domingo, 13 de novembro de 2005

PROTESTO SUICIDA



Morre ambientalista que ateou fogo ao corpo

Por Shislaine Vieira e Marina Miranda


Faleceu por volta das 10h30 deste domingo, na Santa Casa de Campo Grande, o presidente da Fuconams (Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul), o ambientalista Francisco Anselmo Barros. Ele estava internado no hospital, com 100% corpo queimado, após atear fogo no próprio corpo quando participava de protesto de ambientalistas, artistas e universitários no Calçadão da Barão, no centro da cidade, na manhã de sábado.

O grupo chamava a atenção contra o projeto do governo do Estado que propõe a instalação de usinas álcool na BAP (Bacia do Alto Paraguai), que faz parte do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Em meio às apresentações musicais e de artistas, Barros teria colocado dois colchonetes no chão, enrolado-os ao corpo, espalhado gasolina e ateado fogo.

Pioneirismo - A Fuconams (Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul) é uma das primeiras entidades de defesa do meio ambiente do País. Barros era articulador da criação e conselheiro da A.M.E. (Associação Mato-Grossense de Ecologia), primeira entidade ambientalista do Estado de Mato Grosso, membro fundador do Conama (Conselheiro Nacional de Meio ambiente) e do CECA (Conselho Estadual de Controle Ambiental), além de consultor na instalação da WWF Brasil, membro da Diretoria da Rede Mata Atlântica e da Rede Ambientalista Greenpeace, na campanha dos Transgênicos.

O ambientalista, que também era jornalista, ocupou ainda cargos no CMMA (Conselho Municipal de Controle Ambiental), membro da Abrajet (Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo), da ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra), diretor executivo da Editora Saber Ltda, diretor executivo da Associação de Fomento e apoio às Artes e a Cultura em Geral.

Filiado ao Fórum Brasileiro de ONGs, a Associação Brasileira de ONGs e participante da Rede Rios Vivos, Rede Pantanal, Rede Aguapé de Educação Ambiental, Rede Cerrado, Instituto Socioambiental, W.W.F., Conservation International e SOS Mata Atlântica e coordenador do Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento de Mato Grosso do Sul e de Fórum de Defesa do Pantanal.

Barros deixou cartas a parentes, amigos e à imprensa

Por Humberto Marques e Inara Silva

O ambientalista Francisco Alves de Barros, que na manhã de hoje ateou fogo ao próprio corpo – durante protesto contra a implantação de usinas na Bacia do Alto Paraguai – deixou pelo menos 15 cartas endereçadas a familiares, amigos e à imprensa. Na missiva endereçada aos veículos de comunicação, Barros faz críticas à ação do governo federal em questões como a transposição do rio São Francisco, reforma agrária, e, acerca do Pantanal, criticou duramente as propostas para a navegação no rio, implantação dos pólos siderúrgico e gás químico, além do projeto sobre a instalação de empreendimentos sucroalcooleiros na BAP (bacia do Alto Paraguai).

“Já que não temos votos para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salva-lo”, finalizou, em referência a posição dos parlamentares do Estado quanto à votação do projeto do Executivo estadual, que pretende autorizar a instalação de usinas na região. Leia, abaixo, a íntegra da carta que Francisco de Barros endereçou à imprensa:

“Meus queridos pares,

Pioneiros no Brasil na questão do meio ambiente, hoje somos passados para trás por interesses de maus políticos, maus empresários e PhD’s de aluguel. Em termos de Brasil, estamos vendo o barco afundar e ninguém diz nada.

São transgênicos entrando de contrabando pelo Sul, e o governo apoiando. São queimadas da Amazônia, e o governo impassível. Gente com terra do tamanho de um Estado, e a gente sem terra. É transposição do rio São Francisco, no lugar de revitalização.

No Pantanal, querem fazer do rio Paraguai um canal de navegação com portos para grandes embarcações e grandes comboios. É pólo siderúrgico, é pólo gás-químico. Agora, querem fazer usinas de álcool na Bacia do Alto Paraguai. Um terço dos deputados estaduais são a favor. Um terço contra. E um terço sem saber o que é. Já que não temos votos para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salva-lo”.

As cartas foram deixadas em uma pasta, entregue pelo ambientalista a Jorge Gonda – que estava no ato. Segundo o boletim de ocorrência lavrado no 1º DP pelo próprio Gonda e por Douglas Ramos (da Fundação para Conservação da Natureza de MS, a Fuconams, criada por Barros), a vítima deixou a pasta alegando que já retornaria para pega-la. Editor da revista Executivo Plus, Barros sofreu queimaduras em todo o corpo, e está internado na UTI da Santa Casa de Campo Grande. Seu estado é considerado gravíssimo

Fonte: Campo Grande News

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou muito triste com essa estória. Paz à sua alma.

Anônimo disse...

Põe mais essa na conta do governo Lulla e da companheira Marina!