quarta-feira, 21 de junho de 2006

O ACRE E A BIENAL

Acre recebe artistas que estarão na Bienal de SP

Curadora diz que Estado é importante para a "conceituação" do evento

Colombiano Alberto Baraya vai trazer de Rio Branco obra de 18 metros em forma de seringueira para o Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO

Há seis semanas, uma cena insólita chama a atenção dos visitantes do parque Capitão Ciríaco, em Rio Branco, capital do Acre: o artista colombiano Alberto Baraya, trepado em andaimes, lambuza de látex uma seringueira de 18 metros.

Em duas semanas, a borracha que envolve a árvore deverá ser retirada, mantendo o formato da seringueira, e será transportada para a 27ª Bienal de São Paulo, para ser exibida a partir de 7 de outubro, data da abertura da exposição.

"Esse é um desenvolvimento da série que denomino "Herbário de Plantas Artificiais". Até agora, eu coletava flores de plástico e as classificava, numa paródia às expedições botânicas do século 17. Agora, é como se eu conseguisse viabilizar algo que faltava a um colecionador, a própria árvore", conta Baraya à Folha, no parque.

Para construir sua obra, o artista realiza um trabalho basicamente artesanal. Ele mesmo compra o látex colhido logo cedo das seringueiras em Capixaba, uma vila a 80 km de Rio Branco, e depois o leva para envolver a outra árvore, onde trabalha com dois assistentes, um deles também seringueiro.

"Eu poderia ter feito essa obra de maneira mais tecnológica, mas achei importante construir uma árvore a partir de seu próprio material, ainda mais aquele que serve para criar flores artificiais", explica Baraya.

A idéia para o uso da borracha surgiu quando o artista participava de uma expedição pela Amazônia. "Fiquei fascinado por toda a história da borracha e, graças à residência, posso desenvolver esse trabalho", conta Baraya.

Trocas
Num ateliê da recém-inaugurada Usina das Artes, um centro cultural construído numa antigo engenho de manipulação de castanhas, o artista desenvolveu os protótipos para a grande obra que virá para a Bienal. Lá, ele cria centenas de folhas de borracha que irão também compor a imensa seringueira, auxiliado pelo artista local Ueliton Santana.

"Esse intercâmbio é outro dos objetivos das residências, pois certamente a presença dos artistas aqui em Rio Branco deixará muitas sementes", afirma a curadora da 27ª Bienal, Lisette Lagnado.

Além da grande seringueira de borracha, Baraya continua recolhendo flores de plástico para seu "Herbário" e também fotografa a maneira como essas plantas artificiais estão dispostas onde residem as pessoas da cidade, como o fez quando acompanhou Lagnado na visita à casa de uma sobrinha de Hélio Melo (1926-2001), artista que também toma parte da Bienal, e onde a curadora selecionou novas obras para a mostra.

O colombiano é um dos dez selecionados para realizar uma residência artística no país, um dos três escolhidos para Rio Branco. No último fim de semana, a curadora da Bienal, Lisette Lagnado, e o professor Marcos Moraes, coordenador do projeto das residências pela Faap, parceira da iniciativa, estiveram no Acre para acompanhar o trabalho do artista.

Fronteiras
Desde que escolheu o Acre como um dos temas da Bienal, Lagnado não retornava ao Estado. "Essa viagem serviu para confirmar a importância do Acre na conceituação da Bienal, pois esse é um local onde há uma intensa discussão sobre fronteiras", diz a curadora.

A fundação é também parceira da Bienal nas residências artísticas, sendo responsável pelo apoio local aos artistas. "Não temos palavras para agradecer a visibilidade que um evento como a Bienal proporcionará ao Estado", diz Souza.

Também passaram por Rio Branco as artistas Susan Turcot, do Canadá, e Marjetica Portc, da Eslovênia. Ambas realizaram workshops na cidade.

"De modo surpreendente, houve uma disputa pelo Acre. Outros artistas quiseram vir para cá e, curiosamente, ninguém pediu para ir ao Rio. Quando soube do projeto, o artista grego Xagoraris Zafos, que nem foi convidado a ser residente, veio para cá por sua própria conta", diz Lagnado. "Fiquei emocionada quando a Susan me escreveu e contou que havia uma Susan antes de Rio Branco e outra depois."

QUEM É ALBERTO BARAYA

ORIGEM
Nasceu em Bogotá (Colômbia), em 1968

FORMAÇÃO
Belas artes, na Universidade Nacional da Colômbia (1986-1991), onde hoje é professor

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES

"Traces of Friday" (2003), no Instituto de Arte Contemporânea da Pensilvânia "Expeditión Européanne" (2005), no Palais de Tokyo, em Paris "Global Tour: Art, Travel & Beyond" (2006), em W139, em Amsterdã

Este modesto blog foi o primeiro a revelar que o Acre seria destaque na Bienal de São Paulo. E foi quem serviu de ponte entre a Bienal e a Fundação Elias Mansour, que tem servido de apoio. Engraçado é que a curadora da Bienal veio ao Acre e tentou falar comigo, mas o pessoal da fundação alegou que não sabia como me localizar. A irrealidade acreana me entendia. De qualquer modo, Kátia e eu assinamos ontem o documento no qual cedemos a tela "Um pedaço da mata", do Hélio Melo, para exposição na Bienal. Veja também neste blog os posts "Viva Hélio Melo", "Hélio Melo na Bienal" e "Bartolomeu Gelpi". Este assunto não interessa à grande imprensa acreana. A reportagem acima foi copiada da Ilustrada, na edição de hoje da Folha de S. Paulo.

Um comentário:

Anônimo disse...

claro! é assim mesmo. Agora deu na folha, a imprensa daí vai antenar... num sabe que santo de casa não faz milagre?