sexta-feira, 21 de outubro de 2005

GERALDO "MENSALINHO" JR.


Senador do P-Sol adota o ''dízimo''

Geraldo Mesquita Júnior recolhe todo mês 40% dos salários dos servidores lotados no seu gabinete de Brasília

Hugo Marques e Sérgio Pardellas

BRASÍLIA - O senador Geraldo Mesquita Júnior (P-Sol-AC) recolhe 40% dos salários de servidores lotados em seu gabinete no Senado. O mensalinho de Geraldinho - como o senador é chamado - é confirmado em três conversas telefônicas entre a chefe do escritório do senador no município de Sena Madureira, a assistente parlamentar Maria das Dores Siqueira da Silva - conhecida como Dóris - e o ex-assistente parlamentar Paulo dos Santos Freire. Geraldinho admitiu ontem a existência de acordo ilegal com os servidores.

Paulo foi demitido por Geraldinho em janeiro, por reclamar do confisco mensal. Foi o próprio Paulo quem decidiu, no último sábado, gravar as conversas com Dóris. Em janeiro do ano passado, Geraldinho contratou o rapaz que ganhava em torno de R$% 1 mil mensais líquidos, na condição de entregar todo mês R$ 410,00 ao senador. Em média, Paulo diz que ficava só com R$ 600 mensais.

Dóris afirma nas gravações que continua até hoje tendo confiscos mensais em seu salário, com os quais quita as despesas do escritório. Depois que Paulo foi demitido do gabinete, Dóris teve pequeno aumento de salário e continuou pagando as despesas mensais como telefone, água, luz e aluguel, mais de R$ 1 mil mensais, que representam em torno de 40% de seu salário líquido.

Desempregado e vivendo de bicos com a mulher e a filha menor, dizendo ''passar necessidades'', Paulo decidiu implodir o ''acordo'' informal com o senador.

Na primeira conversa com Dóris, no sábado, Paulo reclama que está desempregado e pede a ela que ajude a fazer contato com o senador para receber os R$ 5 mil confiscados ao longo de um ano de trabalho.

''Eu tô passando até fome'' - suplica Paulo à colega.

Dóris mostra total conhecimento do esquema do mensalinho e promete receber Paulo na segunda-feira.

''Tenho que conversar com o senador. Tenho que levar esse problema para ele'', diz Dóris. Paulo reclama dos R$ 410, a quantia que tinha de entregar todo mês.

- Você tem que ter cuidado. É que você fez um acordo, né? Eu te aconselho de a gente ver isso de uma outra maneira melhor, porque se você for cobrar isso do senador, eu acho que o resultado não vai ser bom - afirma Dóris.

A assistente parlamentar reclama com Paulo que, com a saída dele, agora ela assume as dívidas sozinha. ''Tu ainda continua daquele mesmo jeito ainda, tirando do teu salário para pagar as coisas?'', pergunta Paulo. ''É, daquele mesmo jeito'', lamenta Dóris.

A segunda conversa, gravada na última segunda-feira, é ainda mais esclarecedora. Paulo liga para cobrar a reunião com o senador e Dóris o acusa de fazer chantagem. Dóris lembra que ele fez um acordo com o senador. Paulo sugere que Dóris não quer entrar em contato com Geraldinho por ser ela a autora do acordo. Ela fica irritada.

- Então tu liga para o senador, porque eu não sou nenhuma irresponsável nem mentirosa. Se eu fiz daquele jeito, foi porque o senador mandou - responde Dóris.

Aparentando irritação, Dóris reproduz até as frases que Geraldinho pronunciou antes de autorizar o fechamento do acordo com Paulo. Afirma que Geraldinho, antes de fechar o acordo, perguntou se ela confiava e ''botava a mão no fogo'' pelo novo auxiliar. Dóris afirma que conversou com ''Neto'', primo de Geraldinho, sobre o acordo.

- O senador sabia sim desse acordo e quem mandava a prestação de contas era você - responde Dóris.

De fato, era Paulo quem controlava o computador do escritório de Geraldinho e fazia toda a planilha de custos. Era no Excell que o rapaz descontava todo mês cerca de 40% de seus vencimentos. Dóris fica ainda mais irritada quando Paulo faz referência à ''sujeira e corrupção'' no escritório do senador. Nesse momento, Dóris admite que a cobrança atinge todos os servidores.

- Você aceitou porque você quis. Você não foi obrigado a aceitar esse acordo não. E todo mundo fazia esse tipo de acordo. Todo mundo. Aquilo não era um contrato. Você sabia disso. Aquilo era um cargo. E cargo se negocia - responde Dóris.

A chefe do escritório é ainda mais cristalina sobre o valor do mensalinho. É quando Paulo responde que não está fazendo chantagem e que só está reivindicando seu direito de receber o salário.

- Você entrou aqui com o direito de ganhar R$ 600 reais por mês. Isso aí você ganhou todo mês. Eu é que fui burra em confiar em ti. Eu fui burra, idiota - diz Dóris.

Geraldinho encarregou a funcionária Norma Sueli Ferreira Araújo de cobrar o mensalinho, conforme revela Dóris. Irmã do cunhado do senador, Norma foi uma das demitidas de abril e auxilia Geraldinho no Acre. A gravação mostra que o senador, no entanto, chegou a cobrar a quantia diretamente de Dóris.
''Você sabe que o senador por várias vezes me cobrou: 'Dóris, e o dinheiro do mês passado?' - diz Dóris a Paulo, em um dos trechos da gravação.''

Mesquita confirma acordo

Benefícios de cada senador

Os diálogo entre os assessores

Fonte: Jornal do Brasil

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Altino,

"Lá vem o Brasil descendo a ladeira"
(Pepeu Gomes e Moraes Moreira)

A situação em que se envolveu o "Geraldinho", como é conhecido carinhosamente por quem confia nele, é no mínimo interessante.

Pense comigo. O Exmo. senhor senador saiu do PT e migrou para o P-Sol para "fugir da bandalheira", como ele mesmo definiu em uma entrevista dada a um canal de TV local. Que me perdoe o trocadilho. Mas, esse fato só comprova que a bandalheira se debandanou do Partido dos Trabalhadores para o Partido Socialismo e Liberdade.

Outro fato que muito me chama a atenção [e só me faz aumentar minha admiração por esta mulher] é que quem pediu uma acareação dos fatos foi a presidente do P-Sol, Heloísa Helena -- colega de bancada de Mesquita.

Acho que senador Geraldo Mesquita poderia aproveitar a riqueza de nossa floresta e começar a tomar banho de ervas amazônicas, ou qume sabe contratar um pai-de-santo para dar uns passes nele, porque as coisas estão feias e vão piorar.

Só espero que essa investigação não termine em pizza, tacacá ou sei lá em que tipo de bagunça gastronômica.

É isso.

Thiago Ermano - Jornalista