quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

CRISTÃOS ESTELIONATÁRIOS

Fátima Almeida

Sou da opinião que quanto mais feriados melhor! O artigo do pastor publicado neste blog [leia] é uma defesa impressionante da classe rica. Isso porque os feriados não trazem prejuízo nenhum à nação brasileira. Eles apenas diminuem a expectativa de lucro dos banqueiros, industriais e lojistas. É durante os feriados que os trabalhadores descansam, ficam perto dos filhos e têm lazer.

Os trabalhadores ganham com os feriados, os patrões perdem. Tudo que existe de vultuoso, de aparentemente próspero, é em benefício da classe rica. Os assalariados é que sustentam tudo. E o pastor está desatualizado, pois os Supermercados Araújo só liberam seus trabalhadores por um único dia no ano. O Dia de Finados, o Dia de Todos os Santos, feriados que eram sagrados, não são mais respeitados por eles.

Sobre a separação entre Igreja e Estado ter sido feita por “evangélicos históricos”, me causou um susto tremendo, pois nunca li nada sobre isso. Até onde sei essa separação foi movida pelo iluminismo francês a serviço da ascensão da burguesia. O interesse subjacente era óbvio, o confisco das terras da Igreja. A Igreja Anglicana foi criada pelo rei inglês pelas mesmas razões: confiscar as terras da Igreja, vendê-las para empresários e desse modo nutrir os cofres da Coroa, o que realmente aconteceu. Calvino promoveu uma ruptura no aspecto da ética e da moral.

A Igreja não se uniu ao Império Romano, mas este se submeteu ao cristianismo que se tornara a religião das massas suplantando o paganismo. Caiu Júpiter, caiu Marte, e ascendeu Jesus Cristo, graças, também, ao empenho do intelectual Paulo, que se ocupou, por sua vez, em suplantar a filosofia grega, pagã.

O autor do artigo pode vociferar à vontade até à exaustão, mas não conseguirá eliminar o Círio de Nazaré, por exemplo. Os feriados católicos constituem a essência da cultura popular, a identidade do povo brasileiro, mexicano, enfim, de todos colonizados pelas coroas ibéricas. Ele pretende mudar isso como? E o turismo? Já faz uma dezena de anos que o turismo religioso constitui uma verdadeira indústria.

Faça-se uma consulta de ordem econômica em Xapuri, por exemplo, no Dia de São Sebastião, junto a hotéis, restaurantes, lojas, empresas de transporte para verificar o montante de dinheiro que circula e entra nos cofres do município e dos particulares. A sociedade e a cultura brasileiras são completamente estruturadas pelo catolicismo. Um dos pilares da monarquia ruiu exatamente quando o monarca mandou prender os bispos leais a Roma. Até o Santo Daime é católico. E o espiritismo de Alan Kardec, apesar de ser um misto de cientificismo do século XIX com o hinduísmo, tem na sua base o Evangelho, a caridade, a prece, todo um parentesco com o catolicismo popular.

O feriado recente, dedicado aos evangélicos, é resultado de um enorme crescimento que vem acontecendo por parte das igrejas evangélicas, que são altamente organizadas, que têm, inclusive, concessão de canal de televisão e caminham para uma hegemonia religiosa no Acre. O próprio PT, que chegou ao poder com apoio da Igreja Católica, de suas pastorais, de seus missionários, ficou sem pernas quando o bispo que coordenava todo esse processo foi retirado do Acre. E foi aí que o PT partiu para alianças com os pastores evangélicos.

Hoje são eles que detêm maior poder no Acre pela enorme quantidade de votos que estão sob seu controle. Esse movimento é histórico! Será que eles vão conseguir fazer o próximo governo? E comandar todos os negócios do governo acreano? Nenhum deputado seria louco de ir contra isso - a raposa quer galinhas para comer, não está interessada se tem penas pretas, brancas ou amarelas.

Se for preciso ficar por duas horas, sentada, ouvindo sermão de pastor e comentários sobre a bíblia, a raposa fica. Só espero que o Acre não se transforme de forma tão irresponsável numa segunda Jerusalém. Se isso acontecer fico com os palestinos. A maioria dos cristãos não passam de estelionatários. usam o nome de Jesus para fazer exatamente tudo aquilo que ele rejeitava e negava.


Fátima Almeida é historiadora acreana.

20 comentários:

Anônimo disse...

Normalmente comento os artigos que minha mãe escreve com ela.. é só da uns passos e puff, mas hoje faço diferente! óbvia é a análise de que quem lucra com menos feriados são a burguesia nacional e hoje (graças a globalização) internacional, se o governo perde algo é um pouco dos impostos que deveria arrecadar para gastar 2 mil reais em um ascento sanitário ou sabe deus quanto em reformas em Pronto Socorros e delegacias que hoje é só chover um pouco que chove mais dentro que fora como diz no popular..

perfeita a defesa dos assalariados minha mãe, bjão!

Anônimo disse...

É, Fátima... até agora estou a me perguntar se você, afinal, é contra ou a favor da medida ufanadora de segmentos evangélicos através dessa anomalia que é o "Dia do Evangélico". Começou defendendo para, ao final, afirmar que "a maioria dos cristãos não passam de estelionatários". Você deve ser a maior autoridade no assunto, rivalizando-se com Webber, em sua "Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo". De fato, Igreja e Estado, quando juntos, todos perdem... como historiadora você sabe disso... é preciso apenas um pouquinho de coerência para reconhecer. Que foi a (dita santa) Inquisição? E as Cruzadas? A história está aí...

Anônimo disse...

Ainda bem que a professora Fátima defendeu os feriados, de origem católica ou não, principalmente aqueles ligados à cultura brasileira. Feriado é direito do trabalhador, minha gente! Viva o direito à preguiça, ao ócio! Viva Lafourge! Viva De Masi! Discordo, porém, do ultimo paragrafo, que poderia ser contextualizado. No mais, concordo, e assino em baixo. nn Pax et Bonum!

Anônimo disse...

Está aberto o debate. Quem ganha somos nós, leitores, analisando as opiniões antagônicas das partes. Estou gostando de vir por aqui. Está melhor do que a maioria dos jornais impressos. Parabéns, Fátima, pelo posicionamento. Se houver mais posições, estarei por aqui lendo-as. Um abraço.
P.S.: Altino, vc me passa o e-mail da Leila Jalul, por favor, desde já agradeço.

Anônimo disse...

Muito bom teu artigo Fátima, afinal de contas quem assim escreve conhece a história e vive fazendo história de sua própria vida, afinal de contas sei que tu mesma és exemplo de atitude e retidão diante dos caminhos da roubaheira que muitos de nossos amigos abraçaram e hoje não tem a mínima de condição de se posicionar diante da polêmicas que surgem, salutares é claro, senão, seriamos como diz na música do Gil" sou como rês desgarrada nessa multidão, boiada, caminho a esmo" no entanto ao final fizeste ocomentário de que "A maioria dos cristãos não passam de estelionatários, usam o nome de Jesus para fazer exatamente tudo aquilo que ele rejeitava e negava.", e aí generalizaste, porque Cristão é todo aquele que segue os ensinamentos de Cristo, no entendimento evangélico "Pequeno Cristo". Enfim, pergunto, todos estão no mesmo barco da desfaçatez,da lei de gerson,da doutrina da prosperidade? Claro que não, da mesma maneira que em meio a pedras nascem, flores, sempre existirá no meio do trigo, o joio. No entanto sei que tu tens discernimento e sabes quem é quem, independentemente de opção denominacional. Edson Carneiro

Anônimo disse...

Fátima, com urgência, venha se juntar aos defensores da causa Palestina. Lá não tem feriados: todo dia é dia de guerrear e recordar as tragédias de Sabra e Chatila. Ande logo! Esse mundo ocidental tá confuso e folgado demais da conta.
Mudando de assunto, por favor me dê carona amanhã para a festinha do cágado-bumbá. Vou gostar de ver o César e a Silene Farias. Me ligue.
PS. Altino, agora pode postar. No outro que pensei ou mandei, minha língua árabe se enrroscou e escrevi Chabra e Chatila. Imperdoável.

Anônimo disse...

Para um desempregado não faz tanta diferença, porém, queria que inventasse era o dia do Ateu e fizesse mais um ferido, aliás, já era pra ter feito o primeiro no ano passado no dia 06/06/06.

Anônimo disse...

A metralhadora desgovernada da ilustre historiadora atingiu a todos os cristãos, independente do perfil doutrinário. Com mais eficiência aos católicos, já que em nosso país são maioria. É o chamado fogo amigo...

Anônimo disse...

Nunca pretendi ser comparada a Weber, mas a obra citada pelo Hércules é uma das que mais gosto, isto é, que tenho por referência.Todas as críticas são pertinentes. O entusiasmo de NN é tudo de bom. Duda falou uma verdade incontste, o blog do Altino está sendo mais lido que os jornais impressos.Estou adorando as cronicas do Edson Carneiro, meu amigo desde que me entendo por gente.Ricardinho está certíssimo, sou do tempo da esquerda dos anos setenta e oitenta, quando falavamos muito em "patrões versus assalariados", mas hoje a situação é outra, é maior o desemprego. Leila vou buscá-la às cinco. Marcel precisa melhorar o português.

Anônimo disse...

Parabéns à Fátima pela lucidez e argumentação. É óbvio q é cínica e eleitoreira a criação do dia do evangélico, ou não conhecemos o sistema em q vivemos? No entanto, vejo nos feriados brasileiros um sinal de sabedoria. Temos direito ao ócio. Sobre críticas a "maioria dos cristãos não passam de estelionatários", por favor, não vistamos as carapuças. Basta olhar para Bush ou a Inquisição.

Anônimo disse...

Parabéns à Fátima pela lucidez e argumentação. É cínica e eleitoreira a criação do dia do evangélico, ou não conhecemos o sistema em q vivemos? No entanto, vejo nos feriados brasileiros um sinal de sabedoria. Temos direito ao ócio. Sobre críticas a "maioria dos cristãos não passam de estelionatários", por favor, não precisamos vestir as carapuças. Basta olhar para Bush, Inquisição, "Evangelização" dos ameríndios...

Anônimo disse...

Perfeitos os comentários de Leila e Paulo, tanto quanto à criação do "Dia do Ateu" - afinal, as minorias têm que ser valorizadas e reconhecidas - quanto ao "fogo amigo" mencionado no comentário que me antecedeu. Nossa amiga Fátima precisa, urgentemente, proceder leituras adicionais para que possa reciclar-se de forma a não publicar tais incoerências. Repito, quem não aprende com a história, corre o risco de repetir os seus erros. Como diria o brocardo, "maior cego é o que não deseja ver". Um abraço, Altino. Adiante com o blog.

Anônimo disse...

Que tal 365 feriados? Assim o Estado recolhe aos cofres públicos recursos
suficientes prá bancar seus barnabés ativos e inativos. Só me faltava essa!!!

Anônimo disse...

Édson, meu caro, é uma satisfação encontrar você por aqui, neste ambiente virtual. Como diria Vinícius de Morais, "a vida é a arte do encontro". Percebi que você postou comentários tanto no bem redigido artigo pastoral sobre o nefasto "Dia do Evangélico" quanto na reflexão de nossa ilustre historiadora. Interessante é que parebenizou a ambos, embora tenha, ao final do último, alfinetado sua amiga desde priscas eras, a professora Fátima. Isso seria o que, há tempos, a cultura popular diz que é "acender uma vela ao pastor e outra à Fátima"?. Um abraço, meu querido amigo e parceiro. Minha mãe, Ozires, manda lembranças...rs...

Anônimo disse...

Valeu, Maurício Bittencourt. Por todos os oprimidos desta terra. Valeu mesmo.

Anônimo disse...

Quero ressaltar a parte do texto da Fátima relacionada à questão cultural. De fato, a cultura brasileira, incluindo aí todo nosso patrimônio edificado,tem suas bases no contexto religioso, de modo predominante. Com o crescimento das igrejas evangélicas em todo o território nacional, de forma progressiva, assistimos hoje uma verdadeira revolução cultural no país, quando valores, costumes, crenças, festejos etc, historicamente incorporados, passam a ser considerados "do mal" e muitas vezes combatidos abertamente. Sem entrar no mérito do que é bom ou não, isso muda nossa história e nossas bases culturais, considerando a dimensão dessa realidade. Quando falamos em cultura popular, por exemplo, temos que admitir, hoje, um processo de mudança profunda,em especial nos contextos dos festejos tradicionais e folguedos, muitos deles prejudicados pelo afastamento de grande parte de seus componentes, por motivos religiosos. Há comunidades inteiras, transformadas por influências de igrejas evangélicas, que negam suas raízes e passam a rejeitar práticas tradicionais, como o uso de plantas medicinais, festejos e comemorações com danças. Há inúmeros exemplos, inclusive em comunidades remanescentes de quilombos e indígenas.
O conceito de folclore, substituído pelo de cultura popular, pode voltar a ser útil, em algum momento.

Cabe aqui ampla discussão do ponto de vista da cultura, envolvendo, evidentemente, os aspectos da política, da história, do desenvolvimento social. Os órgãos públicos responsáveis pela política cultural têm muito o que debater, considerando ser a cultura, em seu conceito amplo, um conjunto de saberes e fazeres das sociedades. Mas este é outro assunto.

Quero desejar muita animação para todos na festa do Jabuti-bumbá. Leila, não é cágado-bumbá, viu ? Olha que tem música minha lá também, em parceria com Silene e Bruxinha.

Anônimo disse...

O Dia da Corrupção cairia muito bem...

Anônimo disse...

So quero parabenizá-la pelo blog, muito bom, em vários sentidos. Parabéns pelo seu rico conhecimento e muitos sucessos no blog!

Anônimo disse...

Keilah Diniz acrescentou substancialmente este debate.Eu me senti puxada de volta aos trilhos,ao comboio, pois essa tem sido a nossa luta desde 1977 e ela resgatou isso como um processo que vem de longe e que me conduziu a essa exposição sem que eu me desse conta inicialmente.Talvez porque eu esteja fatigada dessas discussões estéreis e histéricas às vezes, sobre Estado e política cultural pensava que poderia passar ao largo.Tomara que todos os outros acrescentam pois o momento é muito crítico.Abenção, Keilah Diniz!

Anônimo disse...

Oi Hecules, pois é meu amigo, os parabens ficam pela coragem de se posicionar publicamente quando muitos se fazem de avestruz, ou como aquele menino quando bricávamos há muito tempo punha as mãos nos olhos e dizia "ninguém tá me vendo", ou seja, ficar alheio a uma situação, não quer dizer que ela deixe de existir, ou que não incomode.
Para a Fátima nosso amor e carinho é tão antigo que permite intimidades na resposta, quanto ao pastor não o conheço, mas mesmo assim respeito o posicionamento. Que bom saber noticias da Oziris meu e-mail é: iderlandia@yahoo.com.br

Sobre esse dia do evangelico muita água ainda vai passar por baixo da ponte by the way fico estudando e esperando um dia em que esteja mais fortalecido para escrever e combater o bom combate (guardando a fé)