quinta-feira, 18 de maio de 2006

SÃO PAULO SOB TENSÃO

Mário Lima

Em São Paulo, as coisas continuam tensas, em alguns momentos, beirando ao pânico. A atitude do governo paulista de negociar a trégua, fato ampla e detalhadamente divulgado pela imprensa, generalizou a visão de que o governo estaria impotente diante dos ataques do grupo de Marcola. Para completar, diante de todos os desmentidos das autoridades estaduais, no final do dia, ontem, a imprensa detalhou os termos do acordo que incluria até a instalação de telões de cristal líquido nos presídios - o pessoal está de olho na copa do mundo. Foi a gôta d'água. Na PUC chegou uma enxurrada de telefonemas de mães nervosas solicitando que se mandasse para casa seus filhos. Desde o meio da tarde, as rádios e estações de TV divulgavam novos ataques. Os alunos começaram a esvaziar o campus da PUC da rua Monte Alegre ao ponto das direções dos diversos departamentos autorizar a dispensa de todos.

Desci a rua Ministro Godoi até o terminal do metrô da Barra Funda andando em meio a uma multidão de alunos. Impressionou-me o que fui ouvindo ao longo do caminho, Havia, de fato, uma forte apreensão. O comentário mais ouvido era de que "nós somos o alvo. O melhor que faremos é ir para casa." Um grande número de alunos usava telefones celulares em conversas com seus pais, acalmando seus pais, assegurando estarem dirigindo-se para casa.

Ainda a noite, em algum jornal na TV, ouvi discursos indignados de membros do PSDB por terem tomado conhecimento de uma declaração do ministro Tarso Genro sobre a conduta do governo paulista, ou seja, do pretenso acordo com Marcola. Impressionante o cinismo desses senhores. Agiam num esforço de transformar a notícia numa calúnia perpetrada por Tarso Genro. Esses os termos do discursos descontrolado de Jereissati. Podemos nos perguntar: será que acreditam que a população não estava acompanhando o noticiário? Será que pensam que a ida, em avião de propriedade do estado de São Paulo, levando a advogada de Marcola,e mais alguns membros da cúpula policial e da segurança a cidade do presídio onde o marginal cumpree pena e a rteunião mantida, deixa alguma dúvida sobre o assunto? Será que se sentem assim tão poderosos a ponto de serem capazes de mudar os fatos ou a compreensão desses lamentáveis fatos?

Durante o dia, a figura patética de Alkmin falava em medidas e atitudes que deveriam ser assumidas pelo governo e, em algum momento, pretendia transferir para o gvoernbo federal as responsabilidades da situação. Será que ele pensa que a população não sabe que Marcola é um personagem que surge, cresce e se fortalece durante seus longos anos frente ao governo paulista? Será que ele pensa estar a população submetida a um estado de amnésia que lhe impede de ver, analisar, concluir sobre fatos tão a vista de todos?

O governo federal repete o discurso de que a violência, resultante do crescimento da parcela populacional envolvida no mercado das drogas e do crime, é fruto da perda de oportunidades para a faixa de crescimento populacional que não encontra emprego. Mas labora na idéia comungada pelos próprios tucanos de que não encontra emprego porque não se prepara para tal. Por isso fala na necessidade de novas escolas. Meia verdade. Precisamos de escola sim, mas precisamos de políticas de crescimento econômico e de elevação da nossa capacidade interna de consumo. Ou seja, precisamos de crescimento com distribuição efetiva da riqueza. Isso não é o mesmo que crescimento de um lado e políticas comprensatórias de outro, tipo salário família e outros apetrechos social-democratas. Ampliar a integração protuiva dos jovens que chegam a idade do trabalho é mais do que garantir vagas cativas em escolas. É preparação mais postos de trabalho em expansão. A própria escola precisa ser socialmente revalorizada, pela sua capacidade de habilitar para o trabalho e pela ampliação e melhorias em nossa capacidade de elaboração de uma visão de mundo. Ou seja, capacidade de dar respostas aos enfrentamentos que a vida cotidiana nos impõe.

Lamentavelmente, o que mais tenho assistido, nesses dias tristes, é a adesão por parte de parcela cada vez maior da poulação, às teses direitistas de "endurecimento" das atitudes diante da violência. Fortalecem-se teses como a malufista de que "bandido bom é bandido morto". E lá voltamos a defender penas mais duras, pena de morte e sei mais o quê.

O economista acreano Mário Lima é professor da PUC de São Paulo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Irretocável, Mário. Posso assinar embaixo?

Anônimo disse...

Hoje veio o choque. "Ex-paulista", como disse o Altino, no começo da semana não me preocupei com mais uma previsível onda de violência. Ingênuo, sentimental, apenas fiquei triste pelos amigos e familiares de lá. Mas ao ver a represália (medo) da polícia matando mais de cem pessoas, a impotência do governo negociando até cor de uniforme de presídio com bandido e ao saber da cínica troca de acusações entre imbecis sem caráter como Lembo e Alckmin, fiquei preocupado. Dias piores virão para a cidade onde vivi 15 anos e consegui as coisas mais importantes da vida. A única alegria é ter saído a tempo de não sofrer o que 25 milhões de brasileiros estão passando ali. Tento curar meu pânico a 4 mil km de distância, torcendo insolitamente para que o todo-poderoso PCC e seus amigos não tenham braços no Acre...

Anônimo disse...

Excelente o artigo. É propositivo, ao contrário da montanha de bobagens que temos lido nesses tristes dias, só com ataques de todos os lados para esconder a incompetência.
Parabéns a ambos.

Beijos