terça-feira, 5 de setembro de 2006

VANESSA SEQUEIRA




Essas fotos pertencem à Vanessa Sequeira. Foram tiradas há mais ou menos dois meses, quando
viajava feliz ao projeto de assentamento Riozinho.

As fotos foram enviadas ao blog pelo agrônomo Eduardo Amaral, o Cazuza, que nasceu em Niteroi, mas vive há 14 anos na Amazônia, sendo os ultimos sete no Acre.

- As fotos podem ter sido tiradas por sua ajudante de pesquisa, o barqueiro ou alguém da comunidade - explica Cazuza, amigo de Vanessa, que atualmente estuda na Flórida (EUA).





UM DIA NA AMAZÔNIA

Valério Gomes

Sem duvidas a Amazônia é uma região de grandes contrastes, que desperta muitos sentimentos; paixão e indignação são dois destes sentimentos. A ida de Vanessa Sequeira, 36, para o Acre foi movida pela paixão e vontade de fazer algo significante.

Valério Gomes

Tinha vasta experiência de trabalho com comunidades rurais na Amazônia peruana, e viu no Acre os horizontes para novos caminhos do conhecimento, da pesquisa da contribuição. Infelizmente, também, o caminho ou o ramal que a levou ao seu brutal assassinato na tarde de domingo em uma comunidade rural do município de Sena Madureira, no Acre.

Esta terça-feira amanhece com comemorações sobre o Dia da Amazônia. Mas também, esta terça-feira amanhece com as principais agências de noticias do país noticiando a morte de Vanessa. Já foram tantas as manchetes de trabalhadores rurais, lideres ambientais, e neste ano, de dois pesquisadores estrangeiros. Até quando? O que fazer?

Me parece que tudo está fora do rumo, e os questionamentos agora não são apenas de justiça, porque o criminoso será preso (ou já esta, mesmo que ainda na condição de suspeito), mas sim sobre esta crise de valores humanos que vivemos hoje na Amazônia e no país como um todo.

Nossas várias conversas por e-mail, ainda antes dela ir para o Acre, eram, principalmente, relacionadas aonde ela iria fazer sua pesquisa. Vanessa estava querendo, inicialmente, desenvolver sua pesquisa na Reserva Extrativista Chico Mendes e em um projeto de colonização na região de Brasiléia, comparando estes dois modelos de uso da terra.

Ao chegar ao Acre, já para sua pesquisa de campo, resolveu explorar outras áreas e decidiu por trabalhar no municipio de Sena Madureira por ser uma das áreas no Acre ainda com pouco pesquisa disponível sobre desenvolvimento extrativista. Era a primeira pesquisadora a desenvolver pesquisa no Projeto de Assentamento Riozinho.

Minha última conversar com Vanessa foi via Skype e aconteceu há uns dois meses, quando ela queria discutir comigo o questionário que estaria aplicando nas comunidades. Passamos umas duas horas conversando sobre pesquisa e a vida dela em Rio Branco.

Gostava de ir para a Gameleira, na beira do Rio Acre, e de caminhar no Parque da Maternidade nos finais de tarde. Gostava muito também da casa dela em Rio Branco. Me contou que uma vez, quando estava fazendo trabalho de campo, um assaltante entrou na sua casa. Ela guardava seu laptop em um “esconderijo” da casa e ficou muito contente ao retornar e ver que o ladrão nao conseguiu acha-lo.

Era divertida e me contou estas historias rindo bastante. Talvez esteja falando este lado da Vanessa que eu conheci porque não quero pensar nas matérias que estarão publicadas nos jornais do Brasil nesta manhã de “comemoração do dia da Amazonia”.

Valério Gomes é articulador da Rede Reservas Extrativistas

4 comentários:

Anônimo disse...

Não conheço a Vanessa mas fico triste com o sucedido. Não só pelo facto de ela ser portuguesa e principalmente, porque nenhum ser humano tem o direito de perder a vida pela mão do homem. Mas porque tento imaginar o sofrimento de uma pessoa, que não estando no seu país, a fazer algo q gosta se vê "sozinha" num momento de aflição.
Os meus sinceros pesames aos familiares.

Anônimo disse...

Brasil desbravado

Absolutamente insólito e contudo estatisticamente credível. Uma notícia que ensombra o relacionamento entre o Brasil e Portugal e por acréscimo o problema ambiental na Amazónia, que é um foco de interesse mundial. Uma tese incompleta de uma activista universitária que deu a vida num domingo a um ex-presidiário. Algo terá de ser explicado neste surto de agitada criminalidade sem aparente base justificativa, sinal de um tempo difícil que inclui responsabilidades colectivas também. Porque é que as universidades brasileira e portuguesa estavam ausentes da prioridade de Vanessa Cerqueira, que cooperava com a Costa Rica e a Inglaterra ?

Anônimo disse...

Uma barbaridade! Fiquei consternado com um crime tão horrendo quanto esse. É verdade que horrores tão cruéis assim sucedem nos mais diversos lugares do mundo! Mas recentememente têm-se multiplicado os casos de assassinato de portugueses nesse país maravilhoso e irmão que é o Brasil.

Sabemos que o povo brasileiro tem grande simpatia pelos portugueses; a inversa também é verdadeira! Mas não se pode negar que acontecimentos desse tipo afectam as nossas boas relações, sobretudo no aspecto turístico pois certamente muita gente pensará três vezes antes de escolher o Brasil como destino.

E desse jeito ficaremos todos a perder! Os portugueses porque não irão conhecer uma terra linda e maravilhosa, que aliás eu conheço bem. Os brasileiros porque não arrecadarão as receitas que certamente serão necessárias para o seu desenvolvimento. Esperemos que as coisas melhorem no futuro. Para bem de todos! UM ABRAÇO irmão!

Anônimo disse...

Cumprimentos a Altino Machado para o bom trabalho e alegria sobre a actividade constante que mantém com este formidável local para esclarecimento, inclusivé quando o que há para dizer é mais triste. O seu autodidactismo é também fruto de experiencia, sentido de oportunidade e de cultura necessárias ao Brasil a que eu chamei desbravado, apesar do inevitável sensacionalismo de que é objecto por vezes insensato e cruel. A Amazónia tem aqui neste canto um instante de memória e vida para quem está longe e se interessa pelo seu formidável ambiente ao nível global. O caso da pesquisadora Vanessa Cerqueira (de origem luso-germanica) foi nesse aspecto mais invulgar uma chamada de rodapé que deve permanecer emblemático, quando essa fatalidade aconteceu a menos de dois dias do Dia da Amazónia. Que a sua beleza e integridade fiquem resguardadas do esquecimento rápido de todos nós, chocados ainda com o acontecido a esta activista universitária e que parte dos seus apontamentos possam vir a ser publicados por exemplo pela Universidade do Acre.