sábado, 4 de novembro de 2006

OS PREJUÍZOS DO 4º FUSO

Moisés Diniz

O Acre voltará a enfrentar transtornos nos próximos 90 dias em decorrência da convivência com um fuso horário que inviabiliza a vida do povo. Dentre os principais constrangimentos, indicamos:

a) A programação de TV, gerada no sul e sudeste, não respeita o horário do povo acreano. Programas de meia noite no restante do Brasil, aqui no Acre, são apresentados às 22 horas. Com o horário de verão, o constrangimento se multiplica, quando a diferença de horário entre o Acre e o sul/sudeste é de três horas. Programas impróprios são apresentados no Acre às nossas crianças e adolescentes, expondo nossos filhos a cenas de sexo e de violência, devido à brutal diferença de horário.

b) Do horário bancário aos constrangimentos nos vôos para fora do Acre, o fuso de duas horas em relação à Brasília imprime na alma do povo acreano a velha pergunta: Brasília nos considera brasileiros ou filhos enjeitados da Nação?

c) Um vôo do Acre para Brasília, com uma diferença de três horas no horário de verão, pode produzir sintomas desagradáveis, especialmente quando há repetição. A mudança de fusos horários altera o ritmo circadiano, o nosso relógio biológico, produzindo sintomas como insônia, sonolência diurna, indigestão, irritabilidade e dificuldade de concentração.

A opção que não incomoda
O meridiano de 45º que marca, no Brasil, o segundo fuso, cortaria, no seu limite oriental, os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, o que significaria, para cada um destes Estados, uma diferença horária ao longo do meridiano de 45º. Dados os problemas que resultariam daí, para facilitar a questão, convencionou-se, neste caso, que o primeiro fuso, o qual engloba as ilhas oceânicas do Brasil, não incorpore aquela parte do continente, entregando-a ao segundo fuso.

Detalhadamente, os estados nordestinos de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte têm dois fusos horários, de acordo com a Hora Legal, do Meridiano de Greenwich. Nesse caso, as capitais dos cinco estados ficariam no Fuso Um, o que significaria uma hora de diferença para Brasília. Clique sobre a imagem do mapa, no alto, olhe à direita, e verá que, nos cinco estados citados, o limite entre o primeiro e o segundo fuso foi desviado para a direita.

Observe que o desvio do limite teórico foi utilizado para colocar dentro do segundo fuso todo o território dos referidos estados, incluindo as capitais. Dessa forma, os cinco estados nordestinos ficaram com os seus territórios dentro do segundo fuso, a hora de Brasília. Isso ocorreu no dia 18 de junho de 1913, com a Lei 2.784. Essa negociação foi patrocinada pelos políticos desses cinco estados nordestinos. Isso aconteceu, repito, em 1913.

Igualmente, esse meridiano de 45º, no seu limite ocidental, cortaria o Amapá, o Pará, Mato Grosso, Goiás , o Paraná e o Rio Grande do Sul. Ficou também convencionado que o limite coerente, do segundo e terceiro fusos, deveria passar pela linha que, de norte para sul, deixando todo o Amapá para este, e, em seguida seguindo pelo rio Xingu até encontrar a geodésica que divide o Pará e Mato Grosso, continuando por esta divisória até o rio Araguaia, pelo qual prosseguiria, deixando os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para o terceiro fuso e, finalmente, cedendo os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul para o segundo fuso.

Detalhadamente, ainda, os estados do Amapá, Mato Grosso e Mato grosso do Sul, que têm também dois fusos, optaram por ficar no terceiro fuso, a uma hora de diferença de Brasília. Já os estados do Paraná e Rio Grande do Sul optaram por ficar no segundo fuso, hora de Brasília. Novamente, os políticos de lá, em 1913, negociaram para que os seus estados tivessem apenas um fuso horário. Olhe novamente no mapa, e veja que os limites foram desviados. Em suma, os limites teóricos foram suprimidos para levar em conta os limites reais e as necessidades de cada estado.

De igual maneira, muitos países resolvem as suas diferenças horárias conforme as suas peculiaridades e interesses. Exemplo disso é o caso da Argentina, que, teoricamente, se acha no fuso de quatro horas, mas que resolveu ficar situada no fuso de três horas, igual ao tempo de Brasília, a capital do maior país da América Latina.

Por que o Acre não negociou?
Como poderia negociar? Em 1913, ano da aprovação da Hora Legal do Brasil, o Acre era ainda uma criança no tabuleiro político do Brasil. Havia apenas quatro anos que o Brasil pusera um fim ao litígio com o Peru. E havia apenas dez anos do fim de uma revolução armada. Aos acreanos interessava, naquele ano de 1913, olhar mais para as suas fronteiras do que para os ponteiros do relógio.

Sequer tínhamos governador. Éramos administrados por três prefeitos de departamentos (Alto Acre, Purus e Juruá) nomeados pelo governo central. O Acre só iria ter um governador sete anos depois, em 1920. Quanto a representantes no congresso nacional, só iríamos adquirir esse direito com a Constituição de 1934, que nos garantiu dois membros na Câmara dos Deputados.

Um ano antes, em 1912, iniciou-se o declínio da borracha, ocasionado pela concorrência de outros mercados produtores e as crises internacionais. O crescimento acentuado, que experimentamos nos primeiros anos, foi interrompido e uma decadência geral passou a predominar. As cidades esvaziaram-se, perdendo suas funções de entrepostos comerciais, observando-se uma acentuada decadência das pequenas cidades e vilas.

Como se pode ver, o Acre não tinha ainda representação na capital federal e estávamos saindo de duas disputas. Uma armada, com a Bolívia e a outra diplomática, com o Peru. Não detínhamos poder, pois esse não emanava do povo acreano. Era concessão de cima, no caso, o governo central do Rio de Janeiro. E, para completar a nossa tragédia, nossas elites regionais estavam fragilizadas pelo declínio da borracha, nosso único poder.

E, por fim, faz-se necessário lembrar que os atuais transtornos do fuso horário, com diferença de duas horas de Brasília, não estavam presentes na vida do povo acreano. Horário bancário e de vôos não faziam parte do nosso cotidiano. Muito menos a pornografia e a violência da televisão.

Hoje, a realidade é outra. E, nesse caso, a ‘outra’ violenta nossos lares, nossos costumes, a moral das famílias e ‘educa’ nossas crianças para a promiscuidade e a violência.

Moisés Diniz é deputado estadual do PC do B. Clique aqui para ler decretos e leis relativos a hora legal brasileira. Diniz é blogueiro e escreve no Camarada.

15 comentários:

Anônimo disse...

Início dos anos noventa, minha casa em Rio Branco. Toca o telefone:
- Alô... minha voz era aquele jeitão, quase não saindo da garganta. Acordara no susto, minha família estava em SP.
- Alô, professor Mário? Tudo bem com o senhor? O professor José Flores quer falar com o senhor.
- Pois não...
(ouço um comentário abafado, "parece que ele estava dormindo"...)
- Mário, táva dormindo, Mário, a gente tá no batente, aqui no departamento...
- Pois é, rapaz, mas aqui a gente foi deitar há pouco... aqui são quatro horas da madrugada...

Até hoje, ele se desculpa pela gafe. Quem manda não prestar atenção no fuso horário...

Anônimo disse...

Moisés, agora que tá tudo dominado, o que é necessário fazer para reduzir o horário do Acre em relaçao a Brasilia

Anônimo disse...

Terão que passar por cima da minha oposição. Sou defensor do 4° Fuso, da 4ª Internacional e do Escambau a 4. Os argumentos políticos pra mexer na geografia e na astronomia não me convencem. Sexo e violência eu vejo na sessão da tarde, na tv aberta. Meus filhos vêem no horário que bem entendem, na sky. O banco fecha mais cedo, mas também abre mais cedo. Uso o caixa eletrônico. Se me telefonarem às 4 da manhã, tudo bem. Ou ainda não dormi, ou não atendo. Dou meu jeito. Só não quero que os políticos mudem o horário em que o sol nasce ou se põe, no Acre.

Anônimo disse...

Eu sou a favor que, pelo menos, o Acre fique a uma hora de Brasilia o ano todo. Não porque questões televisivas.
Pra quem trabalha muitas vezes em contato com Brasilia constantemente, isso atrapalha demais. Nada justifica, além das questões extritamente geográficas, que o Acre fique a 2 horas de Brasilia.
Sempre gostei do horário de verão lá pro sul pelo dia que se estende mais... vc sai do trabalho e ainda pode aproveitar a luz do dia.
Acho que os acreanos gostariam da novidade

Anônimo disse...

Deixem como esta, alias, os Acreanos tem muitos argumentos de “serem diferentes do resto”. Acredito que tem varias vantagens nesta diferenca do horario tambem. Se mudarem o horario, eu quero que mude parte da letra do Hino Acreano tambem, que e um pouco exagerado. Para os que dependem de Brasilia, tem que seguir o ritmo de Brasilia - que alias e muito lento, so isto. Para os preculpados com pornografia, tire a televisao do quarto do filho.Alias, se tem dois televisores, propavelmente tem internet em casa....e agora?

Anônimo disse...

Diz o Felipe: "Sempre gostei do horário de verão lá pro sul pelo dia que se estende mais..."

Será, Felipe?

Anônimo disse...

Mário, é claro que me referi a luz do dia se estende mais pela noite!!!!

Anônimo disse...

Hein?!

Anônimo disse...

Eu gosto do horário de verão pela economia de energia que se faz e pelo fato de parecer que o dia fica mais longo. De fato o sol se põe mais tarde aqui no sudeste neste período e tudo fica mais alegre e as ruas ficam mais movimentadas. Também vem os transtornos de adaptações mas com o tempo tudo se ajeita. Se é bom para a maioria porque eu seria contra, seria legal o Acre ter horário de verão também.

Anônimo disse...

A discussão sobre fuso horário e muito interessante e pena que a impressa local não dar tanta atenção. Além disso, os candidatos da eleição passada perderam uma grande oportunidade de debater o assunto. Teria sido uma discussão interessante: Marcio bittar: “vou intervir em Brasília para mudar o horário e também vou falar com com deus para mudar a hora que o sol nasce no Acre”. Eu prometo! Binho, do outro lado, diria: “espere um pouco”...”O sol aqui no Acre é vermelho já faz muito tempo, pode ver no final da tarde (não importa se é fumaça). Então, o sol é do PT....”Deixe ele nascer no mesmo horário e continue iluminando o caminho do povo acreano”.

Anônimo disse...

Deputado vai procurar uma coisa mais importante para dedicar seu precioso tempo,deixa o nosso horário do jeito que está.O Toinho tá certo.Descomplica deputado!

Anônimo disse...

Pois é meu rei...Tá fazendo tanto calor aquí no Acre...dando um trabalho danado prá me abanar! Já tô pedindo arrêgo pro Senhor do Bonfim...
Agora... contrariando minha filosofia... vou fazer um esforço...
Vou fazer um pedido pro "Povo do poder":
Já que você pensa até em mudar o horário da natureza pela natureza do horário, que tá tão arretado com essas boas diferenças daquí da floresta com o "sul-maravilha", vê se dá também pra trazer um pedacinho do mar de Porto Seguro...umas mudinhas de pé de côco... uma bahiana do acarajé...Aff! Já cansei de tanto pedir...vou já prá rede...mas dá um trabalho prá deitar!

Anônimo disse...

Moisés, alguém cujo nome não deu pra identificar, deixou o seguinte comentário:

"Mudar por causa de programa "impróprio", mudança em horário de vôo, ligação telefônica na madrugada? Deixa assim mesmo, que ninguém nunca morreu por causa de horário de verão".

Anônimo disse...

No Acre o sol nasce as 5 da manha no verao. É desperdicio. Podia nascer as 7 como é no sul do pais. Dae, escureceria as 20h. Deixa tudo no horario de brasilia

Anônimo disse...

Só pergunto uma coisa, que pais são estes que não conseguem educar os filhos e lhes dizer o que é certo e errado, educa-los para que quando vejam cenas de violência ao invés de ficaram excitados para fazer igual ficarem indignados e tentarem mudar, e sobre cenas de sexo não vou nem entrar no assunto porque hoje, criança de 10 sabe mais que muito adulto de 20 por ai.. termino perguntando aos pais tão interessados na formação dos filhos, vocês deixam a mercê da televisão educar e lhe mostrar o que é melhor? hahahhaha queria ver a nova geração 'coca-cola' que iria se desenvolver daqui a 10 anos.