sábado, 27 de janeiro de 2007

O ACRE É LOGO ALI

Oi, Altino.

Tudo bem?
Mando-lhe o copião eletrônico do último Jornal Pessoal, no qual faço referência ao seu blog.

Um abraço,

Lúcio Flávio Pinto

O artigo que escrevi na edição passada sobre “Amazônia – De Galvez a Chico Mendes”, a nova minissérie da TV Globo, reproduzido no blog do jornalista acreano Altino Machado, acabou repercutindo no mundo virtual. Talvez se possa aproveitar o enredo global para que os brasileiros, os amazônidas e os paraenses conheçam melhor a história e a realidade do Acre. E os próprios acreanos também se dêem conta da sua situação. Por isso, reproduzo algumas manifestações postadas no blog de Altino, que, ao reproduzir o artigo do Jornal Pessoal, observou: “Com certeza não é o caso do jornalista, mas muitos paraenses estão inconformados porque o Pará não é retratado com destaque na minissérie Amazônia”.

Claro que há por aqui pessoas com tal sentimento, mas não é o dominante. E, acho, sequer tem maior expressão entre os mais interessados no tema. Passando bem acima de bairrismos e visões estreitas, deve-se buscar uma compreensão mais ampla e lançar pontes ao entendimento regional comum e solidário. Ao contrário do que disse Altino, o que se observa por aqui não é propriamente despeito ou inveja: infelizmente, é indiferença.

Dani Franco (Paraense e jornalista) – Altino, assim como sou sua leitora assídua, também o sou de Lúcio Flávio Pinto, e como ambos, também sou jornalista. Como você mesmo disse, não se trata do caso do Lúcio Flávio, e nem o meu, achar que o Pará é quem deveria ser retrado numa produção da Globo. O que acredito – e já te disse isto antes – é que o maior problema não só dos paraenses, mas do resto do país é de não conhecer a história do Acre.

Lembro que na matéria da 1a edição da Rolling Stone Brasil, havia uma especulação sobre o governo do PT do Acre ter investido uma boa verba na mini-série mais cara da Globo. Então, para nós que estamos de fora, e jornalistas que somos, não fica difícil unir alguns pontos e – sem ter o conhecimento que os acreanos detêm sobre sua própria história – concluir que a mediação Global na retratação do Acre possa fugir de fatos importantes para dar destaques a alegorias glamourosas...

Silvana de Faria – Altino: leio seu blog quase todos os dias porque é uma delícia e porque você é minha ligação com o que se passa no Acre e lhe dou crédito, como sou uma apreciadora do trabalho e competencia do jornalista Lúcio Flávio Pinto. Não somente respeito a opinião dele como concordo. Mas aí que tá: “Padrão Global” é o que o brasileiro consome todos os dias dentro e fora da “Amazônia” da novelista Glória Perez. Mas e daí? Como ele mesmo afirma, é pura ficção. Pena que nem todos os brasileiros saibam fazer a diferença... Descrever um Brasil “moderno”? Claro que tem que ter o "Padrão Global...
E voltando ao paraenses. Também acompanho vários jornais de Belém online. Não pressenti nenhum “despeito” da parte dos paraenses. Ao contrário: outro dia lí numa coluna de "O Liberal" que Belém iria ser citada em alguns capítulos e havia tom de orgulho nisso. Converso com amigos e famíliares, trocamos email, também não senti nenhum “despeito”. Minha opinião – e ela somente retrata o que eu conheço: o paraense é 'barrista' demais para se incomodar com o que se passa na casa do vizinho e sobretudo Belém é uma grande metrópole. Existe uma infra-estrutura capaz de receber produções cinematográficas de origem nacional e internacional. O resultado é que muitos filmes já foram rodados lá... Se Belém não é retratada na “Amazônia” (por opção dos que a realizaram) é uma pena. Afinal, Belém (e o Pará) e os paraenses fora do contexto histórico do Acre (e da Amazônia), é tremendo lapso.

Altino Machado – Silvana, li queixas incisivas no blog da Glória Perez e no Orkut. Ainda estão lá as reclamações dos paraenses. Mas isso é bobagem.


Silvana – Não li o blog da Perez... Não dá pra ler tudo, né?



Observatório

Sobre o mesmo artigo, duas pessoas se manifestaram no site do Observatório da Imprensa.

Maria Catarina E. S. Lima, estudante de administração, Recife (Pernambuco) – Nossa! Tem ainda alguém que duvide que algo na Globo é realmente retrato da realidade!? Que inocência desses que acreditam naum!?

Rodrigo Dias, biólogo, Manaus (Amazonas) – A questão é que em boa parte do interior da Amazônia não faria a menor diferença qual país fosse o “dono” da terra. Falar-se-ia espanhol como português, como se fala nhengatú e tantas outras línguas indígenas (ainda). Em Manaus é comum dizer “lá no Brasil”, referindo-se ao que acontece na TV, que apenas espelha o sudeste. Na contracapa da revista Caros Amigos vi várias propagandas de um festival “nacional” de cultura da Caixa Econômica Federal, que, como sempre, tinha atividades apenas de Salvador e Brasília para baixo. E da Rede Globo, o que podemos esperar? Ainda mais depois de um ator global (não lembro quem), dando entrevista para o Vídeo Show, congratular o povo acreano pelo “orgulho e felicidade que eles tiveram ao poderem considerar-se, definitivamente, brasileiros”. Fala sério!

O jornalista Lúcio Flávio Pinto é o próprio Jornal Pessoal, que existe há 20 anos e está em sua 384ª edição. Circula quinzenalmente em Belém (PA) e custa R$ 3,00.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola, Altino!
Que surpresa rever esse texto ainda mais com a nobre (re)
participação do Lúcio Flávio Pinto na polêmica "Global" ou melhor...
"Blogal" da novela "Amazônia". Queria esclarecer uma coisa aqui que
ressenti ao reler o Lúcio Flávio e tento não pegar isso
pessoalmente, embora seja difícil, pois sou a rainha das
paranóicas... MAS
Quando me referí ao paraense ser "barrista" coloquei sim minha
'visão' , que não considero 'estreita' - pois não somente sou
Acreana como vivi minha adolescência no Pará onde vivi, meus
familiares também moram lá e visito Belém quase todos os anos
(inclusive tirando um tempinho especial demais para conversar com o
próprio Lúcio Flávio por telefone, sobre AÇAI (!) ACredite... Entre
outras conversas maravilhosas que somente ele possui- sobretudo em
respeito à Amazônia.
Pois bem, há 22 anos vivo fora do Acre, Pará e do Brasil acho que
tenho talvez uma certa objetividade em falar assim.
Na verdade o que quis dizer é que o Paraense se orgulha e sempre se
orgulhou sim, de ser o que é, de sua terra, sua comida, os
carangaejos e camarão (claro), seu folclore, do patichuli, sua
música, da chuva das 2, do samba, do carimbó, de sua MPB, de suas
escolas, Universidades, o sotaque local- o "tu" no lugar do "você" ,
suas praias, seus rios e etc... do Círio de Nazaré e tudo mais - a
realidade, longe de clichés. O paraense é muito autêntico e
orgulhoso ao falar de sí no contexto nacional- e na minha opinião
não abre mão disso e não troca (nem sua paisagem) nem sua cultura
regional por qualquer outra do pais ou sobretudo do sudeste
"Global". (Será que isso é ser 'barrista' ?) Desculpe-me se errei a
palavra...
Voltando à "fabrica de sonhos" e sem comparar com outros casos- pelo
amor de Deus!
O Pará tem história demais para se orgulhar, para não citar entre
elas a Cabanagem que tem enorme potencial dramático para virar
novela, mini-série ou filme. O Pará tem campo e assuntos diversos
demais, existem escritores maravilhosos, autores (do passado) assim
que atuais com enorme potencial e talento para serem adaptados e tem
também a infra estrutura capaz de suportar grandes produções, volto a
repetir. Ai que eu volto e concordo (de novo) plenamente com o Lúcio
Flávio Pinto. A indiferença também nesse caso- faz com que esse
potencial (artístico) seja inexplorado.