas potências econômicas e políticas, deve ser contada a partir da disputa encarniçada e sangrenta pela renda petrolífera.

Disputas de todo tipo: entre os locais e os de fora, entre os governos locais e federais, entre governos locais e estrangeiros, entre civis e militares no mesmo governo, entre empresas locais e estrangeiras, disputas entre as multinacionais, chegando freqüentemente às operações armadas por parte de bandos mercenários, de guardas privadas de corporações civis, de guerrilhas e de exércitos regulares.

Aqui por perto, no continente, nos últimos oitenta anos, tivemos a guerra do Chaco entre Paraguai e Bolívia, as guerras civis recentes no Peru e na Colômbia com muitas operações em áreas petrolíferas, os vários levantes populares e golpes palacianos e uma invasão militar estrangeira na Venezuela sempre pro causa do petróleo, a disputa das ilhas Malvinas no Atlântico Sul pela Argentina e Grã Bretanha, a presença dos marines americanos na reconstrução do oleoduto equatoriano destruído no terremoto de 1987.


E agora, temos esse separatismo da burguesia de Santa Cruz de la Sierra com o apoio das “oil sisters” e das mídias rancorosas anti-Morales, inclusive no Brasil, que apostam numa Bolívia petrolífera separada dos índios e dos nacionalistas.
Diante disso, da crua realidade desse mercado, o quê será mesmo falado, mostrado e esclarecido no tal seminário em Rio Branco, no dia 12 de abril?

A propósito, andam repetindo em jornais de Rio Branco e em artigos eletrônicos que eu estarei presente, só que...lá se vão treze dias que comuniquei ao gabinete do organizador do evento que não iria. Assim, para oferecer uma idéia precisa das razões, é melhor transcrever na íntegra a mensagem que enviei na terça feira dia 27 de março:

"Prezado Senhor Eduardo F.M Oliveira,
do gabinete do Senador Tião Vianna

Agradeço o envio de sua mensagem de ontem dia 26 de março, com as informações mais detalhadas sobre o evento que o senador Tião Viana (PT-AC) promoverá no dia 12 de abril, às 19 horas, no Teatro Plácido de Castro (Teatrão), com o nome de Seminário "Prospecção de Derivados do Petróleo no Acre e Responsabilidade Sócio-Ambiental" (sic). Avaliando as condições gerais nas quais fui convocado, e nem sequer convidado, informo que não pretendo estar presente. Data vênia, solicito sua atenção por mais um minuto para ler as minhas razões. Peço que sejam transmitidas fielmente e na íntegra, ao senador e demais interessados no evento.

Estou ciente de que fui indicado pelo antropólogo da Funai, atual Gerente do Etnozoneamento da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais e meu amigo de muitos anos, Terri Aquino, para participar, como um estudioso de Energia e Meio ambiente na Amazônia, de um evento contendo informes e esclarecimentos técnicos e ambientais, para os acreanos em geral e em especial para os índios das terras que eventualmente seriam afetadas pela hipotética prospecção de petróleo e gás no Acre. Não é esse o escopo do evento que consta na sua mensagem.


Com relação às áreas passíveis de prospecção, verifiquei que além de Terras Indígenas, muitas delas homologadas, também poderiam ser afetadas a Reserva Extrativista do Alto Juruá, o Parque Nacional da Serra do Divisor e outras áreas protegidas ou de conservação.


Portanto, a presença de um bom número de interessados de todos os segmentos da sociedade me parece fundamental para que o debate seja conduzido com equidade e com a devida delicadeza que o momento exige.


Bem como, a titulo de informação técnica e legal, devemos ouvir também pessoas experientes e em cargo de decisão na Funai, no Ibama, e buscar advogados especialistas em questões ambientais, direito de vizinhança, populações atingidas por obras e atividades poluidoras. Ouvir também, na área acadêmica, pesquisadores acreanos ou que pesquisam sobre o Acre, dentre vários, de excelente nível e reputação, que atuam exatamente nas áreas de antropologia e de ciências sociais, de geografia, além daqueles especialistas nas áreas propriamente biológicas e ecológicas.


Lembro-me também de, um mês atrás, ter sugerido ao amigo Terri e ao sr. Joaquim Tashka, liderança da tribo yawanawá, com quem eu estava em contato a propósito desse possível evento, que se buscasse a experiência de outros índios na Amazônia em cujas terras se faz prospecção de petróleo, notadamente os da Amazônia peruana e da Amazônia equatoriana, geograficamente próximas do Acre e do oeste do Amazonas.


Para que índios e brancos brasileiros, todos aprendêssemos com eles, que fôssemos ao menos, alertados e não repetíssemos aqui o prejuízo e a degradação que sofrem por lá.


Fico ao vosso dispor para estar presente de corpo e alma numa próxima oportunidade, quando condições efetivas forem obtidas por meio da presença e da participação de um leque mais amplo de especialistas e de grupos representantes das populações, indígenas e extrativistas, moradores das florestas onde as atividades de prospecção podem vir a acontecer.


Apreciarei também a adoção de posturas mais construtivas e mais cuidadosas para a organização de eventos de interesse público, desde o seu início, quando se decide consultar e convidar as pessoas, a mexer com as agendas de cada um. É quando se começa a compor o delicado equilíbrio dos temas essenciais, dos pontos de vista distintos e dos tempos destinados às várias falas e atividades. Despeço-me cordialmente


Prof Oswaldo Sevá"

Oswaldo Sevá é engenheiro, professor da Unicamp na área de Energia e Meio Ambiente. Materiais de pesquisa e didáticos acessíveis aqui. O seminário terá como "mediador" o senador Tião Viana (PT), autor do projeto de prospecção de petróleo e gás, com a presença do deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa. Palestrantes: Newton Reis Monteiro (ANP) - Diretor II, tem a ele vinculado a Superintendência de Definição de Blocos e a Superintendência de Exploração; além da Coordenadoria de Segurança Operacional e a Coordenadoria de Meio Ambiente; Miguel Scarcello (SOS Amazônia); Lúcia Maria de Araújo Lima Gaudêncio (ANP), cargo Comissionado de Gerência Executiva (CGE III), como Chefe da Coordenadoria de Meio Ambiente, nomeada em 2006 e professora da Universidade Federal de Campina Grande; senador Eduardo Suplicy (PT). Cada palestrante terá de 15 a 30 minutos, sendo o debate na seqüência.

5 comentários:

Anônimo disse...

Altino.
Se depender do título do seminário, voce pode dormir sossegado. Sabe quando é que o Tião vai achar derivados de petróleo no subsolo? HAHAHAHAHAHA
Quero ver se a Petrobrás é boa mesmo é agora com essa missão.
Queria ver o esculacho que o Tião deu nesse coitado que escreveu essa bobagem..... puta que pariu!

Anônimo disse...

O professor não vai participar diretamente do debate, mas,já marcou um tento, jogou a "Prospecção de derivados do petróleo" na lata do lixo da ignorância. Imagine o fim se o começo é assim.
Altino, deixa esse comentário do professor mais tempo em evidência, é um grande serviço de utilidade pública.

Anônimo disse...

Ainda bem que vai da em nada vezes nada com este titulo “prospecção de derivados de petróleo”.
Amigos o Tião Viana já ser convenceu que não da certo, e tanto que aceitou o titulo. Quando ele chegar ao encontro vai disse que não da mesmo o Chico apareceu e disse “Companheiro não to conseguindo dormi você com essa idéia de Petróleo para destruir a Amazônia deixa quieto você ver eu e Wilson morre novamente.

Anônimo disse...

Caro Altino,

De fato, não só pelo que escreveu Oswaldo Sevá, mas até mesmo pela visita com cartas carimbadas à base de Urucu e outros comentários infelizes na imprensa, o "debate público" proposto para o dia 12 já está comprometido e até desmoralizado.
Desde o primeiro anúncio onde se tentou vincular indevidamente que os Yawanawa apoiavam a prospecção passando a idéia de que até o movimento social apoiava tal projeto, tivemos uma chuva de erros e bobagens que descredenciaram os defensores da prospecção e tiram-lhes o ar de seriedade sobre o assunto. Talvez o que tentaram fazer foram apenas marolas.
Nós cá continuamos contrários ao projeto e firmes na defesa da Amazônia e sua gente.

Bom trabalho.

Lindomar Padilha

Anônimo disse...

O Prof "correu do pau". Por isso as "desculpas verdadeiras" para não participar.