quinta-feira, 10 de novembro de 2005

TAJÁ BRABO


Tem razão meu amigo Tom-in Alves quando afirma em O Espírito da Coisa que, "aos poucos, a Terra vai se refazendo no tempo das águas". No quintal de minha casa, por exemplo, rebrotou o tajá, conhecido também por caládio, tinhorão, taiá, coração-de-jesus e até por tajá brabo ou Acre.

Tirei a foto e mostrei para outro amigo - o Evandro Ferreira, pesquisador do Inpa e do Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre, dono do blog Ambiente Acreano, que me deu uma aula sobre a espécie em questão, segundo ele, possivelmente, a Caladium bicolor (Aiton) Vent., descoberta em 1801.

Essa espécie é extremamente variável, especialmente suas folhas coloridas, daí o nome bicolor. É nativa da América do Sul e algumas variedades foram melhoradas provavelmente pelos indígenas. A planta é muito fácil de ser cultivada, como a maioria das Aráceas, família botânica a qual ela pertence.

Evando Ferreira afirma que o cultivo de indivíduos selvagens em residências é viável e não apresenta maiores problemas. No Acre, o tajá cresce espontaneamente, especialmente em "charcos" ou lugares sempre úmidos, onde formam uma população respeitável. Já foi coletado em Xapuri, Sena Madureira e ao longo da BR-317, em direção à Boca do Acre (AM).

O fato de possuir folhas tão vistosas fez com que o tajá ganhasse mercado no ramo de plantas ornamentais. Hoje, se pode comprar uma variedade enorme de cultivares melhoradas, o que resultou em uma nomenclatura confusa. Partindo da espécie original, temos hoje 27 variações aceitas pela ciência, entre sub-espécies, variedades e formas.

Cansado da dureza que é viver como jornalista no Acre, mas cercado de tanto tajá, estou pensando seriamente em me tornar biopirata. Num site americano constato que 10 bulbos de tajá custam U$ 45,50. Noutro, de uma empresa na Catalúnia, na Espanha, 10 bulbos custam 23 euros, sendo que o pedido mínimo deve ser de 500 euros.

- Tajá vale ouro! Como você pode ver, a planta foi modificada e acho que é possível encomendar na cor que desejar. É um negócio que rende grana forte nos paises desenvolvidos - assinala Evandro Ferreira.

Quanto ao nome vulgar, no Acre a planta é conhecida como tajá ou tajá brabo. O látex ou seiva da planta é irritante quando entra em contato com a mucosa da boca e outras partes mais sensíveis da pele.

A planta é rica em cristais de oxalato - espécie de microagulhas que se formam internamente e servem como defesa contra os predadores, que comem partes da planta, mas ficam com o trato digestivo irritado, e não voltam a fazê-lo.


- Não é apenas pelo seu feitio decorativo que o tajá é festejado na Amazônia como planta de estimação. Mais do que pela esbelteza das folhas, pela graça e elegância do corte, pela simplicidade geométrica das linhas, ele possui segredos e mistérios que só a alma cabloca entende e aprecia - afirma Rosane Volpatto, terapeuta e mestra de Reiki, que se dedica à pesquisa dos arquétipos das deusas e dos mitos e lendas brasileiras.

Existem na Amazônia muitas lendas a respeito da origem e dos poderes de certas plantas. Uma delas é do tajá, que salvou a nação macuxi, que tinha fama de covarde e preguiçosa. Os macuxi eram sempre escorraçados e dizimados por outras tribos, não se reproduziam em grande número, nem conheciam o amor em sua plenitude.

Um dia, o índio Pakalamoka foi à Mãe-do-Mato, e esta lhe ensinou como livrar os macuxis de seus males. Ao nascer da lua, Pakalamoka dirigiu se a um lago que ela indicara e, ao chegar, viu um bando de pássaros. Flechou a ave que voava mais alto e colocou em torno de onde ela caiu capim e gravetos, e fez uma fogueira. Deitou-se e dormiu. Ao acordar, viu ao redor de si e do lago tajás com folhas de vários feitios e cores deslumbrantes:

o tajá que defende a roça;
o tajá que o torna bom caçador e bom pescador;
o tajá que o faz invisível aos inimigos e maus espiritos;
o tajá que o poupa das fadigas da guerra, da caça, etc.;
o tajá que o faz vencer as disputas tradicionais da tribo;
e
o tajá que o faz amado.

Como lhe ensinara a Mãe-do-Mato, Pakalarnoka arrancou os tajás necessários ao trabalho, à saúde, à paz, aos amores e à felicidade, e levou a seu povo. A tribo tornou-se numerosa, valente; nunca mais lhe faltaram peixes nem caça; e cessaram as doenças.

8 comentários:

Anônimo disse...

Sempre achei lindas essas plantas. Descobri o nome "tajá" aqui no Acre, mas não sabia desse poder todo. Quero piratear também aqui pro meu quintal. Morri de rir com o estilo da frase do nosso cientista Evandro (sempre ótimo, aliás): "o cultivo de indivíduos selvagens em residências é viável e não apresenta maiores problemas". Alt, isso é o que se pode chamar de uma matéria ampla: tem ciência, referências, dados atuais, imagens, humor, lenda, letra de música, cenas domésticas... Que mais, que mais?

Anônimo disse...

Sim, continuando... Muitas vezes entro aqui e me impressiono com esse seu pique de buscar tanta informação pra falar de um mesmo assunto. Ou, essa sua capacidade em transformar uma planta de seu jardim em assunto de interesses tão variados. Que mente assossiativa, meu amigo!

Anônimo disse...

Sim, continuando... Muitas vezes entro aqui e me impressiono com esse seu pique de buscar tanta informação pra falar de um mesmo assunto. Ou, essa sua capacidade em transformar uma planta de seu jardim em assunto de interesses tão variados. Que mente associativa, meu amigo! (...) (Cadê meus comentários? Será que tem fantasma? Esse aqui não sei se foi, copiei correndo enquanto enviava porque vi o descalabro que escrevi: "assoSSiativa", socorro! Se foi, salve-me da galhofa pública, apague correndo.)

Anônimo disse...

meu irmão essa matéria e o bicho eu vou encontrar e plantar essa planta no meu quintal o mais rápido possivel.

Anônimo disse...

vc recebeu meu comenta rio

Anônimo disse...

Cruz, vamos negociar. O quintal aqui de casa está cheio. Na semana passada, tive que combater os tajás com uma roçadeira.

Anônimo disse...

te amo por ter colocado uma foto de tajá na internet. revirei a rede de cabeça pra baixo e a única foto é a tua. posta mais, aposto que tem mais pessoas precisando. tava procurando tamba tajá mas essa serve também.


muito obrigado.

Anônimo disse...

Boa boite Sr Altino. meu nome é sonia, sou colecionadora de caladium tenho até uma comunidade para quem gosta desta planta.
a comunidade caladium mania:: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=53970413
eu compro ou troco bulbos de caladium
estou a procura de novidades por este nosso país.
meu orkut é:
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=16613220555981172830
Obrigada pela atenção