sexta-feira, 13 de abril de 2007

DEBATE FRACASSADO

Senadores e representantes da ANP foram evasivos quando confrontados com os questionamentos do público e dos representantes do movimento social

O debate sobre a prospecção de petróleo e gás no Acre foi um sucesso de público na noite de ontem em Rio Branco, com mais de 500 participantes no Teatro Plácido de Castro, mas um fracasso do ponto de vista das respostas que a sociedade esperava para as questões relacionadas aos impactos do polêmico projeto.

O senador Tião Viana (PT), autor do projeto, e dois representantes da Agência Nacional do Petróleo (ANP) foram poucos convincentes quanto às salvaguardas ambientais. O debate, mediado pelo próprio senador, contou com a presença do senador Eduardo Suplicy (PT) fazendo a defesa do projeto a partir da experiência da exploração petrolífera no Alasca (EUA).

Todos se empenharam em apresentar argumentos sobre a transformação econômica que o Acre poderá desfrutar a partir dos royalties resultantes da exploração de gás e petróleo. Eles preferiram dar respostas evasivas aos questionamentos de cunho socioambiental expostos pelo geógrafo Miguel Scarcello, secretário da entidade SOS Amazônia, que participou como representante das organizações da sociedade civil do Acre ligadas à rede do Grupo de Trabalho Amazônico.

Ausência
A ausência do governador Binho Marques (PT) não passou despercebida no debate anunciado pela assessoria do senador como estratégico para o desenvolvimento regional. O projeto do senador tem causado profundo mal-estar a diversos integrantes do governo estadual ligados politicamente à ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, que ontem declarou não poder "ser a favor de um desenvolvimento econômico que vai aquecer o planeta e nos fazer derreter".

O debate foi interrompido por quase uma hora em decorrência do apagão que atingiu Rio Branco, causando pânico no trânsito, nos hospitais e na liberação dos alunos nas escolas públicas e faculdades particulares. O senador Tião Viana fez telefonemas e explicou que o apagão resultou da interrupção no linhão que liga Porto Velho (RO) a Rio Branco.

Após o apagão, o reitor da Universidade Federal do Acre, Jonas Filho, declarou que considera inviável o projeto para o Acre porque a prospecção está prevista para ocorrer na região do Vale do Juruá, na fronteira do Acre com o Peru, mapeada como área de preservação permanente, terras indígenas e áreas de preservação ecológica. "Aquela região é considerada uma das áreas com maior biodiversidade do planeta", assinalou o reitor.

Traição
O sindicalista Osmarino Amâncio, que ganhou projeção internacional como companheiro de Chico Mendes nos anos 80, criticou duramente o projeto do senador Tião Viana. Na interpretação dele, a prospecção de petróleo visa destruir a cultura do extratrivismo das populações tradcionais.

"Nós vamos às últimas consequências para barrar esse projeto agressivo, que só vai nos trazer barbárie. Esse projeto é uma traição. Para obter apoio de lideranças sindicais, antes aliadas de Chico Mendes, estão sendo distribuídos cargos comissionados. Assim, elas dizem absurdamente que a exploração petrolíferera pode ser sustentada", afirmou Amâncio.

O jornalista Antonio Alves, que desenvolveu o conceito de florestania e que assessora o governador Binho Marques, foi aplaudido e causou irritação ao senador Tião Viana ao declarar que uma decisão em relação ao projeto de prospecção exige uma decisão ética. "Nós não podemos nos comportar com a alegação de que o nosso combustível fóssil terá uma contribuição irrisória para o aquecimento global".

Alves critou duramente os parlamentares acreanos que jamais apresentaram emenda ao Orçamento Geral da União em defesa da prospecção da biodiversidade das florestas acreanas. Ele citou como exemplo a secreção do sapo kambô, cujas propriedades farmacêuticas são pesquisadas por laboratórios no exterior. "Não existe dinheiro para pesquisar a secreção do sapo, o que não causaria impacto nem ao próprio sapo, pois o mesmo é liberado após a retirada do material".

Orleir Cameli
O jornalista assinalou que no Vale do Juruá existem quatro tipos de áreas: as terras indigenas, as reservas extrativistas, as reservas ecológicas e as fazendas de propriedade do ex-governador Orleir Cameli. "Como os representantes da ANP reconhecem que a legislação proíbe a prospecção de petróleo em terras indígenas e nas áreas de proteção ambiental, o projeto do senador vai beneficiar o ex-governador".

A carta do movimento social acreano fez uma crítica velada à assesoria do senador e à imprensa acreana ao "repudir toda forma de cerceamento à livre expressão, assim como toda tentativa de achincalhe às pessoas e instituições que procuraram iniciar o diálogo acerca das vantagens econômicas desta atividade, dos impactos sócio-ambientais e também acerca das salva-guardas ambientais e sociais que se fazem necessárias antes do início das atividades de prospecção".

"Estamos convictos de que somente através do debate qualificado, da democratização da informação e do envolvimento da sociedade, podemos construir propostas que conciliem os diversos grupos de interesse e que possam, em conjunto, definir o melhor caminho para desenvolvimento sustentável do Acre e a melhoria de vida da sua população", acrescenta o documento.

Leia mais no Amazônia. Ou no blog do Reinaldo Azevedo, no site de Veja.

11 comentários:

Anônimo disse...

Não pude participar do debate, mas,se lá estiesse também aplaudiria de pé o Toinho e o valente Osmarino pelas suas falas,gostaria também de ver a cara de raiva do senador, enquanto esses guerreiros falavam. Vida longa à Toinho, Altino, Osmarino e demais devotos da causa. Viva o sapo kambô!

Anônimo disse...

Parabéns pela cobertura Altino.

Gostaria de comentar a presença do Eduardo Suplicy, que pode ser admirado por muitos, mas teve uma participação digna de programa de auditório no "debate".

O senador demonstrou nao entender NADA de geografia, com a comparação grotesca entre o Acre e o Alaska.
Como se pudessemos de forma simplória "importar" soluções economicistas. E também como se a pobreza fosse somente um problema econômico. (Se assim fosse, a Suécia não teria uma das taxas de suiçídio mais altas do mundo!!!!!)

O que vamos fazer com as royalties milagrosas do petróleo?

Vamos ganhar royalties pra comprar mais alimentos nos supermercados da elite política do JURUÁ?

Vamos todos pagar pela educação de nível superior do tipo "UNOPAR" a distância, pagando também para que alguém faça os trabalhos acadêmicos do curso?

Vamos pagar pelo atendimento de saúde dos médicos sem CRM do vale do Juruá?

Por fim o programa de auditório do senador teminou com ele cantando uma versão patética e em marcha lenta da canção de Bob Dylan.

Nem o Edvaldo Magalhães conseguiu disfarçar a cara de paisagem diante da música em inglês..................

Anônimo disse...

Caro Altino.Amo voces.Beijo.Rubra.

Anônimo disse...

Ora, a presença do senador paulista foi mais uma mostra do autoritarismo do senador Tião, que já trouxe a discussão do dinheiro sem ao menos ter havido a discussão do quão perigoso será a exploração e futura queima do produto. Sem dizer que com o "desenvolvimento" do Juruá virá todos os problemas das ditas cidades grande, que o governo e a sociedade até hoje não sabem ou não querem resolver. O Tião nem elegante sabe ser, ficar piscando enquanto o omii cantava, coisa de gente tosca!

Arison Jardim

Anônimo disse...

Não foi possível participar do debate, espero que chegue ate os municípios mesmo que seja por regional enquanto isso não acontecer acompanho pelos eu Blog e radio.
Parabéns a todos que defenderam a proteção da nossa Amazônia Toinho, Osmarino, Altino, sindicalistas, ambientalistas.

Anônimo disse...

Olá Altino,

Tenho acompanhado pela imprensa e também assisti aos dois eventos promovidos pelo Gabinete do Senador Tião Viana sobre a prospecção do petróleo no Acre e apesar de não ter ainda uma posição completamente firmada, tendo a inserir-me no campo dos que defendem a necessidade dos estudos preliminares e prospecção propriamente dita.
Concordo com o fato de que devemos ter mais e melhores informações sobre o assunto: entretanto, pelo que tenho visto, ouvido e lido, gostaria de fazer algumas considerações:

A primeira delas diz respeito à forma particular com que o equívoco do nome do segundo evento promovido pelo Gabinete do Senador foi tratada: li, com muita propriedade, a correção realizada pelo professor Sevá em relação ao engano de se considerar “Prospecção de Derivados (sic)... e é claro que o título deve ser corrigido. Utilizar essa informação para fazer pouco, tripudiar ou desqualificar o debate e até mesmo, de uma certa forma, os organizadores do evento (como li em alguns comentários no seu blog ) não me parece postura de quem realmente quer aprofundar a discussão. Esta é realmente a questão de fundo do debate?

Uma outra consideração a fazer, depois do que ouvi ontem, apesar dos prejuízos com a queda de energia ocorrida na hora, é que não me parece que passou pela cabeça da maioria dos presentes ao evento acabar com a Amazônia, com a floresta, promover a exploração dos povos ribeirinhos, índios, seringueiros e comunidade: entretanto, existe hoje uma questão concreta, colocada para ser avaliada – o petróleo e seus derivados continuam sendo a matriz energética mais importante e todas as opções disponíveis hoje, ainda em estudo e pesquisa, como o etanol e outros não são ainda capazes de substituí-lo a contento. A meu ver, temos duas saídas: ou nos preparamos para isso, e aí envolve estudos, prospecção, correção de erros já havidos com exploração indevida, garantia das áreas indígenas, distribuição eqüitativa e responsável dos royalties, conservação do meio-ambiente e tudo o mais que se refere a uma forma responsável de tratar a questão ou não estudamos, não discutimos o problema, não nos preparamos para a defesa do meio-ambiente e do que queremos em caso de exploração do petróleo, fazemos de conta que não precisamos de gasolina, óleo diesel, voltamos a usar bicicletas (produzidas manualmente), não usamos roupas industrializadas e vamos plantar nossa própria comida. E atenção: nada de telefones celulares, computadores, cigarros, bebida, viagens de avião e/ou carro e tudo o mais que possa levar petróleo em alguma etapa de sua linha de produção.

É claro que a defesa do meio-ambiente deve ser a PRIMEIRA questão a ser considerada. É claro que se deve garantir que as reservas extrativistas, as áreas de proteção, as terras indígenas, as comunidades sejam preservadas. É claro que vamos ter de brigar, e vamos sempre fazer isso de forma desigual com o velho capitalismo, tentando garantir um modelo de desenvolvimento que ao tempo em que explore, garanta também a sobrevivência da floresta. E é claro que isso tudo é um cabo de guerra, onde tem mais peso quem está organizado, quem detém informações e principalmente, quem sabe o modelo de sustentabilidade que quer defender.

O impacto social será tanto menor quanto mais claras ficam essas contradições e as formas de minimizá-las, com seriedade e responsabilidade. O debate está aberto, as pessoas, organizações, governo, empresários, ONG’s, estudantes, ambientalistas, todos estamos sendo chamados para discutir e é óbvio que as opiniões são e é importante que sejam, divergentes, complementares.

Não sou partidária da tese do tanto pior, melhor. Não me sinto bem, como não me senti ontem, em ver algumas pessoas da plenária rindo, pasme você, rindo debochadamente da intervenção de uma determinada pessoa que teve a coragem (porque é preciso fugir da timidez) para colocar suas idéias, e submetê-las de forma democrática à apreciação de quem estava ali querendo ouvir. É essa a postura desrespeitosa de quem quer ver a floresta respeitada?

Essa deve ser a postura da crítica ou da oposição? Vivemos em quantos planetas diferentes? Ou estamos tratando da mesma casa?

Há muito tempo atrás, quando ainda na Universidade, enjoei de assinar abaixo-assinados pelo fim da ditadura militar, muitas pessoas diziam: “por quê perder tempo com isso? Nunca vamos conseguir isso, essa possibilidade não existe!”. O tempo, a história e a luta dos trabalhadores mostrou que é possível desafiar o que está errado, quando se tem um sonho e se acredita nele: e o meu continua sendo um sonho de preservação da floresta e do meio-ambiente, sem esquecer que o desenvolvimento também está aqui na nossa frente e exige respostas. Principalmente, exige respostas responsáveis.

Muito mais tem pra ser feito. Muito mais gostaria de ouvir. Entretanto, acho que essas discussões são importantes e necessárias e por esse motivo, gostaria de parabenizar a iniciativa do senador Tião Viana, que mais uma vez mostrou a seriedade do seu trabalho, parabenizar as questões levantadas pela SOS Amazônia, entre outros, e ainda a grande maioria que foi ao Teatrão ontem, na esperança de colher mais subsídios para se posicionar desta ou daquela forma. Também gostaria de parabenizar você, cujo blog tem trazido tantas e tão diversas e boas opiniões sobre o assunto. É pena que precisei sair antes do Toinho falar, gostaria muito de tê-lo ouvido.

Um abraço,

Patrycia

Anônimo disse...

Oi,gostei muito desse blog e irei voltar,nos não podemos ficar só vendo a nossa Amazonia ser destruida e não fazer nada a respeito.

Anônimo disse...

Parabens Altino,

Fiquei até emocinado onten ao ler a cobertura ao vivo do de BATE.

Teve um monte de bola fora né??

Abraço,

Edson

Anônimo disse...

Bem a postura do Reitor Jonas da UFAC foi tão clara quanto é a expressão dele. É ele foi eleito, porém num contexto de quem seria menos pior (me pergunto até hoje...) pois comprova ser catastrófico em termos adminitrativos e politicamente também. Ainda bem que é o fim do mandato.

Anônimo disse...

É bom o tião se conformar com as palavras do Toinho pois, caso contrário o Xeque vai acontecer!
O Toinho é uma referência nacional: pela simplicidade, humildade, consideração e respeito com a Floresta e com a Cultura do Brasil!

Anônimo disse...

Tai, Antonio Alves. Gostei (gostamos todos) de ver o capivara em ação. Quem não deve ter gostado muito foi o senador vianna... Abs na paz e no bem neném