"Muita coisa houve em Rio Branco nos últimos meses. Preto Limão morreu. Casou-se a Osvaldina, filha do seu Ângelo, com o Joca, filho do Pereira, o par mais falado de Rio Branco. Suicidou-se o Pedro Morais num domingo. Nessa tarde não tocou a retreta. Nasceu na segunda quinzena a filha do sírio Fecury. A Marina foi deflorada. A Lindalva arranjou um novo amante. Mas o acontecimento principal foi a idéia do Felipinho fundar a Academia Acreana de Letras. Só a existência do poeta Juvêncio justificava a existência da Academia.
Felipinho resolveu ir pedir o apoio do Juvêncio. O poeta já namorava as glórias acadêmicas. O Felipinho botou a roupa que usava sempre quando ia empreender alguma coisa. Era um fato amarelo, de linho barato comprado no Safa, que harmonizava perfeitamente com a pele palustre. O Pai Irineu, chefe da Uasca, disse a Filipinho que o amarelo era a cor que lhe daria êxito em tudo.
O “Hotel Madri”, parte integrante das tradições de Rio Branco, fica do lado da Perdição. Um anúncio novo, afixado numa das prateleiras, melhor o define:”hotel familiar”...Outro, escrito em letras vermelhas, completa: “Só é permitida a entrada de mulheres depois das dez horas...”E ainda há um na parede do mictório, com esses caracteres reservados: “Por favor, não jogue o algodão na bacia...”
Você acaba de ler um trecho do romance "Represa", do poeta, escritor e advogado acreano Océlio Medeiros, 94. A obra, publicada em 1942 pela editora Irmãos Pongetti, do Rio, ainda hoje é considerada maldita pela sociedade que a inspirou.
Océlio Medeiros conviveu com o poeta Juvenal Antunes, que será personagem da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", de Glória Perez.
Na coluna Almanacre, do jornal Página 20, o jornalista Elson Martins reproduziu o capítulo 13 do "Represa", no qual Océlio Medeiros narra uma visita que o oficial de gabinete da Prefeitura de Rio Branco, Felipinho, fez ao poeta Juvêncio (na verdade, Juvenal) pedindo apoio para a criação da Academia Acreana de Letras.
- O escritor pode ter se excedido na descrição do contemporâneo, mas, pelo que se sabe, Juvenal Antunes apreciava o excesso - afirma Martins.
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Um comentário:
Altino, mas que delícia! Pena que você só mostrou um pedacinho do texto.
Fiquei aqui imaginando o alvoroço da cidade vendo-se assim descrita, sem máscaras.
Gostaria muito de ler essa maravilha.
beijos
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