quarta-feira, 14 de março de 2007

PEITOS DE ARRIMO

Leila Jalul

Quando voltei de Nicteróy (é assim que quero grafar), me descobri marido de mamãe. Era pegar ou largar. Peguei, claro! Ou pegava ou deixava os meninos sucumbirem de fome.

Um marido a mais, um marido a menos, que diferença faz?
Vamos trabalhar. Não cabe discussão, nem ilusão.

Tem menino chorando e fome não marca escolha, nem hora, nem lugar. Quem é o juiz de menor dessa meleca de comarca? Simbora!


Assim me defrontei com Dr. Louri. Cabra de voz grossa, aluno do Instituto Santa Terezinha, de Cruzeiro do Sul. Cria de alemão, arianos católicos, e filho de gente da terra. Um cruzamento perfeito para entender minha necessidade de atender.

Quem não morrer no paredão, da fome não escapará. Simbora!
Entrei na fila dos oprimidos, falei com Louri e, de lá do juizado, saí com um ofício-autorização, de pouquíssimas linhas, símbolo bastante para apresentar como um green-card para o trabalho, na condição de arrimo de família.

De fila em fila, entrei no palácio de outros príncipes e princesas, pedindo um cadinho de atenção e um emprego, evidentemente. Valeu!

Havia exaurido os ovos de todas as galinhas das adjacências, cedidos por benevolência ou “pedidos emprestados”, por necessidade. Besteira besta! Um ovo a mais, um ovo a menos, é mesmo que marido. Alguém botará outro.


Na sala de espera, olhos e coração apertados, espero a hora. Valeu! Me aparece o homem mais lindo do mundo, um tal de Cláudio Marta Rocha. Preciso explicar?

Aburrido, olhar de meio-dia, pergunta para a eterna chefona de gabinete, dona Heloísa:

- Essa menina, o quê quer?

- Ela quer emprego.

- Como? Nem peito essa menina tem!

Gente, é nessa hora que o espírito do finado Cansanção baixa em mim. Respondi quase que decorado, texto pronto, à revelia de qualquer tipo de boa educação:

- Doutor, eu só quero um emprego. Que eu saiba, sou datilógrafa usando apenas as mãos. Os peitos, quando nascerem, serão apenas outro tipo de arrimo.

Valeu, Louri! O homem me quis. Com ou sem peito. Valeu!

Um comentário:

Saramar disse...

Menina Leilah, Altino, boa tarde.

Até para falar de dificuldades, o texto é uma delícia de ler, com esse atrevimento de acrana que você tem.
Se antes dos peitos ninguém a segurava, imagino como foi quando passou a ser "mulher de peito".

Delícia de ler.

beijos a ambos