sexta-feira, 12 de maio de 2006

O ACRE POR UM CAVALO BRANCO

Por Marcos Vinícius Neves (*)

É normal para os brasileiros, que estudam ou trabalham na Bolívia, ouvirem uma estranha história de que o Acre foi trocado com o Brasil por um cavalo branco. É uma história estranha porque aqui, no Brasil, não conhecemos essa história, mas basta conversar um pouco com os bolivianos pra descobrir de onde surgiu isso.

Dizem os bolivianos que, infelizmente para eles, tiveram durante um período de sua história um presidente louco chamado Mariano Melgarejo. Coube a esse Presidente, ridicularizado por seu próprio povo, negociar com o Brasil a questão de limites entre os dois países no período da Guerra do Paraguai.

Isso era importante para o Brasil porque interessava ao governo brasileiro neutralizar qualquer possibilidade da Bolívia se unir ao Paraguai na guerra que estava sendo travada entre esse país e a coalizão formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Por isso, sob pressão, o governo brasileiro se propôs a rever o Tratado de Madri (1750), que até então definia a fronteira entre o Brasil e a Bolívia.

Entretanto, o consul brasileiro na Bolívia, Regino Correa, conhecendo a paixão do presidente Melgarejo por cavalos, antes mesmo de iniciar as negociações, o condecorou com uma medalha e lhe deu de presente um casal de lindos cavalos brancos de raça.

Contam que o Presidente boliviano ficou tão feliz com o presente recebido que na hora da negociação deu de presente para o Brasil dois dedos de terra marcados no mapa, uma vez que se tratava de terras despovoadas. Com isso, a linha divisória, que a partir de 1750 era reta, passou a ser oblíqua, dando origem à linha imaginária conhecida hoje como Linha Cunha Gomes.

Entretanto, essas terras ao norte da linha oblíqua Cunha Gomes, não pertencem ao Acre, mas hoje fazem parte do território do Estado do Amazonas. Sendo que as terras ao sul da linha Cunha Gomes foram conquistadas pela luta dos brasileiros do Acre durante a Revolução Acreana e legalmente anexadas ao Brasil através do Tratado de Petrópolis (1903), assinado com a Bolívia, e do Tratado do Rio de Janeiro (1909), assinado com o Peru.

A seguir textos mais antigos, já publicados, que detalham um pouco melhor a questão dos Tratados de Limites.

(*) O historiador Marcos Vinícius Neves é presidente da Fundação Garibaldi Brasil

8 comentários:

Anônimo disse...

Menino, isso é uma aula completa de história diplomática. E mostra ou a ignorância ou a má-fé de quem está utilizando essa história do cavalo (que não deixa de ser engraçada).
Obrigada por tantas informações. Creio que irei usar o seu blog como fonte de pesquisa para escrever sobre esse assunto do Moralez.
Obrigada
Beijos

Anônimo disse...

...e voce acredita nesse historiador chapa-branca?

Anônimo disse...

Sim, acredito. Quer contestá-lo? Escreva. Recusei o outro comentário que você escreveu porque julguei ofensivo. É fácil se escudar no anonimato para escrever leviandade, não é? Aqui não, jacaré. Passar bem.

Anônimo disse...

confio nas informações apresentadas pelo professor, essa estória dos cavalos tem algumas versões, essa me parece bem equilibrada, o professor marcus vinícius é um bom pesquisador e uma boa fonte de informação, falo isso de brasília, bem longe dele, sei da sua competência. abraços altino

Anônimo disse...

Oi Marcos Vinícius?
Estranho chamar-lhe assim. Costumava chamar-te Raul! Lembra-se?
Fui sua aluna no colégio Santa Maria, fomos, aliás (eu e Nadia - minha irmã). Na publicação do seu livro sobre o capitão Ciríaco fomos presenteadas com um exemplar. Confesso que ainda não li inteiro, pois talvez só agora tenha maturidade suficiente para abarcar o horizonte da pesquisa. Comecei a lê-lo há pouco, dentre outros livros sobre o Acre que me chegam à mão pela minha mãe a Margarida da biblioteca da Ufac. Ah.. o Acre... esse estado que me fascina. Moro em Florianópolis há 7 anos. Há 3 não vou à Rio Branco. Nessas férias agora, passarei por aí!
Bem, poderia enviar-lhe um email!
Mas fica aqui o meu muito obrigada público pelo educador inesquecível que és!
E se nos esbarrarmos por aí, aproveitarei pra fazer umas consultas de I CHING!
(risos)
Um beijo grande e saudoso! Narjara.

Anônimo disse...

putz, agora foi que percebi que o blog não é do Marcos, e sim do Altino!
Desculpe-me o engano! Mas há tempos gostaria de falar com Marcos e não tenho contato dele!
Enfim...

Anônimo disse...

Eu também estou tentando encontrar um jeito de falar com o Marcos Vinícius.

Sou do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) de Roraima e andei fazendo umas pesquisas sobre uma fortaleza construída no Estado que teve importância capital para a proteção da nossa fronteira das invasões estrangeiras.

E, o que acabou me trazendo ao blog foi justamente a menção feita pelo Marcos ao Tratado de Madri, para além do qual o tal forte que eu estou pesquisando (Fortaleza de São Joaquim do Rio Branco) estava implantado...

Enfim... Se alguém puder disponibilizar o contato do Marcos (e-mail, página da web), para que eu possa "trocar figurinhas" com ele acerca do delineamento de nossas fronteiras, ficarei muito grata!

Meu e-mail institucional é: carla.1sr@iphan.gov.br

Abraços aos frequentadores do blog!

Eduardo Borba Vargas disse...

É real por que moro aqui e mato rindo disso...deveria postar a estória do Mar...ausaush
Tenho um blog www.morandonabolivia.blogspot.com, tem um lado mais cômico, mas estão todos convidados a entrar...
Grande abraço