terça-feira, 9 de janeiro de 2007

MOACYR SCLIAR

A fantástica história da Amazônia

Uma ocasião, cheguei a Viena, para um encontro de escritores, e, tão logo me acomodei no hotel, liguei o televisor. Ouvi vozes em alemão, como era de esperar, mas as fisionomias que apareciam na tela eram surpreendentemente conhecidas: ali estava, por exemplo, Lucélia Santos. Era Sinhá Moça (ou Zinha Moza, na versão alemã), que fazia grande sucesso na Áustria e confirmava uma coisa que de há muito se sabe: a Globo é realmente global, ela corre mundo, fazendo até com que alguns intelectuais portugueses queixem-se do "imperialismo cultural brasileiro".


Agora: por que a Globo chega tão longe? A resposta pode ser encontrada nesta minissérie sobre a Amazônia, e se resume numa só palavra: competência. A Globo sabe fazer as coisas, e não economiza para fazê-las - cada capítulo da minissérie custa meio milhão de reais. A reconstituição de época, em termos de cenários e figurinos é excelente; há até uma consultora lingüística orientando os atores e atrizes sobre a linguagem de então; daí o surpreendente uso do "tu", que, estamos constatando, não era só gaúcho. O trabalho dos atores é excelente: o José de Abreu está notável como o arrogante e safado dono do seringal. Por último, a própria Amazônia, com as mais belas paisagens do planeta.

Uma outra coisa garante o sucesso da minissérie: o timing, o senso de oportunidade. Amazônia está na ordem do dia. Em primeiro lugar, por causa da ecologia. Nunca se falou tanto em efeito estufa, em aquecimento do planeta - e nunca se falou tanto na floresta amazônica como antídoto para a deterioração ambiental.

Por outro lado, é importante conhecer a história de uma região que os brasileiros foram incorporando - coisa que o presidente Evo Morales, da Bolívia, evocou, no auge da crise entre os dois países. Em maio de 2006, Evo Morales afirmou que o Acre teria sido anexado ao território brasileiro em troca de um cavalo dado à Bolívia. O governo brasileiro ponderou que, na verdade, a anexação ocorrera depois de negociações, das quais resultaram, entre outras concessões, uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas, o que, à época, não era pouco, e dava para comprar um bocado de cavalos. E uma tensa cena mostra exatamente isso: depois que um conflito é evitado, a bandeira boliviana dá lugar à bandeira brasileira. O apelo patriótico é mais que evidente.

Conclusão: a minissérie transforma aquilo que aparentemente é coisa do passado numa bem-urdida trama que tem vinculação com o presente. Em termos de grande público é uma garantia de absoluto sucesso.

O artigo do escritor Moacyr Scliar foi publicado na edição de hoje do jornal Zero Hora.

2 comentários:

Anônimo disse...

A muito tempo tenho ouvido falar q a D. Globo é isso, que escravisa os brasileiros com sua novelas, que faz com que as pessoas deixem de "pensar" quando estão assistindo aos programas da grade, que usa uma forma de comunicação baseada em persuasão. Muitas coisas que falam é verdade, mas uma verdade inquestionável é a forma competente que a emissora cria os produtos que vende, é muita competência.
Não sou muito ligado em TV, sobre tudo acho q na globo tem muitos programas lixo (vide faustão), não estou acompanhando a minissérie por conta de alguns trabalho mas pelo pouco que vi a minissérie deu pra arrepiar ao ver que é o seu estado ali sendo retratado.
Ainda bem q os bravos serinqueiros conseguiram dá o passo inicial para que o Barão do Rio Branco costurasse pelas vias diplomáticas a paz e o Acre fosse anexado ao Brasil, se não fosse isso, eu estaria escrevendo esse comentário em espanhol enquanto atendia os clientes em minha loja de produtos importados de taiwa.

Anônimo disse...

Moacyr Scliar é um dos prováveis participantes do projeto Sempre um Papo em Rio Branco, em 2007. O público acreano terá a oportunidade de bater papo com este brilhante escritor e intelectual brasileiro.