segunda-feira, 24 de julho de 2006

TIRANDO DA BOCA



Na Europa, multinacionais prometem não comprar
soja ilegal da Amazônia, afirma The Guardian


No Brasil, associação de exportadoras divulga comunicado em que se compromete a não comprar soja de origem ilegal; Greenpeace trabalha com prazo de dois anos para que fiscalização seja possível


As principais redes de supermercados da Europa, fabricantes de comida e redes de fast-food - entre elas o McDonalds - devem firmar hoje um compromisso de não comprar soja de origem ilegal da Amazônia Brasileira, afirma a reportagem especial publicada no diário britânico the Guardian. O acordo foi motivado pelo relatório publicado pelo Greenpeace em abril deste ano, intitulado "Comendo a Amazônia".

Segundo o jornal inglês, as empresas não negociarão com as quatro gigantes (Cargill, ADM, Bunge e Amaggi) que dominam a produção no Brasil, a não ser que estas demonstrem que não estão vendendo soja colhida em áreas onde houve desmatamento ilegal.

A Cargill, apontada no relatório como "Maior Culpada" entre as gigantes, não se pronunciou oficialmente hoje. Mas sua assessoria de imprensa indicou que a empresa adotará o posicionamento divulgado no comunicado distribuído esta tarde pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiovi) em conjunto com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), das quais faz parte.

O comunicado informa que as associadas da Abeovi e da Anec, "estão comprometidas em implantar um programa de governança, que objetiva não comercializar a soja da safra que será plantada a partir de outubro de 2006, oriunda de áreas que forem desflorestadas dentro do Bioma Amazônico". No comunicado, as associações afirmam que as empresas incorporam aos contratos cláusulas de rompimento caso seja constatado trabalho análogo ao escravo.

Segundo Paulo Adário, coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, a ONG formará um grupo de trabalho, em conjunto a outras instituições, com o objetivo de levantar dados precisos sobre as áreas de soja e o desmatamento, além de definir procedimentos e critérios, de forma a tornar possível o cumprimento do compromisso da Abeovi e Anec.

- Eles assumiram o compromisso de não comprar soja de áreas desmatadas a partir da data do comunicado. Mas nós não sabemos exatamente qual a área desmatada pela soja até essa data. Ainda teremos que produzir esses mapas. Outros pontos, como o reflorestamento e adequação ao Código Brasileiro de Florestas nas propriedades produtoras de soja, ainda precisam ser acertados. Como isso vai ser feito cabe ao grupo de trabalho indicar - explica o ambientalista.


Grande sucesso ou grande fracasso?
A declaração de intenções é fruto de intensa negociação por parte do Greenpeace, que em princípio defendia um acordo mais elaborado com dez pontos fundamentais. Para Adario, o avanço é significativo, mas ainda demanda muito trabalho:

- É um avanço importante porque pela primeira vez essas empresas estão juntas em torno de mudanças para produção e comercialização de soja na Amazônia. Mas dentro de dois anos, esse acordo pode signicar um grade sucesso, como também um grade fracasso.


Até o fechamento desta edição, não foi divulgado nenhum comunicado sobre o acordo do McDonalds, de redes de supermercados ou de fabricantes de alimentícios na Europa. Segundo a assessoria de imprensa do McDonalds no Brasil, a empresa irá divulgar uma nota de esclarecimento amanhã.

O texto acima é de autoria de Carolina Derivi e Maurício Araújo, da redação do Amazonia.org.

Um comentário:

Anônimo disse...

É uma iniciativa. Mas o "embargo" não surtirá os efeitos desejados se a fiscalização não for de par com o controle rigoroso da origem da soja. E mais: há um prazo de dois anos nesse acordo, mas o que impede o desmatamento a partir de agora e durante esse período?