segunda-feira, 19 de junho de 2006

SAGA DA AMAZÔNIA

A novelista Glória Perez, que está escrevendo os capítulos da série "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes", cuja estréia na Rede Globo está marcada para o dia 2 de janeiro de 2007, em julho/agosto volta ao Acre.

Ela aproveitou para saber qual era a música preferida de Chico Mendes. Respondi que a preferida do seringueiro era "Saga da Amazônia", do compositor paraibano Vital Farias, que certa vez deixou de cantar no Acre porque não viaja de avião. Segue a letra tão atual:

Saga da Amazônia
(Vital Farias)

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar?
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga, pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Mata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiroque um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
pra gente que tem memória, muita crença, muito amor
pra defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...

Que quiser ouvir "Saga da Amazônia" basta clicar aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

"Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração".

Altino, que canto maravilhoso! Belíssima letra. Dá até uma dor no coração da gente por ver essas verdades que contém, que todos sabem e conhecem e mesmo assim, nada é feito para reverter o desastre.
Triste país.
Obrigada.

Beijos

Anônimo disse...

"Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração".

Altino, que canto maravilhoso! Belíssima letra. Dá até uma dor no coração da gente por ver essas verdades que contém, que todos sabem e conhecem e mesmo assim, nada é feito para reverter o desastre.
Triste país.
Obrigada.

Beijos

Anônimo disse...

Por gentileza Altino, se for possível me mande a música pelo gmail para eu guardar. Ela é muito linda. Gostei da letra e do som da viola e a voz do cantor também. Obrigada.

Anônimo disse...

Como é que é? Você gostou da letra, do som da viola, da voz do cantor e ainda quer que eu mande a música? Não tenho nenhum track da mesma. No final da letra fiz a indicação de um site onde pode se pode ouvir "Saga da Amazônia".

Anônimo disse...

Altino,
não sei nem o que escrever. Maldita distância, maravilhoso Acre. Saudades, saudades, saudades!