quinta-feira, 18 de maio de 2006

GOVERNO DA FLORESTA

Fazendo um balanço geral, a impressão que me parece mais marcante nas duas gestões de Jorge Viana são a capacidade de, com braço forte, conseguir executar até o fim os planos mais audaciosos


Kemis Ageron Viana da Silva

Há algum tempo que vinha pensando em registrar minha impressão sobre os quase oito anos de Governo da Floresta no Acre. Indissociável desse conceito vem, é claro, o nome de Jorge Viana, um governante que, bem ou mal visto, tem se constituído no grande divulgador do Estado por todos os lugares por onde tem andado (e não foram poucos os lugares).

Jorge Viana passa a impressão típica do cidadão predestinado, que carrega consigo um ideal, o qual carece de ser incutido nas mentes dos demais, numa forma de irradiação de pensamento que muda conceitos e põe abaixo paradigmas antigos. Fortemente influenciado por uma formação acadêmica que lhe proporcionou a oportunidade de conhecer novas técnicas de lidar com recursos naturais, trouxe debaixo do braço a idéia da florestania e junto com ela a ira dos tradicionais segmentos da sociedade acreana.

No Acre, Jorge Viana é uma espécie de Flamengo da política: tem duas torcidas, uma que o ama e outra que o odeia.

As alas mais conservadoras, incomodadas com o fato, de pela primeira vez na história acreana, terem de se manter afastadas do poder, utilizam de métodos os mais diversos para tentar minar a gestão da floresta. O próprio conceito de florestania é o principal alvo de críticas por parte da oposição, que em ocasiões bem convenientes (eleições) chegou a encontrar respaldo para suas críticas inclusive em políticos do cenário nacional, como o atual governista Ciro Gomes.

De um modo geral, a intenção parece ser boa, e na pior das possibilidades, pelo menos criativa. O extrativisto predador sempre se constituiu num fator de empobrecimento de um povo que ainda tem uma pequena parcela vivendo embrenhada na selva sem a menor assistência do Estado.

Mas como a intenção difere de seus resultados finais, a tal florestania de Jorge Viana não parece ter cumprido a contento seus objetivos finais, que seriam o de contenção do inchaço populacional da capital através da formação de seus bolsões de miséria, e o de concretizar um mecanismo de melhor controle sobre a devastação indiscriminada de nossas florestas.

Apesar desta leve frustração de objetivos, é inevitável falar das profundas mudanças decorrentes das ações de Jorge Viana ao longo de seus dois mandatos. Sendo bem simplista, é impressionante. Jorge Viana sempre foi citado no âmbito do funcionalismo público como um perseguidor.

Hoje, passado o longo e difícil processo de lapidação da estrutura administrativa do Estado, pode-se entender o verdadeiro significado da "perseguição" em tela. Qualquer cidadão que visita os órgãos do governo situados no centro comercial de Rio Branco sente-se entrando em um grande centro de convenções, com prédios limpos, bem organizados e sinalizados. As velhas múmias da preguiça, que só apareciam para assinar o ponto se foram para a Sibéria do esquecimento. As folhas de pagamentos, antes atrasadas e envoltas em uma núvem de desorganização, hoje são frutos de um processamento digitalizado, auxiliado pelos mais modernos recursos que a Tecnologia da Informação pode oferecer e comandados por um staff formado por professores acadêmicos com conhecimento de causa, permitindo hoje um controle rigoroso das despesas de pessoal do Estado com precisão e confiabilidade. Em suma, o Estado, do ponto de vista administrativo, já conhece a si próprio.

Do ponto de vista da estrutura física, deve-se dar um enfoque especial. As cidades do Estado encontram-se tomadas pela presença das obras do governo, com suas características cores padrão. Rio Branco em especial é hoje uma vitrine da arquitetura moderna e de projetos paisagísticos arrojados. Há que se destacar aí mais um ponto que enche as bocas dos opositores de críticas. A alegação é a de que Jorge Viana é megalomaníaco e tenta incutir sua ideologia na cabeça do povo acreano, utilizando de métodos nazistas de ostentação e idolatria em torno de gigantescos pavilhões acreanos hasteados nos pontos mais estratégicos de suas obras e monumentos públicos, verdadeiros símbolos de pedra invocadores de um sentimento ufanista de orgulho regional, que encontra suas raízes históricas na extremamente controversa "Revolução Acreana" do final do século XIX.

Em meio à enxurrada de críticas mal intensionadas, há por raras ocasiões uma ou outra que chega a ser procedente. De fato, há em Jorge Viana uma necessidade de impressionar aos olhos de quem chega ao Acre, o que o leva, por vezes, a traçar planos que chegam a surpreender e causar incredulidade naqueles mais céticos. Tem sido assim na sua mais recente - e polêmica - obra da passarela para pedrestres e ciclistas, instalada bem no centro da cidade, entre uma ponte e outra que ligam o primeiro e o segundo Distritos de Rio Branco.

Fazendo um balanço geral, a impressão que me parece mais marcante nas duas gestões de Jorge Viana são a capacidade de, com braço forte, conseguir executar até o fim os planos mais audaciosos. Uma espécie de "os fins justificam os meios", a la Maquiavel, outro visível gênio inspirador de seus propósitos.

Vejo ainda o importante papel do resgate histórico, eficientemente difundido através de táticas muito boas de marketing, outra área do conhecimento do qual o Governo da Floresta tem tirado muito bom proveito nos últimos anos. Que os diga o fato nada insignificante de, nesses quase oito anos, Jorge Viana ter superado inerte ao poder do empresário Narciso Mendes, arqui-opositor político, forte representante da tradicional ala de direita do Acre e proprietário do complexo de comunicação O Rio Branco, um dos maiores do Estado.

Uma coisa parece bem clara. Aos sucessores de Jorge Viana corresponde uma missão nada fácil. A de substituir a contento um governo que imprimiu profundamente sua marca na identidade política e social acreana. Foram-se os tempo do marasmo e da falta de propostas concretas. Pondo de lado o julgamento maniqueísta de bem ou mal, pode-se afirmar com veemência que o nível da política acreana subiu alguns patamares acima em sua história recente.

Kemis Ageron Viana da Silva é aeroportuário e estudante de economia. Escreve no blog "Cronicamente inviável". Não é parente do governador.

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