segunda-feira, 19 de março de 2007

TIROTEIO NA IMPRENSA

Antonio Alves

O escândalo da semana passada foi o assassinato de um homem que pescava num açude do fazendeiro Betão. Eram cinco: um morreu sangrando, abandonado; seu irmão escapou ferido e foi quem deu a notícia; os outros fugiram. O delegado só foi ao local dois dias depois, a contragosto. Nas páginas dos jornais dispensou-se o poder judiciário: o caso já está resolvido e os culpados sentenciados. O principal culpado, segundo a imprensa do Acre, é o morto.

A Gazeta disse que “vigilantes” haviam matado o pescador. Usavam farda? Eram empregados de qual empresa de vigilância? Isso a Gazeta não informa. Mas a Tribuna é mais direta e qualificou os furtivos pescadores de “invasores”, clamando contra este verdadeiro flagelo que assola as propriedades do Acre, vítimas de constantes ataques. Mas, o jornal comemora, “desta vez os bandidos se deram mal”.

No dia seguinte a Gazeta anunciava que a polícia estava procurando vítima do “tiroteio”. Sim, não deixa de ser um tiroteio, mas a palavra induz a pensar que havia troca de tiros quando, na verdade apenas um grupo estava armado, o dos “vigilantes”, que ninguém ousou chamar de capangas ou coisa parecida; o outro grupo, dos pescadores invasores, estava armado de anzol e caniço. Mas já desconfio disso, também, pois antes que a semana se encerrasse, a polícia já tinha a confissão de um dos invasores de que estava armado e havia atirado contra os vigilantes (e eis que já não uso aspas, pois de tão repetidas, as denominações tornaram-se verdade inquestionável).

O advogado do fazendeiro, entretanto, declarou à imprensa que o tiroteio foi entre dois grupos de invasores, os empregados da fazenda só chegaram ao local muito tempo depois. O advogado é o presidente da OAB no estado.

A mãe do assassinado é uma humilde funcionária pública. Vai ajudar a nora a cuidar dos cinco órfãos, todos ainda na primeira infância.

E eu não posso fazer nada, a não ser chatear meus companheiros do governo (especialmente meu xará Antônio Monteiro, secretário de Segurança Pública) perguntando, quando os encontro nas reuniões: e aí, já prenderam o Betão?

Quanto à imprensa, compreendo que tenha tanto medo dos ricos –também tenho-, mas não precisa ser tão valente contra os pobres.

O jornalista Antonio Alves, assessor especial do governador Binho Marques (PT), escreve no blog O Espírito da Coisa.

13 comentários:

Anônimo disse...

Certa vez, ao ser questionado sobre a dominação que o governo petista-vianista exercia sobre o Judiciário, especialmente o TRE, e o Ministério Público,o que no meu entendimento constituía vício ao processo eleitoral, o bravo Toinho me respondeu: "Senta na calçada e chora". É isso aí Toninho. Sua vez de sentar na calçada. Vá se acostumando.

Anônimo disse...

Vibro quando vejo o Antonio Alves fazer Jornalismo. Bem que poderia voltar para as redações. Talento, tem de sobra. E olha que eu detesto rasgar a seda.

Anônimo disse...

Faroeste, cabôco!
Ainda tem gente que diz que a imprensa daqui é uma merda né Toinho? Como é que tu tem coragem de dizer isso de gente tão competente em defender o lado certo nas coisas erradas? Sei lá se é assim...
Mudando de pato pra Ganso, o teu xará, o Monteiro e os seus assessores aqui acolá "sugerem" que a imprensa também pegue leve, que não mostre a violência né? Mas poucas vezes vi coisas tão violentas quanto as fotos que o Roberto Vaz publicou da mulher que ele tinha "deglado" de manhã e depois consertou... vai dizer que não foi um polícia que tirou aquelas fotos? Com quem será que ele vai rachar as cervas que ganhou vendendo as fotos pra fazerem divulgação que deprecia o trabalho da secretaria que ele trabalha? Que rolo... e esse não dá pra vcs pitarem, esse rôlo quem tá pitando é a cobra, e o pé direito do Binho tem que pesar um pouco mais, porque acelerar ferrari de F1 é uma coisa, mas pra acelerar carro da polícia tem que ter mais chumbo, nos pés...

Anônimo disse...

Quando o RICO mata o POBRE o DEFUNTO vai preso... êta terra, que não muda...

Anônimo disse...

O secretário de Segurança que também tem açude, deve reforçar a segurança dos açudes dos colegas na Semana Santa, pois é quando mais se pesca."Chamem o ladrão..."

Anônimo disse...

Altino, confesso que não conhecia, como ainda não conheço bem, o histórico de vida profissional e de lutas do Toinho Alves.
Julgava-o simplesmente um profissional do mercado da comunicação e um poeta que, eventualmente e em doses homeopáticas, distribui prá nosso deleite as pérolas que escreve em seu blog "O Espírito da Coisa", o qual visito executando vôos rasantes sem no entanto ter tido a audácia de aterrisar, pois cauteloso, aguardo sempre a autorização dos controladores de vôo, como foi no seu caso. Mas enganei-me. Ele é, na acepção máxima da palavra, um verdadeiro Jornalista, assim como reputo você, pois parto do pressuposto que o verdadeiro Jornalista tem que prescindir dos políticos e de seus partidos e, com independência, fazer a pura política das idéias. Enfim e prá minha alegria, descobrí também que o mesmo tapirí que abriga o humilde poeta, abriga também um grande guerreiro. Abraços

Anônimo disse...

o que poucos falam... na verdade muitos recebem autorização para pescar "legalmente" nos açudes do Betão... por isto tamanha defesa dos "vigilantes" e protestos contra os "clandestinos".

Anônimo disse...

O secretário de segurança tem açudes, pousada, área de eventos e convenções (sempre ocupadas pelo governo da floresta), propriedade comprada próxima a 3ª ponte e futuro ceasa adquirida após informações privilegiadas... O que ele não faz mesmo é ser secretário de segurança. Nomeou os poucos delegados como assessores, diretores, etc.. e trabalhar que é bom nada. O cmte da PM tentando consertar viaturas, telefones, etc.. e o patrão da segurança só recebe o salário no final do mês..

Anônimo disse...

Fico muito feliz quando vejo o Toinho escrevendo assim. Chega a ser emocionante. Há tempos não o via tão despojado, tão empolgado, escrevendo como no velho "O Espírito da Coisa". Imagino até o Zé Leite lendo isso.
Só faltou mesmo comentar a entrevista que o Monteiro deu dizendo que a população também tem que se mobilizar para ajudar a conter a violência... Era só o que faltava, será que agora teremos que fazer o papel da polícia?

Anônimo disse...

Walmir, vc ainda não viu foi nada! Esse menino, quando resolve levantar da rede e parar de olhar a lua refletindo no açude, é cobra. Tem um texto gostoso, vai no cerne da questão e não tem medo de onça.

E você, Krisba, também ouviu aquela entrevista infeliz? Eu me senti incomodada, não pelo que o Monteiro quis dizer, mas pelo que disse. Me vi na obrigação de não sair mais de casa, colocar cerca elétrica, dois seguranças armados, três cachorros dos brabos, carro blindado e vai por aí...
Um beijo para você menina.
Leila

Unknown disse...

É.... o negócio por aí anda feio. Por aí e por aqui. Eta Brasil!

Anônimo disse...

Toinho lúcido
Toinho coragem
Toinho de luta,
Tu que choras a morte brutal do irmão que não viste nascer

Anônimo disse...

Aquele "conceituado jornalista", garoto propaganda do Senador e dono da RDA, que derrama sangue no café da manhâ do riobranquense, dizia, há dias atrás, q a criança espancada, "certamente ficaria com sequelas físicas e morais". Fiquei achando q tinha se "tocado", porem no dia seguinte voltou ao normal desdenhando de cada "pé-de-chinelo" q vai pra penal. Será q ele pelo menos conta ao final de cada semana vão para aquela casa? Acorda mulé, acorda macho!