sábado, 3 de junho de 2006

PARA ELENIRA MENDES

Juarez Nogueira

Impossível não se emocionar ao visitar a casa onde viveu e morreu o velho Chico (com licença poética, vou chamá-lo assim bem a propósito de lembrar outro crime - com apelido de "transposição" - do qual o governo Lula quer se fazer mandante: o do rio S.Francisco).

Lá em Xapuri, fiquei um tempo sentado na escada que leva da cozinha ao quintal, observando o lugar de onde, me informou Delzamar, cunhada de Chico, partiram os tiros que, covardemente, fizeram tombar esse homem.

Eu não conseguia me levantar, pejado por um sentimento de perda, impotência, e uma desconcertante ternura pela (nossa) falibilidade humana. Mas ali eu soube: a alegria triunfou: Chico deixou uma flor.

Quem levar desarmado o coração, ali bem ali, em Xapuri, num silêncio incerto que de repente açula a percepção, poderá vê-la desabrochar com tenaz mansura, seu fundo, duro rizoma.

Tomara, meu Deus, tomara, essa flor se dê à juventude. Tomara, meu Deus, tomara, essa juventude abrace a floresta, empate amorosamente a floresta, flor esta, a vida.

Tomara, meu Deus, tomara, essa moça Elenira que carrega essa flor no peito, leve-a a fecundo intento, espalhando sementes ao vento.

Obrigado, Altino, por me acompanhar nessa visita.

O escritor Juarez Nogueira, autor de "O Menino Alquimista" e do "Manual de Sobrevivência na Redação", mora em Divinópolis (MG).

4 comentários:

Anônimo disse...

sim, também foi homem chamado Bird, grande artista de jazz, que morreu e depois eu ouvi que escrevem nas paredes de New York "Bird Lives!" claro que fingiram que foi como Jesus mesmo - mas é verdade numa sentido, o spirito dele ainda vive, Chico também

precisamos

esteja bem

Anônimo disse...

Altino, boa noite.
Realmente esse blog esfrega o coração na nossa cara. Ou pega nosso coração e sacode para todo lado, com essas belezas que você nos dá de presente.
Não sei se o Juarez é poeta, mas belíssimo e sentido texto é um poema. Um poema que doeu em mim, porque pude vê-lo sentado ali, sentindo a sua dor, a sua impotência e essa esperança que ele deixa ao final.
Obrigada, meu amigo.

Beijos e um ótimo domingo

Anônimo disse...

Altino,
Já havia lido escritos seus, mas não conhecia o Blog que o Luiz Carlos, gentilmente, me indicou. Gostei muito do texto do Juarez e da entrevista do Antonio Alves-pena que os pajés só sirvam para acessar o poder. Depois ficam à margem. Aquele abraço. Silvio Persivo

Unknown disse...

Linda mensagem de Juarez Nogueira; tocante, só como ele sabe ser. Meus cumprimentos desde Belo Horizonte.