quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

ÍNDIO PERDIDO

João Donato conta que costumamos falar com o Altino, via MSN Messenger, quase todos os dias. Presenteia o governador com o seu DVD “Donatural”. Jorge Viana conta que teve seu primeiro contato com a obra de João Donato quando ainda era menino.

- Meu pai me mostrou um disco em que João Donato contava, na contracapa, que começou tocando acordeon na Rádio Difusora Acreana.

- Isso nos anos 40 - completou Donato.

Saí à procura do tal disco. Encontrei o CD “A Bossa Muito Moderna de João Donato e Seu Trio”, um relançamento de gravação em LP, de 1963. Com atenção, Jorge Viana lê no encarte comentário de Donato sobre uma das suas canções mais antigas:

"Índio Perdido veio a se chamar “Lugar Comum”. Tudo era uma questão de velocidade. “A água bateu, o vento soprou, o fogo do sol, o sal do senhor...! Essa foi a primeira música que o Gil fez letra para mim. E era “Índio Perdido"! Porque essa música eu ouvi na beira do Rio Acre, quando eu estava lá. Eu devia ter uns cinco, seis anos de idade, fui sentar na beira do rio ao cair da tarde e passou uma canoa com um cara assobiando essa música. Eu segurei esse troço e fiquei com isso na cabeça. Muito tempo depois, eu pedi ao Gil para ele fazer a letra, mas a melodia é de um cara descendo a canoa na beira do Rio Acre. Eu fiquei tocado por aquela melodiazinha tão simples e tão exótica, um troço bem sertanejozinho. E pensei que fosse um índio perdido descendo na canoa, assobiando uma música, e inventei um título pra ela mas, na realidade, essa melodia não é nem minha, é do indiozinho. Mas não tem como chamar ele de volta, a canoa passou assim como passam as águas dos rios. E eu o vi só naquele dia. Aquilo me tocou profundamente, me marcou pro resto da vida, porque esse tipo de melodia ficou para mim como um modelo de como fazer uma música. Fico procurando sempre fazer música dentro desses padrões, que não são nenhuns, mas que têm uma coisa de simplicidade que já nasce com o cara. Já vem assim, uma coisa simples demais, e bonito. Fiquei emocionado. Fiquei assim... sentimental. Eu garotinho, sentindo uma coisa, uma nostalgia, coisa que criança não conhece. Não é tristeza, é um baratinho que deu, uma saudade de uma coisa que você não conhece." (I.B)

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