sábado, 19 de agosto de 2006

FERVOR E BOA CRENÇA

Elson Martins

O termo “passeata” não serve para nomear o que aconteceu na manhã de sexta-feira em Rio Branco. Também não foi apenas um ”ato público” de apoio à candidatura de Binho Marques ao Governo do Estado. Pensei na palavra “manifestação”, mas o dicionário a descreve como “movimento popular destinado a exprimir publicamente um sentimento político”. Mesmo com o “sentimento político”, parece pouco. “Marcha” é pior, porque lembra deslocamento de tropa com um objetivo geralmente óbvio e disciplinado.

O que se movia tinha cores, barulho, euforia, escolha. Foi mais amplo e profundo, portanto, o acontecimento. O jornalista Altino Machado fez referência em seu blog a uma “manifestação política” de 25 mil pessoas nunca vista em campanha eleitoral na história do Acre.

Eu estava lá. De fato, o centro da capital foi ocupado por identidade e consciência revolucionárias. As pessoas se abraçavam, riam, tiravam graça umas com as outras, guiadas pelo espírito e falando com o coração. Participavam do evento muitas gerações de acreanos, nascidos aqui ou que vieram para cá de outras partes do Brasil e do estrangeiro.

Um fio invisível juntava a todos misturando fé e convicção. Um fio ao qual se toca com a alma e se deixa levar por uma história secular da construção humana. Dava para sentir o coletivo feito com retalhos: de isolamento, medo, sofrimento, bravura, intuição, intimidade com a floresta e os rios, solidariedade, criatividade, revolução.

Ruas e praças foram ocupadas, também as duas pontes sobre o rio Acre, por gente que erguia bandeiras vermelhas e brancas. Tinha uma amarela e verde, enorme, simbolizando raça forte. Um símbolo construído com coragem, amor e perdas, que expressa um jeito muito especial e original de viver.

Enxerguei naquele ambiente mágico - ao mesmo tempo doce e belicoso – muitas pessoas em espírito: muitos em vida, alguns em morte. Vi o imperador Galvez gritando “fraternité” e “liberté” num francês espanholado; o poeta Juvenal Antunes empunhando um maço de poemas à sua musa Laura; os líderes seringueiros Wilson Pinheiro e Chico Mendes rindo em silêncio: o primeiro como uma árvore de maçaranduba, comprido e rijo; o segundo, curvando-se para distribuir estrelas cintilantes, que jorravam do seu peito furado a chumbos por um tiro assassino.

Estavam lá os jovens de ontem e de hoje, a quem o Chico deixou como legado um Acre livre, conquistado e preservado. Um Acre que rejeita maus exemplos e cuja grande família é feita de pessoas, árvores, animais, rios e lendas. Um Acre que odeia desmatamento e queimadas.

É preciso reconhecer que o Estado caminha com segurança crescente para a condição de sociedade sustentável. Existe uma Frente política planejando, executando e cuidando bem disso. Os irmãos Jorge e Tião Viana, a ex-seringueira e agora ministra Marina Silva, o prefeito da capital, Raimundo Angelim, além de um grupo de parlamentares alinhados com esse plano político, se inspiram no movimento secular de resistência dos povos da floresta.

Na campanha eleitoral dá para ver com clareza. O discurso da oposição é vazio, defasado, inconsistente, a começar pelo slogan das legendas agrupadas. Cada grupo tem uma história pública que o condena: ou passaram pelo poder com incompetência e irresponsabilidade; ou o sugaram com ambição pessoal. E há os que sonham em torcer o pescoço da história para importar modelo comprovadamente ruim da vizinhança.

Todos se apegam a velhacos apelos do passado para iludir o eleitor aflito. Fingem ignorar que há uma década, pelo menos, o Acre evolui muito, e vomitam críticas que se voltam contra eles próprios, protagonistas de atitudes criminosas contra o meio ambiente e suas populações tradicionais.

O “Acre não se troca”, adverte o slogan do candidato da Frente Popular, Binho Marques (PT), militante desde os tempos do curso de história da UFAC (Universidade federal do Acre), há doze anos secretário de Educação (municipal e estadual), amigo de Marina Silva, Chico Mendes, Jorge Viana e outros de sua geração engajados na luta em defesa da floresta e seu povo.

É fácil entender a mensagem. O Acre não se troca por que tem uma história bonita a sustentar. É a história de um povo que viveu e vive embrenhado na floresta e se tornou sábio. Um povo que aprendeu com os índios e por si só muitos segredos e agora, com a ajuda da política e da ciência, cuida de seu futuro com o valor da floresta cada vez mais reconhecido.

Um movimento popular no governo é o que o Acre vive de cabo a rabo: Lula na Presidência da República, Marina no Ministério do Meio Ambiente, Tião Viana e Sibá Machado no Senado, Jorge Viana e Binho Marques no Governo, Raimundo Angelim na Prefeitura, representam uma nova safra de políticos e técnicos a serviço de um programa que não trai a história, nem a cultura, nem a economia tradicional que projetam o Acre no cenário nacional e internacional.

Esqueci de falar do coronel Plácido de Castro? Não. Deixei para o final, chamar a atenção para a semelhança física que percebi entre o herói da Revolução Acreana, de 1903, e seu substituto em 2006, que empunhava na sexta-feira, com fervor e boa crença, a Bandeira Acreana.

É verdade: o Acre não se troca.

Elson Martins é jornalista acreano e colaborador do blog. Aproveito para sugerir seja baixado o relatório da Polícia Federal sobre a "Operação Dominó, que desarticulou parte do crime organizado no poder público de Rondônia. O documento contém 539 páginas sobre a máfia que agia no estado governado por Ivo Narciso Cassol (PPS), que é o principal aliado de Márcio Bittar (PPS), candidato a governador do Acre. Clique aqui, para baixar do site Tudo Rondônia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Visconde dos buritizais,bÔa tarde !
Parabens, pela grandiosidade da festa e pela quantidade de gente e de bandeiras. Pela
bela cobertura do teu blog,e pela maravilhosa crônica do Elson Martins.
Senti falta de mais comentários. Bem, eu
dei ponta pé inicial...

Abraços SERGIOSOUTIANOS